05 Novembro 2025
Pnuma diz que falta de ambição torna iminente a superação da meta definida no Acordo de Paris e que mundo deve correr para que ultrapassagem seja breve.
A reportagem é de Cristiane Prizibisczki, publicada por ((o))eco, 04-11-2025.
Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgado nesta quarta-feira (4) indica que a falta de ambição das metas climáticas apresentadas pelas partes do Acordo de Paris vai levar a humanidade a uma superação iminente do limite de 1,5ºC no aquecimento médio da Terra.
Chamado de relatório sobre a Lacuna de Emissões 2025, o documento mostra que, se forem implementadas integralmente, as metas climáticas – conhecidas como NDCs – vão levar o mundo a um aquecimento entre 2,3ºC e 2,5ºC até o final do século.
Ainda que este cenário seja melhor do que os projetados no último relatório – aquecimento de 2,6ºC a 2,8ºC até o final do século –, a própria ONU chama atenção para algumas características da análise que influenciam diretamente nos números.
Menos de um terço das partes do Acordo de Paris apresentaram novas NDCs até 30 de setembro de 2025. Isto é, dos 195 signatários do acordo, apenas 60 fizeram sua lição de casa. E apenas 7 dos 21 membros do G20 – responsáveis por 80% das emissões – estão nesta lista.
Também vai influenciar no número projetado o fato de que alguns ganhos no cenário foram conseguidos não porque as metas são ambiciosas, mas porque foram feitas atualizações metodológicas na análise.
Além disso, o relatório considerou a meta dos Estados Unidos, nação que deve sair em breve do Acordo Climático, anulando 0,1ºC da redução conseguida.
“Isso significa que as novas NDCs praticamente não alteraram o cenário. As nações permanecem longe de cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento bem abaixo de 2ºC, com esforços para permanecer abaixo de 1,5ºC […] Falta de ambição e ação torna iminente a superação do limite de 1,5°C”, diz o Pnuma.
Curva de emissões
A Ciência já indicou que, em 2030, as emissões de gases estufa precisariam cair 25% em relação ao que foi emitido em 2019, se o mundo quiser chegar a 2ºC de aquecimento. Se a meta a ser perseguida for 1,5ºC, o corte nas emissões precisa ser de 40%.
Restando apenas cinco anos para atingir esse objetivo, o que se vê é uma trajetória longe do necessário: em 2024, as emissões globais mantiveram tendência de alta, com aumento de 2,3%, atingindo 57,7 gigatoneladas de CO2 equivalente.
“As nações já tiveram três oportunidades de cumprir as promessas feitas no Acordo de Paris – e em todas elas ficaram fora da meta. Embora os planos climáticos nacionais tenham trazido algum progresso, ele está longe de ser suficiente – por isso ainda precisamos de cortes de emissões sem precedentes, em uma janela de tempo cada vez mais estreita e em um cenário geopolítico cada vez mais desafiador”, disse Inger Andersen, Diretora Executiva do Pnuma.
“Overshooting”
O cenário apresentado pelo Pnuma – que corrobora o Relatório Sintese da UNFCCC sobre metas climáticas, apresentado no final de outubro –, mostra que se tornou inevitável que o mundo ultrapasse a meta de aquecimento global definida pela Ciência como limite para o bem estar humano na Terra.
A corrida agora é para que esse período em que o aumento da temperatura vai ultrapassar o 1,5ºC, conhecido como “overshooting”, seja o mais breve possível.
“Não se engane: qualquer período de excedente inevitavelmente trará consequências dramáticas, com vidas perdidas, comunidades desestruturadas e conquistas de desenvolvimento revertidas. Mas nós temos a solução para tornar esse excedente o menor, o mais curto e o mais seguro possível”, disse nesta terça-feira o Secretário Geral da ONU, António Guterres, por ocasião do lançamento do relatório.
Para que isso seja possível, é necessária uma ampliação maciça das energias renováveis e da adaptação, sustentada por um aumento expressivo no financiamento para países em desenvolvimento.
Os cortes rápidos em emissões, admite a ONU, exigem navegar por um cenário geopolítico complexo, um aumento massivo de apoio aos países em desenvolvimento e a reformulação da arquitetura financeira internacional. Para isso, a ação e liderança do G20 serão fundamentais, diz o documento.
“A COP30 em Belém deve ser o ponto de virada em que o mundo apresente um plano de resposta ousado e credível para fechar as lacunas de ambição e de implementação, mobilizando US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 em financiamento climático para os países em desenvolvimento. O caminho para 1,5 grau é estreito, mas está aberto. Vamos acelerar para manter esse caminho vivo – pelas pessoas, pelo planeta e pelo nosso futuro comum”, disse Guterres.
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