04 Setembro 2025
"Com seu moralismo seletivo e legalismo interesseiro, as 'redes de comunicação' têm aderido gostosamente à infâmia, sempre que esta lhes acena com maior 'sucesso'", escreve Marcelo Seráfico, professor do Departamento de Ciências Sociais da UFAM.
Eis o artigo.
Recentemente, em texto intitulado “Passado, volver!”, Merval Pereira, jornalista da Rede Globo de Comunicação e imortal da Academia Brasileira de Letras, expressou sua indignação com o empenho dos deputados federais reacionários (neofascitas e direitistas de todas as variantes) em aprovar medida que lhes conceda a graça de escapar de processos judiciais e da própria Justiça. Faço coro com o editorialista Global, pois os senhores deputados, ao pretenderem blindar-se da Justiça, assumem uma condição singular na ordem institucional do país, a de foragidos que não foram intimados, julgados e muito menos condenados.
Bom, alguns já respondem por seus atos no judiciário...
O povo sabe: “o seguro morreu de velho”. A singularidade do momento nacional não se esgota nisso, ela vem do fato de que as instituições estão funcionando. Mesmo o legislativo, poder movido exclusivamente por casuísmos, hoje, parece seguir o que determina a Constituição, graças aos freios do judiciário. Até o MPF, conhecido por ser puxadinho de presidentes, cumpre seu papel.
Aliás, apesar de várias limitações, é preciso reconhecer que nos governos do Partido dos Trabalhadores não houve ou não se sabe de nenhuma tentativa de engavetar investigações – como ocorria nos do PSDB – nem de omitir-se – como nos de Temer e Bolsonaro.
Daí outra singularidade emblemática da situação que vivemos: o PT, que muitos ainda acreditam ser de esquerda, é o único partido da ordem que defende, de fato, a ordem. Os que se identificam com as várias modalidades de reacionarismo são, a rigor, vândalos dispostos a destruir tudo que fira seus interesses.
E, a esse propósito, cabe não esquecermos de um outro agente que, autointitulado defensor da ordem legal, muito tem contribuído para sua subversão, a grande imprensa. Com seu moralismo seletivo e legalismo interesseiro, as “redes de comunicação” têm aderido gostosamente à infâmia, sempre que esta lhes acena com maior “sucesso”.
Infâmia, sucesso de audiência e verdade jamais caminham juntas.
As empresas de comunicação tradicionais e muitos “empreendedores digitais” também são agentes da desordem.
Daí mais uma singularidade do momento: a grande imprensa parece ainda não ter chegado a bom termo com os partidos reacionários acerca do vir a ser do país. Logo, ainda não pode fazer o que fez ao longo da Lava-Jato, um acórdão com Supremo e com tudo, como orientou Romero Jucá (lobbista, por hora sem mandato).
Mas esse momento de comunhão chegará. Assim que for escolhida a “terceira via”, isto é, o candidato forjado no submundo das elites, tudo se resolverá.
Aguardemos para ver até onde vai a merválica indignação.
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