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Caíram as máscaras! Artigo de Jean Marc von der Weid

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15 Novembro 2025

A pretensa liderança verde do Brasil é desmascarada pela defesa inflexível da exploração de petróleo e gás, contrariando o timing da transição que se impõe dramaticamente.

Jean Marc von der Weid é ex-presidente da UNE (1969-71), Fundador da organização não governamental Agricultura Familiar e Agroecologia (ASTA), publicado por A Terra é Redonda, 13-11-2025.  

Eis o artigo. 

1.

Desde 1995, tivemos 29 COPs onde todos ou quase todos os governos do mundo se reuniram para traçar as políticas internacionais e nacionais necessárias para deter o aquecimento global. Desde então (e mesmo antes disso), a comunidade científica apontou a necessidade de se descarbonizar a economia mundial, substituindo as fontes fósseis de energia (petróleo, gás e carvão) por fontes renováveis e de baixa emissão de gases de efeito estufa (GEE).

O peso destes insumos (principalmente, mas não só, como combustíveis) representa 75% de todas as emissões e está presente em quase todas as atividades humanas, da geração de energia elétrica, transportes, construções, indústrias de todo tipo e agricultura, entre outras. No entanto, a proposta de adotar a transição visando o abandono destes insumos só foi citada pela primeira vez em uma resolução de COP27, e de forma bem modesta.

Enquanto os governos se reuniram e tergiversaram sem descanso, as emissões de gases de efeito estufa continuaram subindo e se acelerando. Às vésperas da COP30, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicou um estudo indicando que a meta adotada na COP21, chamada de Acordo de Paris em 2015, manter o aumento da temperatura média do planeta abaixo dos 1,5º C até o final do século, não poderá ser alcançada.

Entre os estudiosos reunidos pelo IPCC, os mais pessimistas ou realistas já apontavam para o fato de que a meta era estava destinada a ser superada. De fato, a quantidade de gases de efeito estufa emitida até a COP de Paris já levaria à superação desta meta, mesmo que as emissões fossem interrompidas por um passe de mágica naquela data. Isto se dá pelo fato de que há um delay ou intervalo de tempo entre emissão e seu efeito no aquecimento médio do planeta.

O máximo que se poderia esperar se as emissões fossem estabilizadas em 2025 e diminuídas em 60% até 2030, chegando ao equilíbrio entre as emissões e absorções de GEE até 2035 (proposto pelo IPCC) seria manter o aquecimento abaixo dos 2º C a mais até o final do século.

Nada disso vai acontecer, simplesmente porque os governos adotaram, desde 2015, metas de redução das emissões (NDCs) muito abaixo do necessário e, pior ainda, nenhum ou quase nenhum (sobretudo os maiores emissores) cumpriu suas metas.

2.

As emissões se aceleraram ao invés de se estabilizarem ou diminuírem, como era dramaticamente necessário. No ano de 2024, elas atingiram um novo recorde histórico, 57,7 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (2,3% a mais em relação ao ano anterior), superando o recorde dos anos 2022/2023, que teve um aumento de 1,6%.

No ano de 2024, a temperatura do planeta aumentou 1,47ºC (sobre as temperaturas médias de meados do século XVIII), sendo que, nos últimos três meses, ela ultrapassou os 1,5ºC, tendência que se prolongou nos primeiros meses deste ano. Isto significa um aumento de quase 50% no nível de aquecimento em 10 anos. Para estes pessimistas estamos a caminho de alcançar a meta limite máxima do Acordo de Paris (2º C) até 2035 e mesmo até 2030.

O PNUMA considera (de forma otimista em relação a outros estudos) que, persistindo as tendências atuais e se os governos cumprirem as metas de redução de gases de efeito estufa (NDCs) até agora apresentadas (por apenas 106 dos 190 assinantes do Acordo de Paris), chegaremos ao final do século com um aumento da temperatura do planeta entre 2,3ºC e 2,5ºC. Estudos dos mais pessimistas ou realistas consideram que poderemos estar em situação bem pior, com aumentos entre 3ºC e 4ºC.

Fiquemos com os otimistas para não perder o sono e a esperança da humanidade ainda poder sobreviver. A hipótese mais baixa já será extremamente perigosa para o gênero humano e para toda a vida no planeta.

