No Cazaquistão, o papa pede para sair da lógica dos "blocos"

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16 Setembro 2022

 

Francisco encorajou as autoridades cazaques a avançar no caminho da democracia, evocando a violenta repressão dos tumultos de janeiro.

 

A reportagem é de Cécile Chambraud, publicada por Le Monde, 15-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini

 

O Papa Francisco chegou ao Cazaquistão na terça-feira, 13 de setembro, para uma visita de três dias a uma "terra tão vasta quanto antiga", segundo suas palavras. De fato, Astana, capital desde 1997, rebatizada Nur Sultan em 2019, em homenagem a Nazarbaiev, que liderou o país por vinte e oito anos, independente desde 1991, oferece aos visitantes os mil reflexos de seus recentes edifícios de prestígio.

 

Situados no meio da estepe, demonstram a opulência derivada dos lucros das matérias-primas desse imenso país, principalmente os hidrocarbonetos.

 

O chefe da Igreja Católica, em cadeira de rodas, foi recebido pelo presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokaiev, na monumental sala de gala do palácio presidencial, com suas trinta e colunas de falso mármore e iluminada por três gigantescos lustres de cristal. Uma orquestra militar com coral entoa hinos nacionais poderosos. O pontífice argentino dirigiu-se então às autoridades políticas e diplomáticas reunidas na Kazakistan Central Concert Hall.

 

O Papa Francisco prestou homenagem ao “laboratório multiétnico, multicultural e multirreligioso único” do Cazaquistão e não deixou de recordar “os campos de prisioneiros e deportações em massa que viram a opressão de tantas populações nas cidades e estepes sem fim dessas regiões”.

 

Depois, nessa "intersecção de importantes questões geopolíticas", lançou um forte apelo para sair da lógica dos "blocos" enquanto prossegue "a louca e trágica guerra causada pela invasão da Ucrânia". Mais uma vez, a esse respeito, o papa evitou pronunciar a palavra "Rússia".

 

“O senhor chega em um momento crítico da história da humanidade, havia lhe dito o presidente Tokaiev no preâmbulo, cujo país está tentando encontrar seu lugar entre a Rússia, a China e o sul da Ásia. A família das nações está à beira de um abismo no momento em que as tensões geopolíticas se acentuam, em que a economia global sofre, em que a proliferação da intolerância religiosa e étnica se torna a regra”.

 

Enquanto no campo o exército ucraniano lança uma contraofensiva, o papa expressou a esperança de que os governos dos países envolvidos possam criar um "novo espírito de Helsinque", referindo-se à capital finlandesa onde, em 1975, durante a Guerra Fria, os países Ocidentais e do Bloco Oriental acordaram uma declaração no âmbito da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa.

 

Entre os princípios que os signatários se empenhavam a respeitar figuravam a soberania e a integridade do território dos Estados, a inviolabilidade de suas fronteiras, a solução pacífica das controvérsias e o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais.

 

Para o papa, esse objetivo só pode ser alcançado sob a condição "de ampliar o empenho diplomático em favor do diálogo (...) porque o problema de um é hoje o problema de todos, e aquele que detém mais poder no mundo tem mais responsabilidade para com os outros”.

 

"É hora de evitar acentuar as rivalidades e fortalecer os blocos opostos", acrescentou o Papa Francisco, insistindo que é preciso "compreensão, paciência e diálogo com todos, repito, com todos", uma alusão mal disfarçada à Rússia de Vladimir Putin. O Papa Francisco, por outro lado, encorajou as autoridades cazaques com bastante firmeza a avançar no caminho da democracia, “o caminho mais adequado para que o poder se traduza em serviço a todo o povo e não apenas a alguns”. Desde 1991, o país é governado de maneira autoritária, primeiro por Nursultan Nazarbaiev, depois por seu sucessor. Francisco elogiou as recentes reformas institucionais, falando daquele “processo meritório e exigente, certamente longo, que precisa perseverar em direção ao objetivo sem retroceder” e que “as promessas” não devem ser “exploradas”, mas “efetivamente implementadas”.

 

Ele também pediu uma maior amplitude de expressão e ação para "a sociedade civil e para as organizações não governamentais e humanitárias", incluindo os movimentos católicos, e uma luta enérgica contra a corrupção. "Este estilo político realmente democrático é a resposta mais eficaz a quaisquer extremismos, personalismos e populismos que ameacem a estabilidade e o bem-estar dos povos" afirmou.

 

Ele também fez referência direta às manifestações contra o aumento do preço da energia que, em janeiro, geraram tumultos em várias cidades do país. Pressionado, o presidente Tokaiev chamou a Rússia para ajudar, e aqueles movimentos, sem dúvida usados por facções políticas, foram violentamente reprimidos, somando mais de 200 mortos entre os manifestantes. "Cabe ao Estado (...) tratar todos os componentes da população com justiça e igualdade de direitos e deveres", lembrou o pontífice. Por fim, o Papa Francisco defendeu a liberdade de religião e um “laicismo saudável”, “condição essencial para o tratamento justo de cada cidadão”.

 

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