Uma outra face de Francisco de Assis. Entrevista especial com Chiara Frugoni

02 Agosto 2015

 

"Boaventura empurrou para um segundo plano ou apagou as propostas mais "revolucionárias" de Francisco. Todas sempre baseadas na aplicação ortodoxa do Evangelho. Foi ele que fez de Francisco um santo adocicado, como uma estatueta de presépio. Desta forma fixou e difundiu uma imagem unívoca de Francisco que se tornou especialmente o santo dos estigmas, o milagre possivelmente menos imitável", narra a historiadora. 

 

 
 

São Francisco de Assis é um dos santos mais populares da Igreja Católica. Aliás, existem muitos não católicos que se dizem fiéis ao monge. Muito disso é atribuído à sua relação com o meio ambiente e com a forma despojada que vivia. O próprio Jorge Mario Bergoglio, ao escolher ser chamado Papa Francisco, quer alinhar esse ícone ao seu pontificado.

 

Na Encíclica Laudato Si’, o pontífice mais uma vez revela o quanto se orienta pelo simbolismo franciscano. No entanto, o próprio Papa traz questões de fundo que dão pistas, apontam para algo mais em São Francisco de Assis. É algo que transcende a candura do monge pobre, que amava a natureza. Há uma mística muito intensa no santo, por vezes dura e nem tão romântica.

 

Essa faceta é objeto de estudo da historiadora italiana Chiara Frugoni. “Ele decidiu aplicar o Evangelho ao pé da letra e seguir a vida de Cristo, para espalhar uma mensagem de amor e de paz”, explica, ao referir que essa tarefa, por vezes, o colocava em choque com a própria Igreja.

 

É como se dessa necessidade de aplicar o Evangelho derivasse a urgência de viver desprendido de tudo, como fruto integral da Criação. Para Chiara, tamanho desprendimento fazia São Francisco levar uma vida singela, simples como a dos animais. Assim, vivendo com despojamento quase animal, poderia ser “como as aves do céu, livres para voarem com total liberdade”. No entanto, na prática, fazer essa mística se materializar em ações era algo extremamente complexo. A postura de Francisco de Assis o colocou em oposição até aos seus pares. “Enquanto a Igreja, em armas, sonhava, em nome de Deus, conquistar a Terra Santa e aniquilar também fisicamente os muçulmanos, Francisco explicava aos frades como deviam viver entre os muçulmanos”, exemplifica a historiadora.

 

Chiara Frugoni é historiadora italiana, especialista da Idade Média e da história da Igreja. É uma das maiores especialistas na vida de São Francisco de Assis. É autora de diversos livros, entre os quais citamos Invenções da Idade Média. Óculos, livros, bancos, botões e outras invenções geniais (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007); Vita di un uomo: Francesco d'Assisi, com prefácio de Jacques Le Goff (Torino: Einaudi, 2005); Una solitudine abitata. Chiara d'Assisi (Roma: Laterza, 2006); Storia di Francesco, il santo che sapeva ridere (Roma: Laterza, 2006); Il cammino di Francesco. Natura e incanto nella Valle Santa Reatina (Milão: Federico Motta Editore, 2006) e Storia de Chiara e Francesco (Torino: Einaudi, 2011).

 

A entrevista originalmente foi publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU no dia 02-08-2015. Tendo em vista a festa de São Francisco de Assis nesta segunda-feira, 04-10-2021, a reproduzimos.

 

Confira a entrevista.

 

 
 
 

IHU On-Line - Quem de fato foi Francisco de Assis? Quais eram os pontos de divergência com o alto clero?

 

Chiara Frugoni - Desde o momento de sua conversão, pode-se dizer, São Francisco não inventou nada, mesmo quando suas decisões tinham alcance revolucionário. Ele decidiu aplicar o Evangelho ao pé da letra e seguir a vida de Cristo, para espalhar, por toda parte, uma mensagem de amor e de paz.