O embate nas COPs entre governos e a comunidade científica congregada no IPCC tem uma explicação simples. A economia mundial é totalmente dependente do emprego dos combustíveis fósseis e as empresas produtoras destes combustíveis, as multinacionais petroleiras e outras, menos importante, mas também poderosas, ligadas à exploração do carvão e do gás, bloquearam qualquer movimento visando reduzir o seu uso. Como já foi dito acima, apenas na COP27 o tema entrou em pauta e sem consequências práticas.

O agravamento dos impactos do aquecimento na economia mundial e na vida das pessoas gerou a expectativa de uma discussão séria sobre a erradicação do uso de combustíveis fósseis na COP30, mas esta expectativa já está frustrada antes mesmo de começar.

De um lado temos a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris e as políticas favoráveis à intensificação da exploração e uso e petróleo, gás e carvão pelo governo de Donald Trump. O governo chinês e o indiano, recordistas mundiais no emprego de carvão, ou colocaram metas discretas para a redução de gases de efeito estufa (China) ou ainda não definiram qualquer meta (Índia) e nenhum dos dois definiu o itinerário de um “fase out” deste combustível. Ambos os países estão investindo em novas usinas de geração de energia elétrica utilizando carvão.

A União Europeia, que tinha adotado uma postura mais consequente, embora insuficiente, está vacilando em seus compromissos, apertada pela crise energética provocada pela guerra Rússia/Ucrânia. Já a Rússia está cada vez mais dependente do emprego de suas reservas de petróleo para manter a sua economia e seu esforço de guerra à tona. Finalmente, o sexto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, o Brasil, está em franco processo de ampliar a exploração de petróleo e gás e até de carvão.

3.

Para piorar a situação, constata-se um retrocesso nítido no mundo empresarial em relação à necessidade de se abandonar os combustíveis fósseis. Depois do Acordo de Paris, várias empresas que adotaram medidas de redução do uso destes combustíveis, inclusive (declaratóriamente) as do setor petroleiro (British Petroleum, por exemplo) ou as Big Techs.

Agora não se fala mais em reduzir o emprego de petróleo, mas de racionalizar a exploração e o uso e diminuir as “emissões fugitivas” nos poços e refinarias. Já as petroleiras de todos os tipos fortaleceram seu discurso sobre a necessidade de se manter a exploração dos combustíveis fósseis “até a última gota disponível”.

A direção da COP30 (em acordo com vários países responsáveis por fortes emissões de gases de efeito estufa) já retirou da agenda o tema da busca da substituição de energia fóssil por energia sustentável. Alguns governos defendem o aumento dos investimentos em energia eólica, solar e biológica, as pesquisas em nitrogênio verde e outras, todas promessas tecnológicas ainda longe de serem adotáveis em grande escala (o nitrogênio em qualquer escala), sem tocar na necessidade de se reduzir as emissões dos combustíveis fósseis.

Outros, como o brasileiro, defendem aumentar a exploração de petróleo e gás e usar os recursos para financiar a transição energética, mas isto não se sustenta se olharmos o quanto dos recursos oriundos do pré-sal foram empregados com este fim. O destino do petróleo do pré-sal está sendo o aumento das exportações, que já é responsável pelo maior item da nossa pauta no mercado internacional.

Na agenda proposta pela direção brasileira da COP as ênfases são outras. O foco passa para: (i) O controle dos desmatamentos e queimadas, inclusive com uma novidade atraente: a criação do Fundo de preservação das florestas tropicais (FTTT), visando remunerar os países que efetivamente mantiverem estas matas em pé. É a menina dos olhos do presidente Lula, mas está esbarrando em dificuldades, tanto na formulação dos mecanismos de controle, quanto na adesão dos países ricos. (ii) O financiamento das ações de adaptação frente aos impactos do aquecimento em curso de aceleração.

A proposta do controle dos desmatamentos é importante, embora muitos cientistas reclamem da necessidade de se investir pesadamente no reflorestamento, cujo efeito na absorção dos gases de efeito estufa da atmosfera é muito maior. Por outro lado, todos os especialistas apontam para o fato de que manter a floresta em pé sem conter as emissões de gases de efeito estufa pelo uso de petróleo, gás e carvão, não garante que as florestas vão sobreviver.

