Papa Francisco: homens casados poderiam ser ordenados padres se os bispos do mundo concordassem

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14 Abril 2014

"Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu, falou com o papa sobre a próxima encíclica papal a respeito do meio ambiente e do tratamento para com os indígenas, mas a escassez de padres na imensa diocese do religioso veio à tona. Segundo uma entrevista dada por ele ao jornal Salzburger Nachrichten em 05-04-2014, Francisco se mostrou aberto a encontrar soluções para o problema, dizendo que as conferências episcopais poderiam ter um papel decisivo."

A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, em matéria publicada pela revista The Tablet. A tradução é de Isaque Gomes Correa, 10-04-2014.

Um bispo que se encontrou com o Papa Francisco numa rara audiência privada no dia 4 de abril disse, numa entrevista, que os dois discutiram a questão da ordenação de homens casados provados – “viri probati” – de forma séria e positiva.

Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu, falou com o papa sobre a próxima encíclica papal a respeito do meio ambiente e do tratamento para com os indígenas, mas a escassez de padres na imensa diocese do religioso veio à tona. Segundo uma entrevista dada por ele ao jornal Salzburger Nachrichten em 05-04-2014, Francisco se mostrou aberto a encontrar soluções para o problema, dizendo que as conferências episcopais poderiam ter um papel decisivo.

“Eu disse a ele que, como bispo da maior diocese do Brasil, com 800 comunidades e 700 mil fiéis, eu tinha apenas 27 padres, o que significa que nossas comunidades podem apenas celebrar a eucaristia duas ou três vezes por ano na melhor das hipóteses”, declarou Dom Erwin. “O papa explicou que não poderia ter o conhecimento de tudo a partir de Roma. Nós, bispos locais, que estamos familiarizados com as necessidades de nossos fiéis, devemos ser corajosos e dar sugestões concretas”, explicou. Os bispos não deveriam agir sozinhos, disse o papa a Dom Erwin. O pontífice indicou que as conferências “regionais e nacionais” deveriam buscar e encontrar um consenso sobre a reforma neste sentido, e que deveríamos apresentar nossas sugestões a Roma”, acrescentou o religioso.

Perguntado se fora levantada a questão da ordenação de homens casados durante a audiência, Dom Erwin respondeu: “A ordenação de ‘viri probati’, ou seja, de homens casados provados que poderiam ser ordenados ao sacerdócio, veio à tona quando estávamos discutindo a situação de nossas comunidades. O próprio papa me falou sobre uma diocese no México em que cada comunidade tinha um diácono, mas muitas não possuíam um padre. Havia 300 diáconos lá que, naturalmente, não poderiam celebrar a Eucaristia. A questão era de como as coisas continuariam sendo numa situação como esta.

“Ficou para os bispos darem sugestões, o papa disse novamente”.

Em seguida, perguntou-se a Dom Erwin se as reformas da Igreja passariam ou não hoje, se isso dependesse das conferências episcopais. “Sim”, respondeu. “Depois da conversa que tive com o papa, estou absolutamente convencido disso”.

No último mês de setembro o secretário de Estado, então arcebispo Pietro Parolin – que na ocasião era o Núncio Apostólico para a Venezuela –, respondeu a uma pergunta a ele apresentada pelo jornal El Universal, afirmando que o celibato sacerdotal “não faz parte dos dogmas da Igreja e que a questão está aberta à discussão porque se trata de uma tradição eclesiástica”. “Alterações podem ser feitas, mas estas devem sempre favorecer a unidade e a vontade divina”, falou. “Deus nos fala de muitas maneiras diferentes. Precisamos prestar atenção nesta voz que nos aponta para as causas e soluções, por exemplo a escassez do clero”.

Em 2006 o cardeal brasileiro Claudio Hummes publicou um esclarecimento no “Bollettino” da Santa Sé, em que reiterava seu apoio ao ensino e à tradição da Igreja poucas horas depois de dizer a um jornal: “O celibato é uma disciplina, não um dogma da Igreja (...). Com certeza a maioria dos apóstolos eram casados. Nesta idade moderna em que vivemos, a Igreja deve observar estas coisas, ela precisa avançar com a história”.

O assunto da ordenação “viri probati” foi trazido com um ponto de interrogação sobre ele num discurso feito pelo cardeal Angelo Scola, de Veneza, no Sínodo sobre a Eucaristia, em outubro de 2005, o primeiro sínodo do Papa Bento XVI.

“Para enfrentar o problema da escassez de padres, alguns (...) apresentaram o pedido para ordenar fiéis casados de fé e virtude provada, os assim chamados ‘viri probati’”, disse ele. O cardeal Scola, que leu este discurso em latim na presença do Papa Bento, não disse quais bispos de quais países sugeriram discutir a ordenação de “homens” mais velhos casados.

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