Para alcançar a paz, algumas premissas cheias de consequências eram necessárias: por exemplo, nada possuir, nem em comum, nem em particular. O bispo Guido I [1], a quem o futuro Santo recorria muitas vezes para um conselho confidente, depois de uma difícil missão em Marca de Ancona [2], havia manifestado sérias preocupações com a vida da fraternidade. Essa vida lhe parecia "áspera e amarga" demais por "não quererem possuir nada neste mundo". Assim, o bispo recebeu de Francisco uma resposta contundente: "Se tivéssemos bens, precisaríamos de armas para proteger-nos, porque é da posse dos bens que surgem problemas e disputas. Desta maneira, estaríamos impedindo, de muitos modos, o amor a Deus e o amor ao próximo” [3]. Francisco queria viver como os animais, sem possuir nada, como as aves do céu, livres para voarem com total liberdade.

Ao longo da vida constantemente golpeada por guerras, cruzadas e lutas, Francisco nunca pronunciou sequer uma palavra agressiva. Qualquer palavra referente à guerra está ausente da sua linguagem. Enquanto a Igreja, em armas, sonhava, em nome de Deus, conquistar a Terra Santa e aniquilar também fisicamente os muçulmanos, Francisco, na Regra de 1221, Regula non bullata, isto é, que não recebeu a bula de chumbo, o selo papal de aprovação, explicava, no capítulo XVI, aos frades como deviam viver entre os muçulmanos: "sem brigas, nem disputas". Só quando em situação de respeito mútuo poderiam tentar falar de Deus. Caso contrário, contentar-se-iam em dar bom exemplo.

Dessas referências vê-se o quanto Francisco estava longe da ideologia eclesiástica do seu tempo. Com seu modo característico de tratar os problemas, nunca expressou desacordo com o Papa ou com a hierarquia. Não acusou, nem repreendeu quem agia de maneira oposta ao seu modo de entender, mas bastava-lhe mostrar seu agir diferente. Enquanto a Igreja pregava cruzadas, Francisco ia ao encontro dos muçulmanos, considerando-os seus próprios vizinhos, mostrando, a quem até então só tinha conhecido a violência dos cristãos, a mansidão do Evangelho, que os cruzados, enquanto cristãos, deviam ser os arautos. Diante de uma Igreja envolvida em questões políticas, uma Igreja rica, Francisco mostrava seus pés e os de seus companheiros descalços.

 

IHU On-Line - Qual modelo de religiosidade propunha? Como se dá a conexão com o meio ambiente?

 

Chiara Frugoni - Francisco, porque Cristo fez-se homem, sentia-se irmão de Jesus. E por isso mantinha uma forte relação com Deus Pai, Deus criador, cheio de gratidão pelo plano divino, do qual ele também, como criatura, sentia-se parte. Exatamente por isto respeitava profundamente a natureza. Não pensava ter direito, enquanto homem, de explorar e destruir.

Para perceber e valorizar a diferença com os outros religiosos de seu tempo, vale alguns exemplos: os monges cistercienses e camaldulenses, além da oração e da penitência, cuidavam de comercializar madeira. Por isso, sua relação com a floresta era, embora numa escala minúscula, próxima à nossa. As árvores eram vistas como recursos para explorar. Por isso, os monges intervinham na natureza, não só desmatando, mas privilegiando as espécies mais adequadas à construção de edifícios, com a monocultura do carvalho, faias e pinheiros.

É diferente da relação dos franciscanos que extraíam da floresta apenas o suficiente para o consumo próprio. Não só isso: Francisco queria os troncos serrados de maneira que as árvores pudessem reflorescer [6]. Também queria uma parte da horta não cultivada, para que as “irmãs” flores silvestres se mostrassem com toda sua beleza e “convidassem qualquer um que as olhasse a louvar a Deus!” [7].

 

IHU On-Line - Como entender a mística de São Francisco de Assis?

 

Chiara Frugoni - Durante sua vida, repetidamente, Francisco declarou ter certeza de que Deus lhe revelara como deveria levar uma vida radicada no Evangelho com seus companheiros. Isso tudo sem propriedades, nem próprias, nem em comum, totalmente pobres frades, como outros pobres, partilhando com eles da mesma precariedade de vida, material e psicológica. Com um vestuário mínimo, pés descalços como os apóstolos, sempre em caminho, os frades deviam espalhar por toda parte a mensagem de amor e de paz de Cristo, usando palavras simples, sem necessidade de estudos ou de preparação erudita.