Com efeito, muitas das grandes florestas, inclusive a amazônica, já estão fortemente desestabilizadas e próximas de um ponto de não retorno a partir do qual elas não conseguirão se manter, mesmo que intocadas pelo homem. Em partes importantes da Amazônia, a floresta já não se recuperará naturalmente e tende a se transformar em uma savana arbustiva, podendo até chegar a um grau de degradação mais grave, levando à desertificação.

4.

A proposta do financiamento da adaptação é importante, mas é preciso ter claro que ter isto como prioridade, abandonando os esforços de controlar o aquecimento, significa um eterno “enxugar gelo”. Com efeito, com a aceleração do aquecimento os impactos vão crescer exponencialmente e não existem medidas eficientes para adaptar a economia e a vida no planeta, mesmo que se empreguem imensos investimentos.

Examinemos um caso hipotético de investimento de adaptação: o enfrentamento da elevação do nível dos oceanos.

Com a temperatura média do planeta chegando aos 2º C ou 3º C no final do século, o nível do mar vai subir até um metro, também em média mundial. Isto significa que o aumento (que não é igual em todas as partes continentais e insulares do mundo) pode, localmente, chegar a dois ou mais metros.

Em algumas ilhas isto implica em seu desaparecimento e em alguns países o avanço das águas pode cobrir cidades e áreas produtivas costeiras. Isto já está acontecendo aos poucos nos arquipélagos do Pacífico e nas áreas costeiras de Bangladesh, China, Índia e outros. No primeiro país citado, o avanço das águas já provocou o deslocamento da capital para áreas mais elevadas no interior.

Em outros, o efeito imediato é a salinização dos rios nas planícies costeiras, eliminando o seu uso para irrigação ou para abastecimento de pessoas e animais. Embora ainda não seja um impacto notável, mesmo na foz de um rio tão caudaloso como o Amazonas, a salinização já está afetando a pesca artesanal, com a desaparição de espécies de água doce.

A importância dos impactos do aquecimento ultrapassa a capacidade de adaptação e a única saída é a migração das populações. Isto não chega a ser impossível, embora dramático para quem é afetado, quando se trata de financiar a migração da população de pequenas ilhas, mas no deslocamento dos habitantes das planícies ameaçadas pelo aumento do nível do mar, os números saltam de alguns milhares para muitos milhões.

Por outro lado, investimentos em adaptação à elevação do nível do mar implicam na construção de gigantescos diques de contenção, tais como países como a Holanda vem fazendo ao longo da história. Imaginemos como vai ser murar cidades como Nova Iorque, Miami ou o Rio de Janeiro para segurar o avanço das águas. Os custos seriam astronômicos.

Para concluir, a decisão de priorizar a adaptação não resolve nada e apenas reforça a postura dos que querem manter o uso de petróleo, gás e carvão sem limites.

Segundo alguns analistas, a postura das classes dominantes nos países mais desenvolvidos modificou-se nos últimos tempos. De negacionistas de carteirinha, os mais ricos passaram a aceitar os fatos do aquecimento global e seus impactos, mas sabendo que o esforço de controlar o processo não deixaria de afetar seus lucros e modo de vida, adotaram uma postura cínica. Alguns desprezam o que ocorrerá com seus filhos e netos e preferem gozar suas riquezas sem limites enquanto isto for possível.

Outros percebem que os impactos do aquecimento serão sempre mais graves para os mais pobres e que sua riqueza gigantesca lhes permitirá comprar soluções confortáveis para conviver com a hecatombe mundial. Já existem empresas especializadas em prever os impactos do aquecimento e em identificar os lugares no planeta em que eles serão tardios.

Jornais americanos já notificaram movimentos de compra de terras em estados como Montana, considerado em várias simulações científicas como uma futura “ilha de bem-estar” em um país em colapso. Por quanto tempo? Depende da velocidade do aumento do aquecimento.

5.

De toda forma, se a mitigação (controle do aquecimento) não tem tido recursos suficientes, mesmo para as medidas de meia boca que estão sendo tomadas, mais difícil ainda vai ser encontrar recursos para a adaptação.

O governo brasileiro, em aliança com muitos países mais pobres, assumiu os cálculos feitos na COP29, em Baku, cobrando dos países ricos uma contribuição de 1,3 trilhão de dólares por ano para financiar medidas de adaptação (analistas mais consequentes chegam a um número quase 3 vezes maior, 3,7 trilhões).

