04 Outubro 2025
O governo israelense investe milhões para controlar as narrativas que aparecem no TikTok e no Google.
A reportagem é publicada por The Cradle News e reproduzida por Rebelión, 03-10-2025. A tradução é do Cepat.
O governo israelense contratou uma empresa para ajudá-lo a “treinar o ChatGPT” para torná-lo mais “pró-Israel”, informou o Responsible Statecraft em 30 de setembro, mostrando o contrato que Israel assinou com a empresa estadunidense Clock Tower X LLC, uma pequena e conservadora “entidade sem fins lucrativos”.
A reportagem afirma que a empresa assinou um contrato no valor de 6 milhões de dólares.
O contrato estipula que pelo menos 80% do conteúdo produzido pela Clock Tower será adaptado ao público da Geração Z em todas as plataformas, incluindo TikTok, Instagram, YouTube, podcasts e outras mídias digitais e de transmissão relevantes. A cota é de pelo menos 50 milhões de postagens por mês.
A empresa também usará sites e conteúdo para enquadrar as conversas do ChatGPT em favor de Israel. Além disso, permitirá a integração dessa nova narrativa na rede Salem Media (uma rede cristã conservadora nos EUA) e em outros canais de distribuição alinhados.
O ex-gerente da campanha do presidente americano, Donald Trump, Brad Parscale, desempenha um papel de destaque no acordo e receberá US$ 6 milhões ao longo de um período de quatro meses.
O contrato enquadra o projeto como “comunicações estratégicas, planejamento e serviços de mídia em apoio ao compromisso da Havas [Media Network] (gigante da comunicação francesa) pelo Estado de Israel para desenvolver e executar uma campanha nacional nos EUA para combater o antissemitismo”.
O contrato faz parte de um esforço israelense mais amplo para controlar a narrativa nas mídias sociais nos Estados Unidos e em outros lugares. O TikTok contratou recentemente Erica Mindel, ex-instrutora do exército israelense, para supervisionar a política de incitação ao ódio do popular aplicativo.
Erica Mindel também foi contratada pelo Departamento de Estado americano para trabalhar ao lado de Deborah Lipstadt, enviada especial para combater o antissemitismo no governo do ex-presidente dos EUA, Joe Biden.
Ao mesmo tempo, o Google está assinando um contrato de publicidade de US$ 45 milhões com o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para disseminar propaganda que nega a fome em Gaza, informou o Drop Site News em 3 de setembro.
Outra campanha, lançada em junho e com duração de seis meses, está sendo veiculada pelo YouTube do Google e seu serviço Display & Video 360, e sua própria descrição no contrato governamental a define como hasbara [propaganda].
Os detalhes foram revelados em documentos oficiais do contrato do governo israelense, arquivados pelo escritório estatal de publicidade, Lapam, que se reporta diretamente ao gabinete de Netanyahu.
Apesar desse esforço israelense, o apoio público a Israel nos Estados Unidos está despencando. Uma nova pesquisa do New York Times (NYT) e da Universidade de Siena mostrou que a maioria dos entrevistados apoiava os palestinos, superando o apoio a Israel pela primeira vez desde que a pesquisa começou a fazer essa pergunta, décadas atrás. 35% apoiavam os palestinos, enquanto 34% apoiavam Israel. Os demais entrevistados disseram que não sabiam ou não apoiavam nenhum dos lados.
Dias antes, uma pesquisa divulgada pela Universidade Quinnipiac revelou que apenas 47% dos cidadãos estadunidenses acreditam que apoiar Israel favorece os interesses de Washington. A pesquisa também revelou que 49% dos eleitores estadunidenses têm uma opinião negativa sobre o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. E apenas 21% têm uma opinião positiva sobre o primeiro-ministro.
Também revelou que 56% dos eleitores estadunidenses desaprovam a forma como o presidente dos EUA, Donald Trump, lidou com a guerra de Gaza. Os jovens nos Estados Unidos representam o maior declínio na aprovação das ações de Israel.
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