 

IHU On-Line – Como se davam as contestações a Francisco dentro da própria ordem?

 

Chiara Frugoni - A primeira Regra de Francisco chegada até nós, a chamada Regula non bullata de 1221, não tinha sido aprovada pelo Papa e nem pela maioria dos frades.

A impaciência de grande parte dos companheiros com relação aos compromissos assumidos, nos primeiros tempos, era tão evidente que fez o santo preferir demitir-se da liderança da Ordem, em 1220, ficando apenas uma pedra incômoda de comparação (nomeou Pietro Cattani como "vigário", mas logo falecido, em março de 1221, foi substituído, em seguida, por Elia). A Regula non bullata fixava normas bastante genéricas, projetada para pequenos números e dirigida para companheiros animados pelo mesmo entusiasmo e espírito de abnegação.

Os frades, no entanto, aumentaram vertiginosamente em número, e não conseguiram manter o mesmo nível de empenho e entusiasmo dos primórdios. Além disso, uma parte deles acreditava numa organização mais articulada e específica para uma ordenada vida comunitária. Também a segunda Regra, a chamada Regula bullata, aprovada pelo Papa Honório III [8], em 1223, embora marcada por forte interferência da Cúria, segundo uma parte dos frades, podia ser ulteriormente interpretada e modificada em sentido menos restritivo.

Em poucas palavras: a Ordem de Francisco teve imediato e extraordinário sucesso, mas os frades, tornando-se milhares, não estavam mais à altura de Francisco e dos seus primeiros companheiros.

A proposta de Francisco era dirigida aos leigos, o que foi uma novidade importantíssima. Queria que seus companheiros continuassem trabalhando, grátis, é claro. Só podiam aceitar comida para um dia, sem acumular suprimentos para o dia seguinte. Não podiam viver em casas de alvenaria, mas em cabanas feitas de galhos. Se não estivessem em caminho, deviam viver nos leprosários e curar os leprosos. Não podiam pedir esmolas em dinheiro, porque isso seria "roubar dos pobres." Tinha grande respeito às mulheres, e seu projeto foi originalmente concebido aberto para homens e mulheres.

 

IHU On-Line - Como eram recebidos os preceitos de Francisco de Assis? Por que há tantas contradições entre as inúmeras biografias?

 

Chiara Frugoni - Todas essas ideias de São Francisco não foram bem aceitas, nem pela Igreja de Roma, nem por muitos frades sacerdotes, que, no entanto, tinham entrado na Ordem. Eles queriam estudar, ter bons códigos, viver em conventos espaçosos, ter uma biblioteca e fazer-se manter pela comunidade dos fiéis em troca do serviço que prestavam. Entre os serviços estão a pregação, aconselhamento para bem confessar-se e também para um bom testamento (muitas vezes os fiéis deixavam, por gratidão, suas propriedades aos franciscanos).

Além disso, os frades recusavam-se decididamente à pobreza total. Com uma série de dispositivos legais, tornaram-se ricos: todos os bens eram formalmente da Igreja e os franciscanos mantinham apenas seu uso. Por meio dos chamados procuradores, pessoas de fora da Ordem, que manejavam o dinheiro, os frades também podiam manejá-lo.

Parte dos frades não concordava, e via de forma negativa essas transformações. Essas tensões refletiram-se dentro da Ordem nas diferentes biografias. Aquelas oficiais procuravam adaptar a figura do santo à evolução histórica da Ordem. Mas havia também biografias não oficiais, que queriam lembrar o que parecia ser a verdade sobre Francisco e sobre sua proposta de vida cristã.

 

O Francisco de Boaventura

 

Frade Boaventura [9], como Ministro geral, escreveu uma biografia oficial. Em 1266 tornou-se a única biografia oficialmente admitida. A destruição das anteriores foi uma operação conduzida meticulosamente e com grande sucesso, única na Idade Média desta magnitude.

Foi uma das maiores "fogueiras" medievais, envolvendo centenas e centenas de manuscritos, pois em cada mosteiro franciscano — no momento da primeira biografia (1228-1229) de Tomás de Celano [10] havia cerca de mil e quinhentos — havia pelo menos uma Vida do Fundador, uma Legenda compendiada era inserida no breviário de cada frade, e uma biografia reduzida fazia parte dos objetos litúrgicos das igrejas, não só dos Menores, para ser cantada na Oitava da festa ou ao menos no natalício.

Gregório IX [11], de fato, havia estabelecido que o aniversário do santo fosse celebrado também pelos outros institutos de vida de perfeição: quando Boaventura, por exemplo, promulgou a ordem de destruição das biografias, os cenóbios cistercienses eram cerca de 650. Devemos, sobretudo, ao historiador protestante Paul Sabatier [12] (1858-1928) o fato de algumas das biografias anteriores à de Boaventura terem sido encontradas. Talvez fossem representantes de um único manuscrito, em alguns mosteiros bem distantes de Assis, onde a caça franciscana não tinha chegado. Durante séculos, Francisco foi o Francisco de Boaventura.

 

Um santo menos revolucionário e mais doce

 

Boaventura empurrou para um segundo plano ou apagou as propostas mais "revolucionárias" de Francisco. Todas sempre baseadas na aplicação ortodoxa do Evangelho. Foi ele que fez de Francisco um santo adocicado, como uma estatueta de presépio. Desta forma fixou e difundiu uma imagem unívoca de Francisco que se tornou especialmente o santo dos estigmas, o milagre possivelmente menos imitável.

Pedia para admirar Francisco, cuja carne fora como que "divinizada" pelo estrondoso milagre, mas não para tomá-lo como modelo, porque era impossível alcançar as alturas da sua santidade. Os frades deviam seguir outros santos franciscanos, tanto mais tradicionais, que a Ordem já podia recomendar. Por exemplo, o culto Santo Antônio de Pádua [13].

Francisco permanece o grande fundador, mas inacessível, fechado num relicário, em razão das feridas divinas. A Ordem, deste modo, estava livre para fazer todas as mudanças que a maioria dos frades pedia, e que os vários papas, desde Gregório IX, o santo que canonizou Francisco, aprovavam.

 

IHU On-Line - “Cântico do Irmão Sol”, também conhecido como “Louvores das Criaturas”, é um dos escritos mais difundidos de Francisco de Assis e inspira o Papa Francisco na Laudato Si’. Qual a origem histórica desse cântico? O que ele diz sobre a criação?

 

Chiara Frugoni - Adão, antes de receber sua companheira, vivia no paradiso voluptatis, destinado a um trabalho feliz de agricultor: Deus o tinha criado ut operaretur custodiret et illum ("cultivá-lo e guardá-lo", Gên 2,15). Deus queria, então, que o primeiro homem vivesse numa bela paisagem, e queria que o primeiro homem ajudasse a mantê-la assim. Deus havia previsto, além disso, uma alimentação só vegetariana, tanto para o homem como para os animais (Gên 1,29-3O).

Com o pecado original introduziu-se a violência e a morte, afetando também o modo de viver dos animais. De exclusivamente vegetarianos, tornaram-se carnívoros, obrigados também eles, para sobreviver, a matar. Recita o Salmo 103,20-21: "rugem os leõezinhos em busca da presa, pedindo a Deus sua refeição". Francisco, com o Cântico das Criaturas, intitulado por ele, na verdade, de Irmão Sol, louvava a criação. Respondia silenciosamente, com isso, à sombria visão dos Cátaros [14], de um mundo onde o espírito estava sufocado pelo mal e pela matéria.

O hino de Francisco louva os quatro elementos, Fogo, Ar, Água, Terra, componentes essenciais de toda forma de vida, inclusive da vida humana, de acordo com as crenças medievais. Para seu Cântico, Francisco foi inspirado pelo Salmo 148, e a passagem de Daniel 3, 51-89, que compreendem um louvor incondicional a toda a criação, incluindo os animais, dos peixes às aves.