Os países ricos aceitaram uma contribuição muito menor em Baku, 300 bilhões de dólares por ano, menos de um quarto das necessidades estimadas (na verdade, subestimadas). Os desembolsos foram ainda mais frustrantes e nada indica que esta COP vai produzir um resultado diferente. Fala-se agora em contribuições de empresas e pessoas mais ricas além da dos governos, o que já é uma admissão de fracasso.

Para terminar esta avaliação é preciso olhar para a pretendida liderança verde do Brasil como país e de Lula como presidente.

A ministra Marina Silva apregoou, em entrevista para o jornal O Globo, que o Brasil “fez o dever de casa”. Fez mesmo?

Marina Silva apontou para a diminuição dos desmatamentos nos últimos três anos, chegando a uma queda de 50% das áreas desflorestadas na Amazônia e no Cerrado. Foi um resultado importante, embora em 2023 o aumento das queimadas tenha ofuscado a redução do desmatamento. Por outro lado, é bom lembrar que esta melhora se deu em comparação com aumentos gigantescos, tanto dos desmatamentos, como das queimadas durante o governo Bolsonaro.

Embora em queda, os números são ainda muito altos e longe da pretensão anunciada por Lula em Sharm-el-Sheik, de zerar os desmatamentos em todos os biomas até o fim do seu mandato. Lula também prometeu um reflorestamento em grande escala nos 100 milhões de hectares de pastagens degradadas e isto ficou para um futuro remoto.

Por outro lado, Lula não fez qualquer promessa sobre a redução do uso de combustíveis fósseis. Marina Silva apontou o aumento do número dos carros flex (combinando gasolina ou diesel com etanos de cana e biodiesel) e elétricos e a energia sustentável das eólicas e solares no Brasil, mas os números são mais do que modestos, sobretudo quando comparamos com os esforços do governo para baixar os preços dos combustíveis fósseis, com altos custos em subsídios para a exploração, refino e distribuição além dos altos subsídios na indústria automotriz (de carros e caminhões).

No Brasil de Lula, os automóveis individuais são a principal forma de deslocamento das pessoas, enquanto o deslocamento em coletivos vem caindo significativamente, aumentando o consumo de gasolina e diesel. Já os caminhões (subsidiados) continuam sendo o nosso mais importante meio de deslocamento de cargas.

6.

Mas o pior para a liderança verde de Lula foi a sua defesa inflexível da ampliação da exploração de petróleo e de gás, inclusive com a pressão sobre o Ibama para liberar o já famoso poço 59 na margem equatorial, apesar dos pareceres apontando para imensos riscos para ecossistemas marinhos frágeis e de alta importância pela sua particular biodiversidade.

Lula sendo Lula, um dos mais hábeis políticos da atualidade, seus discursos antes e depois da abertura da COP enfatizaram o ataque contra os negacionistas do aquecimento global e a necessidade de se buscar uma transição de uma economia baseada nos combustíveis fósseis para uma economia baseada em energia renovável. Mas deixou de lado o timing desta transição, adiando para as próximas COPs o momento desta decisão.

Na verdade, Lula adiou o que já tinha sido adiado nas últimas duas COPs, espertamente radicalizando o discurso apesar da prática de seu governo ir contra esta transição. Ou será que ele espera que outros países e empresas diminuam a sua produção e consumo enquanto o Brasil expande seu papel?

Para completar as dificuldades do governo, o Congresso Nacional decidiu assumir as mais negativas agendas em relação ao meio ambiente e às terras indígenas, votando um “liberou geral” defendido pelo agronegócio, a grilagem e a mineração legal e ilegal.

O governo não peitou estas iniciativas, inclusive com o PT, votando a favor de vários dos projetos de lei, a pretexto de minimizar os piores aspectos das propostas. Pegou mal, muito mal. O ambientalismo tupiniquim também questiona o atraso na formulação pelo governo do Plano Clima, algo que pretende (ou pretendia) cobrar dos outros países na COP.

Apesar das dificuldades de participação da sociedade civil na COP30, é de se esperar um forte bombardeio sobre o evento oficial e nem um forte controle das comunicações oficiais (já fortemente criticado pelos meios de comunicação, que cobram mais transparência) vai impedir que a “liderança” de Lula saia chamuscada.

Não posso deixar de apontar alguns dados das previsões científicas para os cenários do futuro próximo e até o final do século para concluir que a expressão “emergência climática” não foi entendida nem pelo governo brasileiro, nem pelos governos dos outros países do planeta, com exceção dos países-ilhas do Pacífico, que já estão com água pelas canelas e fadados ao desaparecimento.

