30 Agosto 2019
É necessário atenção para não homogeneizar diversas correntes e grupos em “o evangélico”.
O artigo é de Wesley Teixeira, integrante do coletivo Voz da Baixada, membro da Igreja Evangélica Projeto Além do Nosso Olhar, publicado por CartaCapital, 29-08-2019.
Os “evangélicos” é um termo abstrato que abrange um grupo composto por diversos segmentos os quais, brevemente, pretendo caracterizá-los.
Os primeiros cristãos eram seguidores de um homem que provavelmente seria considerado negro, nascido em uma família pobre, que viveu no emblocamento entre o continente asiático e africano, que questionou o sistema religioso de sua época, que incomodou o Império Romano com suas palavras denunciando o controle militar da sua região. Este homem chamado Jesus, foi reconhecido como o filho de Deus, é Deus Encarnado e seus seguidores desejavam viver de acordo com suas palavras, transmitidas ainda em vida, antes de sua tortura e assassinato, sua ressurreição e da subida aos céus. Seus seguidores formaram a primeira comunidade, chamada igreja primitiva.
O primeiro marco de transformação dessa tradição é quando após essa geração um grupo pequeno e brutalmente perseguidos passa a ser a religião dominante, absorvida pelo Imperador Constantino e colocando suas bases teológicas como uma leitura oficial comum, isso dá origem ao Catolicismo.
Martinho Lutero, precursor da Reforma Protestante.
Os evangélicos são posteriores ao catolicismo e poderia ser divididos em dois grandes grupos, o primeiro grupo de evangélicos seriam “Os Históricos”, isto é, que reivindicam as lideranças que buscavam reformas e protestavam contra a Igreja Católica Apostólica Romana no século XVI.
Alguns desses protestantes como: Lutero, Calvino, os Anabatistas e as Igrejas da Inglaterra, deram surgimento a igreja luterana, igreja presbiteriana, igreja batista e a igreja anglicana, respectivamente. Uma diferença central dos evangélicos como um todo, é que não temos uma liderança única ou organização centralizada, como a Igreja católica.
É importante destacar que o contexto de construção da matriz religiosa protestante era junto com surgimento do capitalismo, ambos recém chegados ao continente americano, que apesar de um período de perseguição, conseguiram espalhar suas ideias. Assim, na América do Norte, o protestantismo tornou-se a principal religião da época enquanto que no Brasil, a religião oficial era a igreja católica. Somente a partir do Brasil Império (1822-1889), os evangélicos chegaram aqui, mas sem liberdade de culto.
O segundo grupo de evangélicos são “Os Pentecostais”, do qual faço parte. Este é um grupo que ficou conhecido através de afro-americano(a)s após o acontecimento na rua Azussa, nos E.U.A de manifestações sobrenaturais do Espírito Santo, através de movimentos gestuais e do “falar em línguas”. Esse fenômeno também aconteceu simultaneamente em outros lugares do mundo. Chegou ao Brasil, na Região Norte, através de missionários suecos cujos cultos ocorriam, inicialmente, em lares e, posteriormente, fundou-se a Primeira Igreja Assembleia de Deus e do Brasil, em Belém-PA.
Após, vieram para o Rio de Janeiro, na região de São Cristóvão que, devido ao processo de expulsão dos pobres para lugares cada vez mais distante do centro, foram para a região atualmente conhecida como Madureira. Esse grupo põe em ênfase a infalibilidade da Bíblia e da intervenção de Deus na vida cotidiana. Também busca por dons espirituais através da oração, jejum, separação do “mundo”(cultura), formas de santificação e ir para o céu.
Você leitor, provavelmente deve ter uma visão bem crítica aos evangélicos, principalmente devido a sua atuação na política brasileira que, abertamente, tem sido vergonhosa e ataca diretamente os direitos de diversos grupos sociais.
No entanto, essa participação é recente e tem ocorrido através do crescimento de um segmento evangélico da teologia da prosperidade e dos coronéis da fé que alia a fé como forma de conquistar bens ( casa, carro etc). É importante destacar que mudanças teológicas estão rolando em todos os segmentos como católicos e evangélicos, exemplificada com a renovação carismática na igreja católica ou os neopentecostais nas evangélicas.
Também é verdade que no Brasil temos um cristianismo que veio de forma colonizadora com objetivo de massacrar às culturas afro e indígenas, infelizmente, continuam atacando até hoje.
Mas posso falar desse processo em outro texto, pois existe diferenças e não podemos generalizar os evangélicos. Agora quero mostrar os pontos positivos desses grupos, sim, sua contribuição. Pois se não houverem pontos positivos, não existe nada em comum e sem isso não existe diálogo.
Sua origem refere-se a saída da Idade Média e início da construção do mundo Contemporâneo, dos fins dos sistemas absolutistas monárquicos e instalação do liberalismo, os protestantes formaram o primeiro grupo cristão a defender o estado laico, a separação entre igreja e estado e ao livre exame das escrituras, tendo em vista a autonomia maior dos leigos em relação ao clero que combatia a lógica da venda de “indulgência”, ou seja, uma comercialização da salvação e uso econômico da fé.
Rosa Parks entrou para a história do movimento de direitos civis dos Estados Unidos.
Também foram os primeiros a defender a ideia de popularização do acesso à educação básica, além da criação de diversas universidades. Poderia aqui citar alguns nomes e histórias sobre os temas citados acima, de líderes europeus, mas quero ressaltar uma liderança negra, pois somos sempre invisibilizados, inclusive dentro do meio protestante. Enfatizo, então, a luta dos irmãos como Martin Luther King e Rosa Parks, que foram fundamentais nos E.U.A para luta dos direitos civis da população negra, agindo a partir da sua fé.
Segundo os dados, os evangélicos pentecostais constituem o segmento religioso mais negro no Brasil. Para exemplificar melhor, basta ir nas favelas participar de um culto e perceber, ali na igreja foi onde muita gente se viu valorizada como pessoa humana, como igual, como “irmão”, ali um porteiro, pintor, pedreiro ou uma doméstica, pode se expressar e falar, ali existe uma rede de solidariedade nas campanhas de arrecadação de alimentos para quem faz parte daquela comunidade e tem necessidade. Ali encontram-se aqueles que encontraram na igreja uma porta de saída do crime ou de reinserção social após a saída da prisão.
São muitos relatos de pessoas analfabetas que aprenderam a ler fazendo a leitura bíblica. Apesar de uma lógica de privação e controle nas orientações sobre sexualidade e uso de drogas, estas questões davam base para algum planejamento familiar.
Esse é um segmento alegre e com ritmos bem mais animados e os cultos, geralmente, são marcados por maior movimento corporal. Esses são alguns elementos, de certa forma, inconscientes, pois se você perguntar à um pentecostal, como eu, vai ouvir: Jesus mudou minha vida, me transformou. Os aspectos citados acima me fazem ver motivos para a escolha dos pobres, negros e periféricos pelo pentecostalismo.
Finalizo dizendo que o texto bíblico apresenta diversos textos que estão ao lado dos oprimidos e contra opressores e em defesa da justiça social indico aqui alguns poucos: Êxodo 3.7 , Êxodo 20.3-4(a) Êxodo 23.6-9, Salmos 72.12-14, Proverbios 14.31 ,Isaías 1.16-17, Isaías 61.1, Jeremías 5.26-28 Mateus 25.35-40, Atos 2.44-46, Atos 10.34-35, Tiago 1.27, Tiago 2, Tiago 5.4-6.a
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O lado pouco visto pela luta dos direitos humanos pelos evangélicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU