07 Agosto 2025
Nos últimos dias, fui desligado de forma repentina do colégio onde lecionava Ensino Religioso. Foi um momento de muita emoção e, para ser sincero, de certa dor, pois as coisas aconteceram de forma tão rápida que não tive a chance de me despedir como eu gostaria. No entanto, decidi compartilhar essa carta publicamente. Este texto é o que a escola não me permitiu dizer, e minha maior esperança é que, de alguma forma, as palavras que escrevi encontrem o caminho até meus estudantes, mesmo que eu não tenha certeza se isso vai algum dia acontecer. Mais do que uma despedida, é uma mensagem sobre o amor, o respeito e a aceitação que Deus nos ensina a ter uns pelos outros. É a minha forma de continuar a semear o bem, mesmo fora da sala de aula.
A carta é de João Melo, publicada por Blog Ignatiana, 04-08-2025, e enviado pelo autor ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
João Melo é professor, escritor e paulistano. Descendente de retirantes da seca de 1915, no Ceará e Piauí; e de apanhadoras de flores sempre-vivas da Serra Negra, em Itamarandiba (MG). É licenciado em Filosofia, bacharel em Teologia, mestrando em Educação na UERJ.
Olá, crianças!
Eu queria muito ter contado pessoalmente, mas as coisas aconteceram tão rápido que nem consegui me despedir… Então resolvi escrever essa carta para vocês.
Alguns de vocês estavam empolgados para aprender sobre a história da rainha Ester, e eu tinha prometido usar uma roleta divertida para sortear os grupos do trabalho avaliativo, lembram? Fico triste por não estar mais com vocês na escola para cumprir essas promessas. De verdade…
Eu quero contar uma coisa sobre mim que talvez vocês nem imaginassem, porque por muito tempo eu precisei manter isso em segredo, com medo de perder meu trabalho. Mas agora eu posso dizer com o coração tranquilo: Eu sou um professor que tem um companheiro muito especial chamado Franklim. Nós nos amamos muito e formamos uma família feliz. Mas infelizmente, ainda existem pessoas que acham que amar alguém do mesmo jeito que a gente se ama é errado… e isso me deixa muito triste.
Além de dar aula, eu também escrevo textos religiosos para ajudar os adultos a entenderem que o preconceito não faz bem a ninguém, e que Deus quer que a gente ame uns aos outros com respeito, acolhida e cuidado. Nem todo mundo concorda com isso, até mesmo dentro da Igreja… e algumas pessoas ficaram bravas comigo por escrever essas coisas. Mas eu sigo acreditando no que Jesus ensinou: amar o próximo como a si mesmo.
Logo depois, o colégio decidiu que eu não continuaria mais dando aula, e com isso eu acabei sendo demitido. Foi um susto para mim, e fiquei muito triste por não poder me despedir de vocês.
Mas eu levo comigo muitas lembranças bonitas! Nós rezamos juntos pela saúde do Papa Francisco, e vibramos com a eleição do Papa Leão XIV, lembram? E tem uma coisa muito linda que aconteceu: o Papa escreveu uma carta para mim e para o Franklim, nos dando uma bênção especial. Isso nos encheu de alegria e esperança!
Vou sentir muitas saudades de cada um de vocês. Guardem no coração tudo o que vivemos juntos e nunca sejam preconceituosos com ninguém. Toda pessoa é importante, e toda família merece ser respeitada e acolhida.
Se comportem bem com o novo professor, tá bom? Ele também vai cuidar de vocês com carinho. E lembrem-se: mesmo longe, eu torço por vocês, sempre.
Com muito afeto e esperança,
Seu professor que ama ensinar e que ama vocês!
João Melo