A Igreja Católica e o casamento gay. Artigo de Timothy Radcliffe

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12 Março 2012

Está certo dizer que as Igrejas não têm um direito exclusivo para determinar quem pode se casar – mas o Estado também não, porque não podemos decidir simplesmente por algum ato mental ou legal o que significa ser um ser humano.

Essa é a opinião de Timothy Radcliffe, teólogo e frei dominicano e ex-Mestre Geral da Ordem Dominicana, em artigo publicado no blog da revista inglesa The Tablet, 02-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o artigo.

A Igreja Católica não se opõe ao casamento gay. Ela considera que ele é impossível. Se fosse possível, então teríamos que apoiá-lo, já que a Igreja diz que devemos nos opor a toda discriminação com base na orientação sexual.

A questão não são os direitos gays, mas sim uma maravilhosa verdade da nossa humanidade que é a que somos animais: animais racionais, de acordo com os medievais, animais espirituais abertos para compartilhar a vida de Deus. Nos sacramentos, os dramas fundamentais da nossa vida corporal são abençoados e se tornam abertos à graça de Deus: nascimento e morte, comer e beber, sexo e doença. São Tomás de Aquino diz que a graça aperfeiçoa a natureza e não a destrói.

O casamento se baseia no glorioso fato da diferença sexual e da sua potencial fertilidade. Sem isso, não haveria vida neste planeta, nenhuma evolução, nenhum ser humano, nenhum futuro. O casamento é uma instituição plástica e assume todos os tipos de formas, desde a aliança de clãs por meio da troca de noivas até o moderno amor romântico. Nós viemos para ver o que isso implica o amor e igual dignidade do homem e da mulher.

Mas sempre e em todo lugar ela permanece fundamentado na união na diferença entre homem e mulher. Mediante as cerimônias e o sacramento, lhe é dado um significado mais profundo que, para os cristãos, inclui a união de Deus e da humanidade em Cristo.

Isso não significa denegrir o amor comprometido das pessoas do mesmo sexo. Ele também deveria ser apreciado e apoiado, razão pela qual as lideranças da Igreja começam lentamente a apoiar as uniões civis do mesmo sexo. O Deus de amor pode estar presente em todo amor verdadeiro. Mas o "casamento gay" é impossível, porque ele tenta livrar o casamento de sua base em nossa vida biológica. Se fizermos isso, negamos nossa humanidade. Seria como tentar fazer um suflê de queijo sem queijo, ou vinho sem uvas.

Desde o início, o cristianismo se levantou em defesa da beleza e da dignidade da nossa vida corporal, abençoada pelo nosso Deus que se fez carne e sangue como nós. Isso sempre pareceu um pouco escandaloso para as pessoas "espirituais", que pensam que devemos escapar das realidades sujas dos corpos. E, assim, a Igreja teve que se opor ao gnosticismo no século II, ao maniqueísmo no século IV, ao catarismo no século XIII. Todos estes ou desprezavam o corpo ou o consideravam sem importância.

Nós, também, influenciados como somos pelo cartesianismo, tendemos a pensar em nós mesmos como mentes presas em corpos, fantasmas em máquinas. Um amigo me disse outro dia: "Eu sou uma alma, mas eu tenho um corpo". Mas a tradição católica sempre insistiu na unidade fundamental da pessoa humana. Aquino disse a famosa frase: "Eu não sou a minha alma".

Lynne Featherstone, ministro [britânico] da Igualdade, está certo ao dizer que as Igrejas não têm um direito exclusivo para determinar quem pode se casar – mas o Estado também não, porque não podemos decidir simplesmente por algum ato mental ou legal o que significa ser um ser humano.

A nossa civilização irá florescer apenas se reconhecer o dom da nossa existência corporal, que inclui a incrível criatividade da diferença sexual, elevada a amor. Dar reconhecimento formal a isso mediante a instituição do casamento de forma alguma significa menosprezar as bênçãos trazidas a nós pelas pessoas gays.

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