25 Agosto 2025
Pelo menos 800 mil pessoas migrarão para o sul. Ahmed, 23: "Zonas humanitárias? Não sei se rir ou chorar. Todos aqui venderam o que tinham para comprar comida e água." Ramallah. Ontem foi um bom dia para Ahmed. O estrondo das bombas pontuou a noite em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, como sempre, mas pela manhã a água chegou ao campo de Mawasi. Um caminhão-tanque doado por um generoso doador dos Emirados chegou na periferia da cidade de lona que surgiu na praia. Os homens enchem os galões, um pequeno grupo com roupas gastas e rostos sem expressão. "Agora, todos aqui já venderam o que tinham para comprar comida e água. Não sei se rir ou chorar quando ouço políticos e comandantes israelenses falarem sobre zonas humanitárias, sobre o sul ser um lugar seguro", relata Ahmad, de 23 anos, ao Avvenire. Antes de 7 de outubro, ele estudava economia para escapar da pobreza generalizada do enclave.
A reportagem é de Luca Foschi, publicada por Avvenire, 23-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Esses são os lugares, as alucinações desumanas para as quais já estão se dirigindo milhares de moradores da Cidade de Gaza, cercada e bombardeada nas fases preliminares da Operação "Carruagens de Gideão 2", que começou na madrugada de quinta-feira. Pelo menos 800 mil pessoas migrarão gradualmente para o sul, um êxodo que aumentará à medida que os bombardeios se intensificarem e o cerco se apertar. Sara, de 37 anos, paramédica voluntária da Crescente Vermelho, tem razão em insistir que sua gravação seja ouvida. Explosões reverberam ao redor da tenda no campo de al-Karamah, ao norte da Cidade de Gaza. A voz de uma idosa invoca gentilmente Deus em uma ladainha. Destruição e oração, morte e oração, solidão e oração. Voz e ruído se fundem em uma mensagem demasiado grande e cruel. Uma música insuportável, luminosa. "Não há itens de primeira necessidade, nem água para beber ou se lavar neste calor intenso. Há poucas semana, tive cólicas fortes e me senti fraca. Sentia como se meus intestinos tivessem sido cortados com uma faca. Eu não tinha remédios.
Meu irmão Zakaria foi morto enquanto estava em viagem para nos trazer um saco de farinha da zona de ajudas humanitárias estadunidense. Moro em casa com minha mãe, uma senhora idosa, e minhas irmãs", conta Sara. "Sempre sonho que estou comendo frutas e carne. Depois acordo e percebo que é um sonho. Choro, falo sozinha e volto a dormir. Também trabalho no campo do apoio psicológico, tentando aliviar a dor dos outros, e acabo levando para casa a energia negativa do desespero que encontro. Não encontro ninguém que possa aliviar a minha. Quando um lugar perto de mim é bombardeado, corro imediatamente e tento ajudar os feridos, mas cada vez mais me deparo com grandes dificuldades porque não tenho equipamento de primeiros socorros. Não acredito no que dizem, na possibilidade de uma trégua. Esta cidade é onde cresci, nunca gostaria de ir embora, mas sairei quando a ordem de evacuação chegar."
Essa é a voz dos inocentes da Cidade de Gaza, dos inocentes de toda a Faixa, arrasados, apagados pela grande e impiedosa história: "Estamos numa selva onde todos são predadores, não há lugar para nós."
"Você acorda todas as manhãs", conclui, "e à sua frente não há natureza, mar ou chuva. Caminho mais de dez quilômetros todos os dias entre mortos e escombros. Perdi mais de 40 pessoas da minha família alargada. Apenas espero a minha vez de morrer. Quase chego a desejar a morte a todo momento, porque esta vida não é digna."