27 Julho 2018
Quando Kathleen O'Connell Sauline se apresentou para a comunhão na paróquia de São Lucas, em Boardman, Ohio, o padre colocou um pano sobre o pão e disse que não poderia lhe dar a Eucaristia. Da mesma forma, um diácono se recusou a dar o vinho consagrado do cálice.
A paroquiana e voluntária da paróquia de longa data já esperava por isso.
A reportagem é de Heidi Schlumpf, publicada por National Catholic Reporter, 26-07-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Oito dias antes, Sauline havia sido ordenada diaconisa pela Associação de Mulheres Presbíteras Católicas Romanas, que faz parte do movimento internacional de mulheres presbíteras católicas. O Vaticano considera as ordenações ilícitas e disse que as mulheres presbíteras e diaconisas incorrem em excomunhão automática.
Quando o sacramento foi recusado na missa no dia 8 de julho, Sauline respondeu ao padre e ao diácono que ela estava com fome e sede "daquilo que Jesus nos convocou a compartilhar". Depois, se dirigiu ao centro da Igreja e esperou com as mãos abertas. Segundo ela, mais tarde, um Ministro eucarístico leigo lhe deu a Comunhão.
O padre Zachary Coulter, que foi ordenado no ano passado, é um dos dois padres da paróquia. Sauline disse que Coulter sabia que ela estava buscando a ordenação e já havia tentado convencê-la a desistir.
"Esta é a Igreja em que eu criei minhas filhas e a qual eu pertenço. Nada do que você disser poderá me excluir", lembrou Sauline, que tem sido membro da São Lucas há 11 anos, mas recentemente se mudou para outra cidade.
Coulter e outros membros da equipe da paróquia se recusaram a falar com o NCR.
John Zuraw, chanceler da diocese de Youngstown, disse que está tentando seguir as leis da Igreja sobre a "ordenação simulada". Embora a excomunhão seja automática, isso só pode acontecer se a consciência das pessoas estiver bem formada sobre o assunto, disse ele.
"Antes de qualquer tipo de penalidade ou sanções serem aplicadas, um indivíduo tem o direito de se manifestar e discutir o assunto. Eu acho que é importante que o indivíduo perceba as ramificações e a gravidade do que ocorreu", disse Zuraw, acrescentando que a diocese enviou tal convite a Sauline por carta.
A Associação das Mulheres Presbíteras Católicas Romanas, Mary Eileen Collingwood, disse que as mulheres que são ordenadas estão plenamente conscientes das ramificações e que a recusa dos sacramentos, como a Eucaristia, "não é incomum". Algumas mulheres presbíteras foram proibidas de ter funerais católicos e de serem enterradas em um cemitério católico, disse ela.
"É outra maneira de dizer que ‘elas’ estão fora do rebanho", disse Collingwood, que recebeu uma carta de excomunhão da diocese de Cleveland, duas semanas depois de sua ordenação ao sacerdócio, quatro anos atrás.
Collingwood disse que "muitos" padres dão a Eucaristia a mulheres ordenadas, mas é mais provável que os jovens a neguem. Ela acredita que Sauline decidiu fazer um "testemunho profétic" oao tentar receber a Eucaristia após sua ordenação ter sido divulgada no jornal local e nas redes sociais.
A possibilidade de "confusão" ou "escândalo" entre a comunidade paroquial é uma das preocupações da diocese, disse Zuraw.
Mas os paroquianos ficaram "chocados" com as ações do padre, disse Theresa Marx-Armile, que pertence à paróquia desde 1998. "Acho isso muito perturbador. Estou realmente triste que isso aconteça na paróquia São Lucas”, completou Marx-Armile, que não compareceu a essa missa em particular.
Zuraw afirmou que a Igreja não é livre para mudar a substância dos sacramentos, como as ordens sagradas, porque refletem a realidade histórica de Jesus. "A igreja está falando de um ensinamento, não de uma lei ou regra", disse ele.
Collingwood e o grupo de sacerdotisas vêem isso como uma lei feita pelo homem que pode ser mudada. "Estamos desafiando uma lei injusta", disse ela.
Em 2016, o Papa Francisco criou uma comissão para estudar a história das mulheres diaconisas na Igreja, mas o grupo recentemente se recusou a lhe aconselhar sobre a possibilidade de restituir a prática de ordenar mulheres.
Sauline acredita que a proibição da ordenação de mulheres é problemática, especialmente para os jovens católicos. "A posição da Igreja em questões de justiça social é prejudicada pela falta da mesma em suas fileiras", disse ela.
Suas três filhas adultas, ela tem orgulho de dizer, são todas ativas, praticantes católicas, e a encorajam a seguir seu chamado.
"Estou orgulhosa dela por defender tanto o que acha certo, quanto o que está sendo chamada por Deus para fazer. Esse não é o caminho mais fácil”, disse Janet Sauline Russo, de Fairview Park, Ohio, sobre sua mãe.
Não se deve negar às mulheres a Eucaristia por seguirem sua consciência, já que Jesus jantou com pecadores, inclusive Judas, disse Mary Sauline, de Arlington Heights, Illinois.
"Nenhum de nós é digno de receber a Eucaristia, mas nós a recebemos de qualquer maneira. É comida, não uma competição ou algo que recebemos porque ganhamos", acrescentou ela.
Mesmo que sua mãe seja excomungada, Grace Sauline, de Cleveland Heights, Ohio, ficará na Igreja.
"Nós vamos continuar a fazer parte desta fé e da Igreja que Jesus nos deu. Do jeito que fomos criados, nunca foi ‘tudo ou nada’ na fé. É possível questionar", disse ela.
Após seu marido sofrer um derrame recentemente, Sauline planeja voltar a trabalhar em período integral como administradora escolar e atuará como diaconisa na Comunidade de Santa Brígida em Breckville, Ohio, uma comunidade eucarística dirigida por leigas, servida por mulheres católicas romanas. Ela também ministrará como tutora no Centro Thea Bowman, em Cleveland.
Ela espera que sua neta de dois anos cresça em uma Igreja diferente.
"Eu amo minha Igreja, mas tem que evoluir e receber mulheres na liderança. Muitas pessoas pensam que isso é tolice”, disse ela. “Por que não uma diaconisa mulher?"
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Comunhão é recusada a mulher ordenada diaconisa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU