26 Setembro 2025
- “Trabalhando na comunicação dentro destas questões ambientais na proteção da nossa casa comum”
- “Pense na comunicação tendo em mente a ecologia integral, porque ela diz respeito à nossa sobrevivência, ao nosso presente e ao nosso futuro, ao nosso modo de ser e ao nosso modo de agir, ao nosso comportamento.”
- O MUTICOM foi "um momento muito importante para acordar, para ajudar a despertar a responsabilidade e para desmantelar o sistema vigente".
A reportagem é de Luis Miguel Modino, publicada por Religión Digital, 25-08-2025.
De 25 a 28 de setembro de 2025, Manaus sediará o 14º Encontro Brasileiro de Comunicação (MUTICOM), com o tema: “Comunicação e Ecologia Integral: Transformação e Sustentabilidade Justa”. O evento, que contará com mais de 400 participantes, pretende ser um espaço de troca e reflexão sobre políticas e práticas de comunicação, um momento de aprendizado a partir de uma metodologia sinodal baseada na escuta.

Manaus é sede do 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom). (Foto: CNBB/Reprodução)
Aumentar o cuidado com a nossa casa comum
O MUTICOM, organizado pela Arquidiocese de Manaus, tem como objetivo "abordar a questão de uma ecologia integral, mas especialmente alcançar um cuidado cada vez maior com a nossa casa comum", segundo o Arcebispo de Manaus, Cardeal Leonardo Ulrich Steiner. Um evento para "trabalhar a comunicação dentro dessas questões ambientais para a proteção da nossa casa comum ", nas palavras do Bispo de Campo Limpo e presidente da Comissão de Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Valdir José de Castro.
O MUTICOM vem reunindo diversos atores ao longo do processo, "que estão interagindo, integrando e somando forças, contribuindo para a concretização do evento", afirmou o Bispo de Oeiras e membro da Comissão de Comunicação da CNBB, Dom Edilson Soares Nobre. Ele enfatizou a importância, em consonância com o tema do encontro, de "pensar a comunicação tendo em mente a ecologia integral, porque ela diz respeito à nossa sobrevivência, ao nosso presente e ao nosso futuro, ao nosso modo de ser e ao nosso modo de agir, ao nosso comportamento".
Os povos indígenas estão sendo perseguidos por razões econômicas

14º Muticom. (Foto: Ana Paula Gioia Lourenço)
A questão da falta de cuidado com a nossa casa comum afeta particularmente os povos indígenas. Nessa perspectiva, o Cardeal Steiner, presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que participou da última assembleia do CIMI, denunciou "como os povos indígenas estão sendo perseguidos, mas por razões econômicas, para invadir cada vez mais suas terras para o agronegócio e a mineração".
Diante dessa situação, ele enfatizou a necessidade de que "o MUTICOM nos ajude a abrir os olhos, nos ajude a refletir e debater, a comunicar que por trás do nosso pensamento atual no mundo existe um sistema que domina, o sistema de mercado, o sistema econômico, que está destruindo o meio ambiente". O Arcebispo de Manaus enfatizou que "essa é uma relação econômica", o que leva o Cardeal Steiner a dizer que "se gradualmente percebermos que, na raiz das nossas relações atuais, a destruição do meio ambiente vem de um sistema que se impõe cada vez mais", algo que também tem a ver com a esfera política.
Ecologia integral não no horizonte do mercado, mas da fraternidade
Ele pediu ao MUTICOM que refletisse sobre uma questão: "Se queremos uma ecologia integral, se queremos uma casa comum, ela não pode estar no horizonte da economia, do mercado, mas no horizonte da fraternidade, no horizonte onde tudo está interligado". Daí a importância do MUTICOM como "um momento importantíssimo para despertar, para ajudar a despertar para a responsabilidade e para desmantelar o sistema que está sendo imposto ". Um sistema que está sendo imposto, citando como prova disso as decisões do Congresso Nacional, que têm por trás todo um horizonte econômico. Diante disso, "nós, como Igreja, temos outro horizonte, o horizonte da fraternidade, o horizonte das relações harmoniosas, que é a relação do Reino de Deus".
Um sistema que foi imposto ao longo dos últimos dois séculos, segundo o Arcebispo de Manaus, a ponto de ser considerado algo natural. Ele disse que "o Papa Francisco nos despertou, e muitas pessoas estão nos despertando; os povos indígenas nos ajudaram a despertar para que possamos realmente abrir os olhos e começar a discutir sem nos atacarmos". Nesse sentido, ele vê o MUTICOM como um espaço de colaboração, "não só na questão ambiental, mas também na questão das nossas relações, que hoje são muito fragmentadas ".
Numa perspectiva teológica, que conduz a uma leitura do horizonte da fé, do Reino de Deus, o Cardeal Steiner enfatizou que "o Reino de Deus se cumpriu em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado". Nessa perspectiva, "quando falamos de fraternidade e não de economia como algo essencial, estamos introduzindo um elemento teológico fundamental ", segundo o Arcebispo de Manaus. Ele citou o pensamento de São Francisco de Assis, que chama os vários elementos de irmãos, "por causa de uma relação adequada".
Todas as criaturas devem ter uma chance
Por isso, "a obra criada tem uma base teológica para nós, que somos Igreja, mas queremos alcançar pessoas que carecem dessa compreensão teológica". Essa afirmação parte do fato de que "em nosso horizonte de leitura, todas as criaturas devem ter oportunidades, porque tudo está relacionado. E se tudo está relacionado, cada pessoa deve ter seu lugar nesta casa comum", o que exige fraternidade e convivência harmoniosa.
Parafraseando as palavras do Papa Francisco, quando ele disse: "Tire as mãos da África", o Cardeal Steiner quer dizer: "Tire as mãos da Amazônia ". Isso porque "compreensão não é respeito", algo que ele baseia no sentido teológico, que "nos ajuda a entender as relações, e nós temos relações muito distorcidas".
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