01 Setembro 2025
As tropas da Guarda Nacional posicionadas com armas ao redor do Capitólio — as mesmas que demoraram tanto para serem ativadas durante o ataque de 6 de janeiro de 2021 — deixam claro aos legisladores que retornam ao Congresso dos EUA após o recesso de verão que estão retornando a uma capital e a um cenário político transformados. O novo rumo político se impõe: determinará se Donald Trump alcançará suas ambições de assumir ainda mais controle em áreas que vão da economia às eleições, antes das importantes eleições de meio de mandato do próximo ano, nas quais a distribuição de poder poderá mudar.
A reportagem é de Macarena Vidal Liy, publicada por El País, 01-09-2025.
O Congresso reabre sua sessão legislativa nesta terça-feira, com uma longa lista de tarefas pendentes e sob a sombra de um Trump convencido de que seu poder não deve ser restringido. O clima pós-feriado é mais do que complicado: além das disputas sobre o orçamento federal, a disciplina fiscal e a dura política imigratória do presidente, há também confirmações de nomeações importantes na administração e no controle de cidades.
Além disso, Trump persistirá em sua tentativa de tomar o poder orçamentário do Congresso. Somando-se a todo esse atrito entre as mais altas instituições do país está a decisão de um tribunal de apelações de anular a maior parte da política tarifária de Trump, um revés que enfureceu o republicano e, se suas ameaças de apelar se confirmarem, a Suprema Corte terá que decidir nos próximos meses.
Talvez em nenhum lugar as tensões sejam mais visíveis do que nas ruas. Manifestações sindicais estão planejadas para esta segunda-feira em cidades americanas, incluindo milhares de trabalhadores do setor de hospitalidade em frente à Trump Tower, em Nova York, sob o lema "Trabalhadores vs. Milionários". A Guarda Nacional e a polícia federal patrulham Washington há três semanas sob ordens do presidente.
Trump afirma que a medida é essencial para combater o crime supostamente desenfreado e ameaça tomar medidas semelhantes em outras cidades de maioria democrata, de Baltimore a Chicago, no que os líderes da oposição chamaram de "crise fabricada", criada para desviar a atenção pública de outros problemas de Trump: a controvérsia em torno do caso do pedófilo Jeffrey Epstein, a impopularidade de sua lei orçamentária, a falta de um cessar-fogo na Ucrânia, apesar de suas tentativas de mediação, e agora, o retrocesso tarifário.
O prefeito de Chicago, Brandon Johnson, emitiu uma ordem municipal com o objetivo de neutralizar a possível ordem do presidente de colocar a polícia local sob controle do governo. "O Departamento de Polícia de Chicago está sob a autoridade exclusiva do prefeito", declarou ele, "e não cooperaremos com agentes federais na fiscalização da imigração ou em outras operações". No Capitólio, os republicanos, ansiosos por tornar o combate ao crime uma questão central antes das eleições de meio de mandato, estão elaborando um projeto de lei "Combate Abrangente ao Crime".
No Congresso, o primeiro grande desafio acontecerá esta semana, em torno de uma das questões mais importantes de Trump: o controle do Federal Reserve (Fed), cuja independência é fundamental para a saúde da economia americana. O presidente está pressionando cada vez mais este órgão independente para que siga sua liderança na política monetária, incluindo um amplo corte nas taxas de juros.
Na terça-feira, um juiz retomará o processo movido por Lisa Cook, uma das sete presidentes do banco central, contestando as tentativas do presidente de demiti-la. Trump alega que as supostas violações de hipotecas da ex-acadêmica o obrigam a tomar essa medida; ela responde que é uma manobra para substituí-la por alguém próximo à Casa Branca e obter o controle do conselho de governadores. Na quinta-feira, o Comitê Bancário do Senado começará a analisar a nomeação de Stephen Miran, atualmente diretor do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, para preencher outra vaga no conselho. Sua nomeação e a demissão de Cook dariam ao presidente a maioria.
Este não é o único assunto urgente. A Casa Branca marcou um ponto neste verão ao conseguir que o Congresso aprovasse seu "Grande e Belo Projeto de Lei" (como Trump o chama) in extremis. Ele prevê cortes sociais significativos, mas reduções de impostos para as elites. Mas a trégua de verão está prestes a ser quebrada: 30 de setembro é o prazo final para o Congresso aprovar medidas fiscais e um novo teto da dívida, para evitar a ameaça periódica de uma paralisação do governo. Os republicanos, arraigados em sua determinação de implementar a agenda trumpista, estão em conflito com os democratas sobre alocações de verbas e cortes em programas sociais, mas precisam de seus votos para aprovar uma medida de curto prazo.
A Casa Branca introduziu um novo obstáculo que dificulta o alcance dessa meta pelo Congresso. Esta semana, Trump anunciou que cancelará US$ 4,9 bilhões (€ 4,2 bilhões) em ajuda externa já aprovada pelos legisladores, empregando um mecanismo de anulação legislativa que nenhum presidente utilizou em meio século. Se os deputados e senadores permitirem, Trump poderá usar essa ferramenta repetidamente no futuro para tirar do Congresso o que até agora tem sido a joia da coroa de seus poderes: o poder de decidir o que os Estados Unidos pagam — e o que não pagam.
A decisão de Trump gerou protestos até mesmo dentro de seu próprio partido. Em um comunicado, a senadora Susan Collins, republicana do Maine, observou que a Constituição "deixa claro que o Congresso tem a responsabilidade de destinar verbas". Qualquer tentativa de retirá-lo desse poder "sem a aprovação do Congresso é uma clara violação da lei", lembrou.
A medida, anunciada em carta ao presidente da Câmara, Mike Johnson, faz parte das tentativas de Trump de tomar o poder e tirá-lo do Congresso — que, sob o controle republicano, mal se manifestou, com exceções como a de Collins — e de entidades independentes: não apenas o Federal Reserve (Fed), mas também instituições públicas não políticas. É o caso dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a maior rede de proteção à saúde pública dos Estados Unidos, que esta semana viu sua diretora, Susan Monarez, ser demitida por se recusar a aceitar as diretrizes de vacinação apoiadas pelo Secretário de Saúde, Robert Kennedy. Kennedy também comparecerá perante uma comissão do Senado esta semana para explicar a gestão de seu departamento.
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