25 Setembro 2025
"Estamos colocando em risco a estabilidade dos sistemas de suporte da Terra. Mais de três quartos deles não estão mais dentro da zona de segurança", disse Johan Rockström, diretor do Instituto de Pesquisa de Mudanças Climáticas de Potsdam (PIK), enfaticamente na apresentação do último relatório do Laboratório de Ciência de Fronteiras Planetárias da organização científica alemã, divulgado na quarta-feira.
A reportagem é de Pablo Rivas, publicada por El Salto, 24-09-2025.
O trabalho, a terceira edição de um relatório que analisa os principais processos para o desenvolvimento da vida na Terra, certifica que a acidificação dos oceanos ultrapassou os limites considerados seguros para a vida marinha, o que significa que esta categoria se junta à lista de sistemas de suporte terrestres que já foram ultrapassados devido à atividade humana. Isso certifica algo que já havia sido antecipado em um estudo do Laboratório Marítimo de Plymouth (Reino Unido), da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) e da Universidade do Oregon (EUA), que quantificou a superação desse limite em diferentes pontos do planeta.
De um total de nove limiares, apenas dois permanecem dentro da zona de segurança: o buraco na camada de ozônio e a poluição por aerossóis e partículas na atmosfera. Os outros seis — todos além do limiar crítico considerado pelo PIK — são a crise climática, a integridade da biosfera (perda de biodiversidade), o uso de água doce, o desmatamento e a mudança no uso da terra, a introdução de novas entidades no meio ambiente (poluição química) e os fluxos biogeoquímicos de nutrientes (ciclagem de nitrogênio e fósforo). Todos esses fatores mostram sinais de piora em comparação com a edição anterior do relatório, publicada em 2024.
Outro problema causado pela era do petróleo
A inclusão da acidificação dos oceanos é impulsionada principalmente pela queima de combustíveis fósseis e pela crescente presença de CO2 na atmosfera. A água absorve os níveis cada vez mais elevados de dióxido de carbono presentes no ar, o que reduz o pH dos oceanos. Além disso, o problema é agravado pelo desmatamento e pelas mudanças no uso da terra, que "degradam a capacidade dos oceanos de atuarem como reguladores climáticos", de acordo com o PIK.
Os dados analisados e compilados no relatório, intitulado Saúde Planetária 2025, indicam que o estado médio global de saturação de aragonita na superfície, um indicador da acidificação dos oceanos, é agora de 2,84, logo abaixo do limite planetário PIK revisado de 2,86. Esse valor significa que o pH atual é apenas 80% do que era antes da era pré-industrial e que o pH caiu 0,1 unidade desde então, implicando um aumento na acidificação dos oceanos entre 30 e 40%, detalha a pesquisa.
Como aponta Levke Caesar, cientista do PIK e um dos coautores do estudo, embora "o problema seja global e afete todas as áreas dos oceanos, o fenômeno é mais agudo nas regiões polares". Afeta também ecossistemas-chave, como corais de água fria e recifes tropicais. "Os níveis de oxigênio estão diminuindo e as ondas de calor marinhas estão se intensificando. Isso está aumentando a pressão sobre um sistema vital para a estabilidade do planeta Terra", acrescenta Caesar, que observou que esse problema afeta toda a cadeia alimentar, impactando particularmente os pterópodes, fonte de alimento para diversas espécies, incluindo aquelas consumidas por humanos.
Sem mares saudáveis não há planeta saudável
Como observou a oceanógrafa Sylvia Earle durante a apresentação do relatório, "o oceano abriga a maioria das espécies do planeta", representando mais de 90% do espaço vital do planeta em volume e o maior reservatório de biodiversidade do planeta. Mas, além disso, Earle enfatizou que os mares são "o sistema de suporte à vida do nosso planeta". "Por bilhões de anos, o oceano tem sido o grande estabilizador da Terra: gerando oxigênio, regulando o clima e sustentando a diversidade da vida. Hoje, a acidificação é um sinal de alerta crítico. Ignorá-la pode causar o colapso dos alicerces do nosso mundo."
Embora sete dos nove limites planetários analisados estejam indo na direção errada, a agência alemã enfatizou que a cooperação humana para conter o problema poderia reverter a situação em 180°C. Caesar lembrou como o Protocolo de Montreal, resultado da cooperação global entre humanos, interrompeu o buraco na camada de ozônio, que agora mostra sinais claros de recuperação. "A ação global funciona", enfatizou na apresentação do relatório nesta quinta-feira.
Na mesma linha, o diretor do PIK observou: “Embora a situação seja crítica, ainda há tempo para agir. O fracasso não é inevitável; é uma escolha. Uma escolha que devemos e podemos evitar.”
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