"Taxar os super-ricos é corrigir uma anomalia no cerne da sociedade." Entrevista com Gabriel Zucman

Foto: JustStartInvesting/Unplash

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15 Dezembro 2025

Faixas pedindo o "imposto Zucman", a esquerda dando ao primeiro-ministro Lecornu o ultimato "imposto Zucman ou nada de governo", o prêmio Nobel estadunidense Joseph Stiglitz apoiando Zucman perante os parlamentares e Bernard Arnault (LVMH) declarando que "Zucman quer destruir a economia liberal". O economista francês Gabriel Zucman, de 38 anos, ex-aluno de Thomas Piketty, professor na Berkeley, Califórnia, que posteriormente retornou a Paris, está atualmente no centro da vida política e social na França. Um país desorientado, assolado por um abismo nas finanças públicas, parece ter encontrado o cerne da questão: tributar ou não os super-ricos, adotar ou não o "imposto Zucman", um imposto de 2% sobre o patrimônio dos 1.800 franceses que possuem mais de 100 milhões de euros. O herói — para alguns, o pesadelo — deste outono francês fala ao Corriere.

A entrevista é de Stefano Montefiori, publicada por Corriere della Sera, 03-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

O que pensa a respeito do sucesso de sua proposta?

Está se discutido muito porque é um debate necessário, que toca o cerne do contrato social.

A questão das desigualdades há tempo vem sendo associada principalmente aos Estados Unidos. Por que está sendo tão discutida agora na França e na Europa?

A tendência à explosão das fortunas dos bilionários é mundial, mas particularmente forte na França. Nos Estados Unidos, o patrimônio das 400 maiores fortunas equivale a 20% do PIB estadunidense; na França, representa 40% do PIB; nossos bilionários são particularmente prósperos. E pagam realmente pouco imposto, menos até do que nos Estados Unidos. E, além disso, há o problema do déficit público. É por isso que falamos tanto sobre isso aqui.

Segundo a esquerda, até 20 bilhões de euros poderiam ser recuperados, dos 40 indicados como necessários pelo governo.

É muito dinheiro, 20 bilhões. Cerca de 0,7 pontos percentuais do PIB. Quinze anos atrás, quando esses mesmos bilionários ou super-ricos possuíam apenas 10% do PIB como patrimônio, a receita de um imposto como esse teria resultado em apenas 0,2 pontos. Mas minha proposta é muito modesta; não se trata de fazer os ricos pagarem mais do que o resto da população, mas de corrigir uma anomalia.

Que anomalia?

O fato de que hoje os bilionários na realidade pagam muito menos do que o resto da população. Muitas vezes, graças à otimização tributária, pagam zero imposto de renda ou quase.

Talvez seja por isso que, segundo as pesquisas, o "imposto Zucman" é apoiado pela grande maioria dos franceses, tanto de esquerda quanto de direita. Você é de esquerda?

Nunca fui filiado a nenhum partido político. Sou pesquisador em ciências sociais. Mas acredito que faz parte do meu trabalho levar essa proposta ao debate público, mostrando o leque de possibilidades. Há tantas políticas para escolher; sempre há uma alternativa.

Seus detratores, no entanto, parecem estar convencidos do contrário. "É loucura, é comunismo", segundo Nicolas Dufourcq (BPI), "Isso não é economia" para Thierry Breton (ex-comissário europeu), "proposta lunática" para Patrick Martin (federação das indústrias francesa).

Como não têm argumentos substanciais, Arnault e os outros são obrigados a inventar acusações. Falar de comunismo é ridículo: as fortunas aumentaram 10% ao ano nos últimos 30 anos; tributá-las em 2% significa que cresceriam 8% em vez de 10%. Parece-me aceitável. Certos argumentos lembram aqueles do início do século XX, quando se discutia a introdução de um imposto sobre a renda.

O imposto sobre a renda também era invocado como um desastre para a economia?

As grandes fortunas da época diziam que prejudicaria o crescimento, a produtividade e a inovação. Mas aconteceu o oposto. Desde 1914, quando foi adotado, o imposto sobre a renda multiplicou a produtividade por dez, permitindo o financiamento do Estado de bem-estar social — ou seja, a educação universal, a saúde e as infraestruturas que constituem o verdadeiro motor do crescimento. A ideia de que a inovação na França depende de 1.800 bilionários, livres para decidir a otimização tributária porque, caso contrário, a economia entraria em colapso, é simplesmente delirante.

Por que os super-ricos se opõem a isso, se o sacrifício necessário é mínimo?

Para as classes médias, a riqueza é uma proteção, uma garantia para a velhice, é ter uma casa própria. Para os super-ricos, é o poder. O poder de influenciar a ideologia, as mídias, as políticas públicas, o processo eleitoral, de influenciar a economia de mercado graças a um efeito bola de neve. Mas eu ficaria preocupado se não tivessem protestado, porque isso significaria que já teriam encontrado uma maneira de contornar o problema.

Segundo o ex-primeiro-ministro Bayrou, a maneira de contornar o "imposto Zucman" seria emigrar, talvez para a Itália.

Bobagem. Alguém que se mudasse para Bruxelas, Genebra ou Milão — não importa — continuaria pagando esse imposto na França. Você pode ir para onde quiser, mas pagará o mesmo valor.

Acha que terá algum papel nas próximas campanhas eleitorais?

O imposto sobre o patrimônio dos super-ricos será eventualmente introduzido, pode levar tempo, como aconteceu com o imposto sobre a renda, que ficou trancado por cinco anos em 1909. Continuarei a persuadir, a explicar. Gosto de chegar ao fundo das minhas ideias. Até mesmo com um livro, que será lançado em algumas semanas. Título: Os bilionários não pagam imposto de renda, e nós vamos acabar com isso.

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