O momento presente já deveria ser considerado suficientemente catastrófico para sacudir a opinião pública e os governos de todo o mundo. A cada mês, nos últimos dez anos, se sucederam fenômenos climáticos extremos em várias partes do mundo, sempre batendo os recordes anteriores.

Mais furacões e tornados, mais extensos e intensos; mais chuvas torrenciais e inundações nunca vistas ou vistas apenas uma vez por século; mais incêndios gigantescos e incontroláveis; mais ondas de calor mais extensas e intensas que já matam 500 mil pessoas por ano; novas e as já conhecidas pragas, atacando lavouras de forma mais extensiva; mais secas, mais amplas e intensas; novos vetores de doenças e expansão da área de incidência dos antigos (dengue e chicungunha, entre outros) ameaçando o surgimento de pandemias ainda mais perigosas do que a COVID-19.

Por outro lado, ecossistemas inteiros estão sendo destruídos, como o dos recifes de coral, que os jornais desta semana anunciaram como estando 80% mortos.

7.

Estamos vendo tudo isso por todos os meios de comunicação e, cada vez mais vivendo diretamente os impactos que se traduzem por mais mortos e doentes, destruição de patrimônio na casa dos trilhões de dólares por ano, destruição irreparável de biomas inteiros, ressurgimento da fome em lugares onde tinha sido erradicada e, cada vez mais, dezenas de milhões de pessoas migrando para escapar de crises ambientais em vários pontos do planeta.

O futuro vai ser a repetição destes impactos, mas de forma mais extensa e intensa.

Se nada for feito (e radicalmente) para deter e reverter o aquecimento global a desertificação vai tomar conta de extensas zonas como o Sahel, na África do norte, a Caatinga brasileira, amplas áreas do nordeste chinês e do sul da Índia. A California vai entrar em colapso por falta de água para abastecer as cidades e para irrigar sua pujante agricultura. Isto só para citar alguns exemplos.

Se continuarmos com políticas de “mais do mesmo”, 165 cidades costeiras de todo o mundo vão ser inundadas pelo mar de forma permanente ou muito frequente, incluindo Nova Iorque, São Francisco, Miami, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Florianópolis, Porto Alegre, Belém, Cantão, Xangai, Cape Town, Barcelona, Nápoles, Argel, Túnis, Alexandria, Londres e muitas outras.

Mais 2ºC de aquecimento provocarão o colapso das florestas tropicais, transformando a planície amazônica em uma savana seca assim como as grandes florestas tropicais africanas e asiáticas. No Brasil, isto vai significar uma radical alteração dos regimes de chuva no centro oeste, sudeste e sul, com o fim dos “rios voadores” causando impactos devastadores na agricultura do país.

O fim do século será também o fim do período em que a produção de alimentos no mundo será capaz de oferecer nutrição para todos, embora outros fatores tenham impedido a erradicação da fome. Uma queda média de 20 a 30% (muito por baixo) no volume total de produção agropecuária está entre as mais fortes probabilidades deste mundo em crise no fim do século.

Entre as predições mais assustadoras está a do aumento das ondas de calor, levando as temperaturas extremas de verão no norte da Europa, por exemplo, aos níveis das cidades do sul da Espanha, enquanto neste país as temperaturas subirão para o nível de Marrrakesh. O excesso de calor deverá ser a causa de óbitos mais frequente por efeito dos impactos ambientais em todo o planeta, ao mesmo tempo em que irá impedir o trabalho ao ar livre em boa parte do ano em várias latitudes. The heat will kill you first (o calor vai te matar primeiro), é o título de um livro assustador que todos deviam ler.

Tudo isto e mais os impactos de tufões, inundações, secas e pandemias vão provocar um brutal e desesperado processo migratório e gerar guerras pelos espaços de sobrevivência.

Desgraças suficientes para acordarmos e fazermos alguma coisa enquanto é tempo? Ou vamos adiar tudo por mais umas 30 COPs?

Não diga mais nada, Jean Marc. O neonegacionismo do governo Lula e da esquerda vai te crucificar como pregoeiro da desgraça e afirmar que uma Petrobras poderosa e em expansão é uma garantia para o povo brasileiro. Que todos os orixás nos protejam.

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