18 Agosto 2025
Crianças precisam de modelos de superação de conflitos. Não há vida em sociedade sem conflitos. “O mais importante é domar os conflitos. É perceber que eles não são uma disfunção, mas sim parte de toda a vida social”, definiu o professor honorário da Universidade de Formação de Professores de Lausanne, Bernard André.
A informação é de Edelberto Behs.
“Os humanos – disse – continuam sendo seres fundamentalmente violentos, o que lhes permitiu dominar o planeta”. Os conflitos frequentemente se transformam em violência, seja verbal, psicológica ou física. “Aceitar os conflitos nos permite abordá-los com mais calma e um pouco menos defensivos. Isso abre o diálogo e um caminho positivo a seguir”, recomendou André em entrevista para o jornal Reformado, da Suíça.
Na educação, acentuou, é importante valorizar os conflitos diferenciando-os da violência. Mas, infelizmente, na maioria das vezes, as crianças se deparam com poucos modelos que lhes permitam superá-los com respeito a si mesmos e aos outros.
A mesma coisa acontece na igreja. “Os conflitos são mal vivenciados. Muitas vezes, são vistos como uma disfunção que deve ser evitada, e isso contribui, paradoxalmente, para o surgimento de comportamentos como exclusão, calúnia ou fofoca”, identificou.
André se mostrou surpreso com a falta de compreensão generalizada do que é o perdão. O perdão, descreveu, não é esquecer a ofensa sofrida, nem a obrigação de renovar um relacionamento e muito menos uma forma de pedido de desculpas. “Perdoar é, antes de tudo, ser capaz e escolher renunciar sentimentos de hostilidade e pensamentos associados, como a vingança, e os comportamentos destrutivos, como a violência verbal, física ou atitudinal”, enunciou, alertando que isso pode levar tempo.
Quando a igreja impõe o perdão como dever moral, mencionou o padre jesuíta Guilhem Causse, professor da Faculdade Loyola de Paris, também em entrevista ao jornal Reformado, ela o perverte. “Isso prejudica tanto os indivíduos quanto a própria mensagem do Evangelho, o que pode se constituir num verdadeiro obstáculo ao perdão autêntico”.
O perdão, disse o jesuíta, é, antes de tudo, uma experiência de alteridade. “Pressupõe que reconheçamos a pessoa que nos ofendeu como sujeito, não apenas como definida por suas ações. Mas hoje essa consciência é cada vez mais difícil devido ao individualismo predominante”, reconheceu.
Oliver Clerc, escritor e conferencista, prefere o convite à experimentação. Ele introduziu os Círculos do Perdão, que permitem que as pessoas o vivenciem concretamente, fora de qualquer contexto religioso, mas sem negá-lo.
Para o teólogo Jacques Buchhold, “além da dimensão vertical que os cristãos atribuem ao perdão e que se concretiza na relação com Deus, há uma dimensão horizontal do perdão que se realiza entre os seres humanos e sem a qual as relações entre eles seriam impossíveis”. Ele sustenta que a primeira condição para o perdão continua sendo o reconhecimento da culpa. “Se esse reconhecimento ocorrer, então tudo é perdoável”, afirmou.
Clerc arrolou, no entanto, que muitas pessoas associam o perdão a uma obrigação moral ou religiosa, que induz à culpa. “Às vezes, as pessoas até se afastam dele, embora seja, acima de tudo, um processo de cura”.
Os efeitos do perdão não são apenas simbólicos, eles até podem ser mensuráveis, sustenta Clerc. “O perdão como um alívio e seus efeitos podem ser físicos, chegando a estender a expectativa de vida”, porque ele funciona como a descarga de um fardo. “Não perdoar é manter a infecção dentro de você. Estudos indicam que isso reduz o estresse
crônico, melhora a qualidade do sono e promove a resiliência psicológica”.
O jesuíta Causse concorda: O perdão “permite o fim do ressentimento, uma sensação de calma e de auto reintegração. É uma forma de resiliência que permite que você conviva com os outros novamente. Dessa forma, o perdão não apaga o passado, mas o transforma”. Ele lembrou a filósofa judia Hanna Arendt, que reconheceu no perdão praticado por Jesus uma possibilidade humana fundamental de ir além da lógica da dívida e da vingança.