26 Setembro 2025
"Francisco é um fio condutor que une fortemente a italianidade"
O artigo é de Mirella Serri, jornalista, publicado por La Stampa, 25-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Era magro, afetuoso e gentil, tinha o olhar febril de um grande visionário. São Francisco (cujo nome era Giovanni e cuja data de nascimento é incerta, 1181 ou 1182), apesar de se descrever como "uma galinha pequena e preta", não era nada disso e não era humilde. Seu orgulhoso lema era querer "sair do mundo" para criar outro, melhor. Então, eis que Francisco vai a Roma, à Basílica de São Pedro, para oferecer um grande saco de moedas, que propositalmente deixou cair no chão.
O barulho atraiu bastante atenção. Era sua maneira pública e explosiva de sinalizar o início de uma nova existência. Ele estava se distanciando de sua terra natal, Assis, e suas vicissitudes anteriores.
Havia sido um jovem de vida confortável e, junto com outros jovens festeiros e irreverentes, passava as noites bebendo e cantando. Agora, sua nova vida era uma forma visível de protesto contra um contexto social governado pela usura, pelas finanças, pelo dinheiro e por rígidas hierarquias. "Ele aprecia os gestos nobres, grandiosos e excêntricos", escreve Aldo Cazzullo em seu livro dedicado a San Francesco. Il primo italiano (São Francisco. O primeiro italiano, HarperCollins), por ocasião do 800º aniversário da morte do santo, falecido em outubro de 1226.
Cazzullo, vice-diretor e editorialista do Corriere della Sera, é o ensaísta mais vendido na Itália, com 2,5 milhões de cópias e traduzido em todo o mundo. Agora, reconstrói de forma original e insólita a vida do místico, que interpreta como uma figura fundadora da identidade italiana. O caminho percorrido pelo grande santo, autor do primeiro poema em italiano, o Cântico das Criaturas é repleto de dificuldades. Sua aventura começa com uma revolta contra o pai e um escândalo destinado a derrubar as regras de seu mundo estreito. Desobediente, irregular, acostumado a agir por impulso, rouba tecidos preciosos da loja de seu rico pai, Pietro di Bernardone, para doá-los à igreja de São Damião. Confrontado por Pietro, espancado até sangrar, é trancado em um quartinho. A Igreja o obriga a devolver os bens roubados ao pai. Em protesto, São Francisco se exibe nu em público. Não será a única vez que ele vai circular despido para chamar a atenção.
Começa para ele um período de grande pobreza e dificuldades. Depois de literalmente se despojar de todos os seus bens, Francisco encontrará seu primeiro seguidor no rico Bernardo de Quintavalle. O poverello de Assis também deu mostra de grande coragem ao participar da Quinta Cruzada em 1219 e se encontrando com o sultão do Egito, al-Malik al-Kamil. O soberano foi muito respeitoso com Francisco e até apreciou sua certa dose de impudência. Quando tiver que escrever uma nova Regra, mais elaborada, para seus coirmãos, Francisco teorizará: "Os frades que entrarem em contato com os infiéis e os sarracenos podem estabelecer um diálogo espiritual... o importante é que não se envolvam em brigas ou disputas... e que... inspirados e escutados, proclamem a palavra de Deus, para que infiéis e sarracenos creiam no Deus Todo-Poderoso."
Francisco, assim, desenvolve novas formas de proselitismo e de conversão. Mas também demonstra toda a sua modernidade, apresentando-se às multidões como um poderoso comunicador. O crescimento de sua comunidade é explosivo justamente graças à sua oratória: a Bíblia e o Evangelho são lidos por ele não como patrimônio exclusivo das elites e dos estudiosos, mas como alimento e prerrogativa do povo e das pessoas comuns. Essa é uma de suas revoluções extraordinárias. Soma-se a ela a sua consideração pelo mundo feminino, na época realmente pouco praticada. As mulheres entram igualitariamente no grupo de discípulos de Francisco, começando por Clara, que se definirá "a primeira plantinha de Francisco" e se distanciaria de sua aristocrática família dos Offreducci.
Em sua Carta aos Fiéis, Francisco por fim se dirige a todos os seres humanos. Ele também é o primeiro ambientalista e, enquanto exalta Água, Ar, Terra e Fogo, considera os humildes, os últimos e os leprosos seus seguidores mais amados. Em nome de sua relação direta com as pessoas, Francisco inventa o primeiro presépio vivo, que ele encena pela primeira vez em 24 de dezembro de 1223, em Greccio, um belíssimo vilarejo rochoso. "Deus nos tornará uma imensa multidão", prega.
Palavras santas, é preciso dizer. O exemplo do poverello de Assis inspirou os maiores italianos: foram terciários franciscanos Dante, Petrarca, Boccaccio e G. Iotto, Tasso, Volta, Galvani, Marconi, Dom Bosco, Manzoni, De Gasperi. Atualmente, cinco milhões de pessoas visitam o túmulo de São Francisco todos os anos. Se a Itália é uma superpotência cultural, também se deve a São Francisco, afirma Cazzullo. A Itália não se tornará um Estado por mais de seis séculos. No entanto, a longa sombra e a presença influente do grande místico em tantos setores — cultural, artístico, espiritual — torna a Itália, embora ainda dividida, a pátria de todos os italianos.
Francisco é um fio condutor que une fortemente a italianidade.
Leia mais
- São Francisco, o extremista da pobreza. Artigo de Alessandro Barbero
- Por que Francisco é o padroeiro da nossa identidade. Artigo de Marino Niola
- Uma outra face de Francisco de Assis. Entrevista especial com Chiara Frugoni
- São Francisco, companheiro de viagem entre os medos da mudança de época. Artigo de Roberto Repole
- A aventura de um pobre cavaleiro de Cristo. Francisco, Dante, Senhora Pobreza
- As feridas de São Francisco. Artigo de Marco Rizzi
- A pobreza evangélica segundo Francisco de Assis
- Francisco de Assis: cuidado, simpatia e ternura. Artigo de Leonardo Boff
- Francisco de Assis. O protótipo ocidental da razão cordial e emocional. Entrevista especial com Leonardo Boff
- São Francisco e os dons proféticos
- Francisco, santo que questiona a sociedade
- Francisco de Assis: Um Antecipador da História
- Por que São Francisco de Assis queria esconder seus estigmas?
- Uma outra face de Francisco de Assis. Entrevista especial com Chiara Frugoni
- Sobre os estigmas de São Francisco. Artigo de Piero Coda
- O processo de São Francisco de Assis
- Francisco, santo que questiona a sociedade
- Francisco de Assis, homem de paz
- Descoberta de uma nova oração de São Francisco de Assis
- São Francisco de Assis e a conversão ecológica: “o ser humano não vale mais do que os outros animais, as aves, os peixes e as flores”
