04 Fevereiro 2019
Excluir certos grupos é uma expressão de preconceito e leva a discriminá-los, diz o bispo Franz-Josef Overbeck.
A reportagem é de A. C. Bahn, publicada por La Croix International, 04-02-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um bispo católico da Alemanha que já adotou uma posição linha-dura contra os homossexuais ativos pediu uma reavaliação abrangente do magistério da Igreja sobre a sexualidade, dizendo que isso causou especialmente “sofrimento” e “repressão psicologicamente insalubre” entre as pessoas gays.
“A questão é os princípios específicos (einzelne Inhalte) da teologia católica do corpo possivelmente levaram a uma tabuização catastrófica do fenômeno da sexualidade humana”, afirmou Dom Franz-Josef Overbeck, bispo de Essen.
“Isso se aplica particularmente à homossexualidade, porque – de acordo com essa suposição – tal visão negativa da Igreja (como expressada no magistério da Igreja) promoveu e encorajou uma repressão, ou até negação, psicológica e institucionalmente insalubre dessa expressão da sexualidade”, disse o bispo de 54 anos.
Dom Overbeck, que também é chefe da Arquidiocese Militar Alemã e vice-presidente da Comece (Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia), detalhou cuidadosamente seus pontos de vista na edição de fevereiro de 2019 da prestigiada revista teológica alemã Herder Korrespondenz.
“Uma coisa é certa: cada ser humano pode entrar de forma respeitosa e amorosa em relações interpessoais. Excluir certos grupos, portanto, é a expressão de um preconceito que é difícil de suportar para aqueles que são excluídos e, em última instância, leva a descriminá-los ou até a criminalizá-los”, escreveu ele em um artigo intitulado "Superando preconceitos: a Igreja Católica deve mudar sua visão sobre a homossexualidade”.
Overbeck, que foi ordenado sacerdote em 1989 em Roma pelo então cardeal Joseph Ratzinger e tornado bispo por Bento XVI em 2007, nem sempre questionou o ensinamento da Igreja sobre a homossexualidade. Em 2010, ele estava convencido de que “expressar a homossexualidade” era um pecado mortal.
Em seu artigo, ele reconhece a sua própria mudança de pensamento.
“Nos últimos anos, as muitas conversas que eu tive com pessoas gays me tocaram profundamente, me deram muito alimento para pensar e ampliaram a minha perspectiva sobre a questão da homossexualidade”, disse.
“Já é hora de a Igreja conduzir o debate sobre a percepção e a avaliação da homossexualidade de tal maneira que as cicatrizes mal curadas das feridas do passado não sejam novamente abertas”, afirmou.
“Ao discutir a homossexualidade, devemos sempre recordar as palavras confiantes da constituição pastoral sobre a Igreja no mundo moderno, Gaudium et spes (GS 36)”, escreveu.
O documento do Vaticano II diz: “Quem se esforça com humildade e constância por perscrutar os segredos da natureza é, mesmo quando disso não tem consciência, como que conduzido pela mão de Deus, o qual sustenta as coisas e as faz ser o que são”.
Dom Overbeck disse que não há, neste momento, quase nenhuma outra questão capaz de provocar tantas emoções na Igreja Católica quanto a avaliação da homossexualidade. Portanto, é crucial e urgente que a Igreja enfrente essa questão mais profundamente, disse.
Ele também rejeitou as alegações de que a presença de homossexuais no sacerdócio foi a causa do escândalo dos abusos sexuais na Igreja.
“Nem uma orientação heterossexual nem homossexual pode ou deve ser vista como causa de abuso sexual. E, como os especialistas nos asseguram, tampouco existe uma conexão íntima entre a pedofilia e a homossexualidade”, disse o bispo.
Ele acrescentou que é “totalmente absurdo” pensar que o abuso sexual do clero será resolvido permitindo que apenas homens heterossexuais sejam padres.
“Essa afirmação, de fato, não continuaria e fortaleceria exatamente aquela atitude que levou a repressões problemáticas internas à Igreja – e, além disso, alimentaria a perigosa ilusão de que uma receita evidente foi encontrada para a solução de um problema tão complexo quanto o abuso sexual?”, perguntou.
Dom Overbeck, que é sobrevivente de um câncer, disse que a Igreja não pode evitar discutir as experiências das pessoas com a sexualidade e com as ciências humanas que se preocupam com isso.
Ele advertiu que isso marginalizaria o ensino moral católico. Em vez disso, ele disse que o diálogo sobre as intuições exegéticas e teológico-morais que foram alcançadas nas últimas décadas deve estar aberto para permitir o progresso.
“Essa é a única maneira pela qual a tradição permanecerá como um processo vivo desde o início do cristianismo”, disse.
O bispo também pediu um reexame das percepções culturais condicionadas pela época e específicas do tempo da Bíblia sobre a moral sexual e a homossexualidade.
“É aqui que se pede a ‘arte do discernimento’, com a qual podemos descobrir aquilo que, fora da complexidade bíblica e da tradição da Igreja, deve ser aplicado ao dia de hoje e de que modo isso deve ser aplicado.”
Enquanto isso, a Arquidiocese de Paderborn deixou claro que homens com orientação homossexual não estão excluídos do sacerdócio católico.
“Os candidatos homossexuais ao sacerdócio serão aceitos desde que cumpram a regra do celibato”, disse o Pe. Michael Menke-Peitzmeyer, reitor do seminário arquidiocesano.
“Precisamos distinguir entre a orientação homossexual de uma pessoa e a prática homossexual”, disse o padre de 54 anos ao canal de TV alemão WDR no dia 28 de janeiro.
O Pe. Menke-Peitzmeyer, que é diretor do Seminário de Paderborn desde 2013, disse que a orientação sexual e as práticas pessoais são discutidas abertamente com os futuros seminaristas.
No entanto, o presidente da Conferência de Reitores Alemães sugeriu que o Vaticano turvou as águas com a sua instrução de 2005 sobre a adequação de candidatos gays ao sacerdócio.
A exigência da Congregação para a Educação Católica de que “homens com tendências homossexuais arraigadas” sejam excluídos do sacerdócio católico “pede uma explicação”, disse o Pe. Hartmut Niehues, que também é reitor do Seminário Diocesano de Münster.
Em uma entrevista concedida a Domradio.de em 30 de janeiro, o padre disse que as discussões sobre a orientação sexual e a sexualidade em geral “não são um tabu”, mas sim um elemento padrão da formação sacerdotal em toda a Alemanha.
O reitor de 47 anos disse que a questão decisiva para os candidatos, independentemente de sua orientação sexual, é se eles podem levar uma vida celibatária.
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Bispo alemão diz que magistério católico sobre homossexualidade deve ser repensado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU