17 Outubro 2025
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) dá mais um passo forte para a industrialização de seus produtos nesta quinta-feira, 16. Será a inauguração do Complexo Agroindustrial de Grãos Agroecológico da Cooperativa Agroindustrial de Produção e Comercialização Conquista (Copacon), localizada no Assentamento Eli Vive. O nome é uma homenagem à militante Eliane Silva, conhecida como Eli, integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que foi assassinada em 2018 durante um conflito agrário no Assentamento Libertação Camponesa, em Ortigueira, região central do Paraná.
A reportagem é de Marcelo Menna Barreto, publicada por ExtraClasse, 15-10-2025.
A nova unidade industrial do movimento se localiza em Londrina, Paraná, e tem capacidade para beneficiar até 40 toneladas de feijão em um turno de oito horas.
Por representar um avanço na agroindustrialização de alimentos pela agricultura familiar da região, a data escolhida para a inauguração se revestiu de simbolismos. Neste dia 15 é comemorado o Dia Mundial da Alimentação e da Soberania Alimentar.

A nova unidade industrial do movimento se localiza em Londrina, Paraná, e tem capacidade para beneficiar até 40 toneladas de feijão em um turno de oito horas (Foto: Elian Carvalho/ MST)
Com o investimento, a Copacon se torna uma das poucas cooperativas do Paraná com tecnologia para beneficiar o grão, que é tradicionalmente cultivado pelos assentados entre as safras de milho.
Alta tecnologia
O novo complexo incorpora equipamentos de alta tecnologia para o processamento do feijão. Estão incluídos sistemas modernos de seleção, limpeza e empacotamento. Isso, segundo o MST visa garantir maior qualidade e adequação às exigências do mercado.
Fábio Herdt, diretor-presidente da Copacon, destaca a relevância dos equipamentos na cadeia produtiva e no valor agregado aos produtos da Reforma Agrária.
“São equipamentos com tecnologia de ponta, capazes de identificar e separar o grão de feijão preto do carioca e fazer o processamento do grão com a maior qualidade possível. Vamos poder comercializar o produto a preço justo, valorizando o trabalho dos agricultores”, afirma. Herdt acrescenta que a agroindústria beneficiará produtores de toda a região, do pequeno ao grande.
Fundada em 2015 para organizar a produção de milho e hortaliças, a Copacon conta hoje com 500 associados. A cooperativa já opera uma agroindústria de milho 100% livre de transgênicos. Dessa beneficiadora saem produtos como fubá, biju e canjiquinha.
Anualmente, a cooperativa fornece cerca de 2 mil toneladas de alimentos para escolas do Paraná, através de programas governamentais como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
A solenidade de inauguração do novo complexo do MST contará com a presença do economista João Pedro Stédile, fundador e um dos coordenadores nacionais do MST. Ministros do governo Lula e autoridades políticas da região também estão sendo aguardados.
Sistema cooperativo
O sistema produtivo está alicerçado em 25 cooperativas, 62 agroindústrias e cerca de 100 associações. As agroindústrias, conjuntamente, possuem um faturamento anual de cerca de 150 milhões de reais, geram aproximadamente 300 postos de trabalho e mais de 100 produtos industrializados. São 5.400 famílias cooperados/as diretamente, e outras 30 mil famílias atendidas – entre assentadas, integrantes da Agricultura Familiar e de comunidades tradicionais.
Entre as linhas de produção, em assentamentos e acampamentos, estão leite, ração animal, milho, arroz, feijão e cereais diversos, ovos caipiras, hortifrúti, mel, derivados de cana-de-açúcar e destilação, erva-mate, de polpa e suco de frutas, panificados, além de cozinhas comunitárias.
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