Leão XIV e os “padres casados” na Amazônia: o povo de Deus precisa de comunhão

Foto: joycedragan/Canva

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19 Agosto 2025

Em telegrama enviado aos bispos da região, Prevost não fala abertamente em "viri probati", mas recomenda que eles se comprometam a garantir "o alimento celestial da Eucaristia", que as comunidades da floresta devem esperar durante meses na ausência de padres.

A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 19-08-2025.

Ele não entra abertamente no antigo debate sobre viri probati, homens casados de fé comprovada que, na ausência de um padre, efetivamente desempenham algumas funções sacerdotais, como dar a comunhão aos fiéis, mas o Papa Leão XIV parece abrir essa perspectiva em uma mensagem que enviou aos bispos da Amazônia, onde a hipótese foi levantada diversas vezes.

Depois do Sínodo da Amazônia

A questão também foi abordada em Roma há alguns anos, na assembleia sinodal convocada pelo Papa Francisco sobre a Amazônia. A maioria dos padres sinodais solicitou a possibilidade de "padres casados" serem introduzidos na vida da Igreja, porque nas vastas extensões da Amazônia existem comunidades católicas remotas onde um padre não é visto por meses e os fiéis, consequentemente, permanecem por longos períodos sem a Eucaristia, que é a pedra angular da vida cristã. O Papa Francisco, no entanto, decidiu não se pronunciar: não endossou o pedido sinodal nem o rejeitou.

Embora até então o debate estivesse aberto, opondo progressistas a favor dos viri probati contra conservadores na Amazônia, a demanda não se acalmou. Além de ter um número notável de seguidores dentro do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), a Repam (Rede Pan-Amazônica) tem apoiado esta e outras soluções pastorais criativas nos últimos anos. Enquanto isso, a Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), uma assembleia permanente de clérigos, religiosos e leigos, também tomou forma, onde a ideia de viri probati goza de amplo apoio. E agora o Papa Leão XIV, que serviu como bispo do Peru por dez anos, enviou um telegrama aos bispos da Ceama, atualmente reunidos em Bogotá, Colômbia, assinado pelo Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin: um texto muito distante das habituais mensagens de circunstância.

Uma “imensa caridade”

"Levando em conta o que aprendemos no Sínodo sobre ouvir e participar de todas as vocações na Igreja", escreveu Prevost em sua mensagem ao cardeal peruano Pedro Barreto, um jesuíta, "exorto-o a buscar, com base na unidade e colegialidade próprias de um 'corpo episcopal', maneiras de ajudar concreta e efetivamente os bispos diocesanos e os vigários apostólicos no cumprimento de sua missão". "É essencial", escreveu Parolin em nome do Papa, "que Jesus Cristo, em quem todas as coisas estão resumidas, seja proclamado com clareza e imensa caridade entre os habitantes da Amazônia, para que possamos nos comprometer a dar-lhes o pão fresco e puro da Boa Nova (o Evangelho, ndr.) e o alimento celestial da Eucaristia, o único caminho", enfatizou, "para sermos verdadeiramente o povo de Deus e o corpo de Cristo".

Contra a exploração das pessoas e do meio ambiente

Na mensagem, o Papa também aponta para outras duas "dimensões interconectadas da ação pastoral" na Amazônia: "o tratamento justo dos povos que ali vivem" e "o cuidado da nossa casa comum". De fato, afirma a mensagem, "toda exploração do homem pelo homem desaparece se formos capazes de nos acolher como irmãos e irmãs". Também é necessário "cuidar da 'casa' que Deus Pai nos confiou como administradores solícitos, para que ninguém destrua irresponsavelmente os bens naturais que falam da bondade e da beleza do Criador, muito menos se submeta a eles como escravo ou adorador da natureza, visto que essas coisas nos foram dadas para alcançar o nosso propósito de louvar a Deus e, assim, obter a salvação das nossas almas", escreve o Papa, citando Santo Inácio de Loyola, fundador dos Jesuítas. O telegrama papal, um acontecimento bastante raro, foi divulgado pelo Vaticano em cinco idiomas: espanhol, francês, inglês, português e italiano.

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