Francisco para nos quatro elementos porque está ciente da perturbação que o Pecado original introduziu. Mas o convite à paz, na segunda parte do Cântico, é um convite a retornar àquele estado de harmonia originária, quando o homem não se sentia no centro do mundo e no direito de oprimir e destruir, mas com a obrigação de "guardar", respondendo assim ao dom da Criação concedido generosamente por Deus ao homem.

Notas

[1] Bispo Guido: é descrito pelas fontes como aquele que apoiava e aconselhava Francisco e seus companheiros. Era tido como conselheiro e confidente. Quando Francisco e seus primeiros frades foram a Roma para pedir aprovação pontifícia para a forma de vida deles, encontraram-se com o bispo Guido. Quando São Francisco morreu, o bispo Guido, que estava em peregrinação, teve uma visão sobre o fato ocorrido em Assis. Nas biografias do santo, o bispo Guido surge no momento crucial do conflito entre o jovem Francisco e seu pai, Pedro de Bernardone. (Nota da IHU On-Line)

[2] Marca anconitana: (também chamada de Marca anconetana ou Marca de Ancona) era uma das quatro províncias, instituídas pelo Papa Inocêncio III (1198-1216) no primeiro ano de seu pontificado, como uma divisão dos Estados Pontifícios. Os territórios provinciais eram regidos por funcionários nomeados pelo papa, chamados de reitores. Tal província foi confirmada na Constituição egidiana de 1357, promulgada pelo cardeal Gil Álvarez Carrillo de Albornoz, mais conhecido na Itália como Egidio Albornoz. Sua capital não era, como muitos acreditam, Ancona, mas sim a cidade de Macerata. (Nota da IHU On-Line)

[3] Legenda trium sociorum, cap. IX, par. 35. (Nota da entrevistada)

[4] Ordem de Cister: também conhecida como ordem cisterciense, é uma ordem monástica católica reformada. (Nota da IHU On-Line)

[5] Ordem dos Camaldulenses: também conhecida como Congregação Camaldulense da Ordem de São Bento, é uma ordem religiosa católica de clausura monástica pertencente à família dos Beneditinos. (Nota da IHU On-Line)

[6] Tommaso de Celano, Memoriale, cap. CXXIV, 165 (Nota da entrevistada)

[7] Scripta Leonis, Rufini et Angeli Sociorum s. Francisci, ed. e trad. inglesa de R.B. Brooke, cap. 51 (Nota da entrevistada)

[8] Papa Honório III (1148–1227): 177º Papa da Igreja Católica. Convocou um Concílio em Paris em 1226, que condenou a heresia dos Albigenses. Foi árbitro na questão da primazia entre Braga e Toledo, que se arrastava desde o tempo de Inocêncio III, a que pôs termo, em 1218, com as bulas Cum tu, frater, enviada ao arcebispo de cabido de Toledo, e Cum venerabilis frater, ao arcebispo e cabido de Braga. Acabou com os litígios do bispo de Coimbra com os Templários, por causa das igrejas de Ega, Pombal e Redinha, e com o mosteiro de Santa Cruz. Confirmou a D. Afonso II os privilégios concedidos pelos seus antecessores a Portugal, que toma debaixo da proteção da Santa Sé, bula Manifestis probatum, de 1218. Concede indulgências e outras graças aos cruzados da 5ª cruzada que tomaram parte na conquista de Alcácer do Sal, aos que contribuíssem para a defesa dessa praça e para a guerra contra os Mouros e aos que fortificassem e guardassem os lugares pertencentes aos freires de Évora. (Nota da IHU On-Line)

[9] São Boaventura (1221-1274): bispo franciscano, filósofo, confessor e doutor da Igreja. Foi uma das mais poderosas inteligências de seu tempo e de toda a história da Igreja. Discípulo de Alexandre de Hales, era amigo e companheiro de lutas do dominicano Tomás de Aquino. Tiveram ambos carreiras paralelas, juntos combateram os erros de doutores de Paris inimigos das Ordens mendicantes. Ambos faleceram relativamente jovens, no mesmo ano. Boaventura teve, diferentemente de Tomás, uma vida muito ativa que não lhe permitiu dedicar todo o seu tempo ao estudo. Também conseguiu superar a disputa interna de seus pares a respeito do voto de pobreza. Em 1273, foi nomeado cardeal-bispo de Albano e, no segundo Concílio de Lyon, desempenhou papel fundamental na reconciliação entre o clero secular e as ordens mendicantes. Foi nesse encontro que São Boaventura morreu, em 15 de julho de 1274. Homem tão inteligente quanto humilde, foi declarado doutor da igreja e canonizado em 1482. (Nota da IHU On-Line)

[10] Tomás de Celano (1200–1265): frade católico medieval da Ordem dos Franciscanos, um poeta e também um escritor, sendo autor de três obras de cariz biográfico sobre São Francisco de Assis. Em 1221, Tomás foi enviado para o Sacro Império Romano-Germânico com Caesarius de Speyer para promover ali a Ordem dos Franciscanos. Em 1223, ele foi nomeado para o cargo de Custos Unicus da Ordem na província da Renânia, que incluiu conventos em Colónia, Mogúncia, Worms e Speyer. Após alguns anos, voltou à Itália, onde ele se retirou para o resto de sua vida. Em 1260, ele foi liquidado no seu último posto como diretor espiritual do convento das Clarissas em Tagliacozzo, onde morreu nalgum momento entre 1260 e 1270. Ele foi primeiro sepultado na igreja de S. Giovanni dei Val Varri e depois reenterrado na igreja de S. Francesco em Tagliacozzo. (Nota da IHU On-Line)

[11] Papa Gregório IX (1160-1241) foi o 178º papa, de 1227 a 1241. Foi importante incentivador dos dominicanos e dos franciscanos, tendo sido amigo pessoal do próprio São Francisco de Assis. Organizou a Inquisição Pontifícia com o objetivo de reprimir as heresias, com a promulgação da bula "Licet ad capiendos" em 20 de abril de 1233, dirigida aos dominicanos, que passaram a liderar o trabalho de investigação, julgamento, condenação e absolvição dos hereges. Canonizou S. Francisco de Assis dois anos após sua morte, S. Domingos de Gusmão e Santo Antonio de Lisboa. (Nota da IHU On-Line)

[12] Paul Sabatier (1858-1928): teólogo franciscano e historiador, dedicou-se inteiramente ao estudo da história religiosa, particularmente no campo franciscano, no qual ele alcançou notoriedade e autoridade internacional. Estava entre os defensores mais autorizados à criação, em Assis (1902), da Société Internationale des Études Franciscaines. (Nota da IHU On-Line)

[13] Santo Antônio de Pádua (1195-1231): santo franciscano de origem portuguesa, padre e doutor da Igreja. Entrou no mosteiro dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho de São Vicente de Fora, perto de Lisboa. Lá ele era professor. (Nota da IHU On-Line)

[14] Albigenses ou cátaros: O catarismo (do grego katharos, que significa puro), foi uma religião cristã da Idade Média, surgida na França no final do século XI, apresentada por alguns como um sincretismo cristão, gnóstico e maniqueísta, manifestado num extremo ascetismo. No entanto, os principais historiadores atuais do catarismo percebem este movimento como intrinsecamente cristão e relativamente independente de movimentos anteriores, derivando sua concepção gnóstica do universo de uma leitura independente das Escrituras Sagradas, especialmente o Novo Testamento. Os cátaros concebiam a dualidade entre o espírito e a matéria, relacionados respectivamente com o bem e o mal absolutos. Foram condenados pelo 4º Concílio Lateranense em 1215 pelo Papa Inocêncio III, e aniquilados por uma Cruzada e pelas ações da Inquisição, tornada oficial em 1233. Os cátaros, que também eram chamados de albigenses, rejeitavam os sacramentos católicos. (Nota da IHU On-Line)