21 Julho 2025
"Se o passado ainda fala aos olhos da era atual do presentismo, não podemos esquecer que não beneficiou a Igreja confiar nas regras sutis da diplomacia entre atores políticos cuja respeitabilidade é reconhecida, independentemente do que façam, mesmo genocídio", escreve Daniele Menozzi, historiador do cristianismo e professor emérito da Normale di Pisa, em artigo publicado por Settimana News, 20-07-2025.
"Parem o massacre desnecessário de inocentes." A frase apareceu na primeira página do L'Osservatore Romano em 18 de julho. Seu significado ficou claro ao ser colocada sobre uma fotografia dos funerais de duas vítimas do bombardeio israelense à Igreja da Sagrada Família, na Faixa de Gaza.
Foi uma reimpressão literal de um trecho da declaração que a Sala de Imprensa do Vaticano, por meio de seu canal no Telegram, publicou para dar conta de um telefonema que o Papa fez com o Cardeal Pizzaballa, quando este, junto com o Patriarca Ortodoxo de Jerusalém, Teófilo III, entrou na Faixa de Gaza devastada pela guerra.
Levaram auxílio a uma população massacrada por contínuos ataques militares e reduzida à exaustão pelos obstáculos colocados, mesmo com o uso de armas, no fornecimento de alimentos, água e medicamentos.
Não sabemos se o Papa realmente disse essas palavras ou se foram uma reformulação do discurso papal pelo serviço de inteligência da Santa Sé. O termo "massacre" aparece várias vezes no artigo do jornal do Vaticano, incluindo entre aspas um discurso proferido pelo Patriarca Latino. No entanto, nunca é acompanhado pelo adjetivo "inútil".
O termo "massacre" nem sequer aparece no comunicado de imprensa sobre a conversa telefônica entre o primeiro-ministro israelense e o pontífice. Tampouco esse substantivo é encontrado em nenhum dos discursos públicos de Leão XIV — pelo menos na versão disponibilizada pelo site oficial do Vaticano, que está atualmente sendo reestruturado.
No entanto, não se pode deixar de notar a importância de usar a expressão "massacre inútil", mesmo que apenas por meio de um canal de comunicação não oficial. A expressão tem um poderoso poder evocativo.
Na memória eclesiástica, refere-se à censura expressa na famosa nota de agosto de 1917 por Bento XV a respeito da Grande Guerra. Ela ressurge em grande parte de forma autoabsolvente. Permite-nos evitar a reflexão sobre os graves compromissos das igrejas nacionais, a começar pela italiana, na legitimação ética daquela imensa tragédia.
Mas a referência à frase vai além da função consoladora da memória. Ela desempenha um papel importante na definição da atitude da Igreja em relação à guerra. Afirmar a futilidade de um conflito mina o próprio fundamento da doutrina tradicional da guerra justa.
O critério subjacente que tradicionalmente levou à moralização da violência bélica reside na consideração de que, embora seja um mal, pode tornar-se necessária. Uma vez que todas as vias possíveis de negociação falharam, os governos recorrem legitimamente às armas quando estas constituem o único meio de restaurar a justiça violada nas relações entre os povos.
Obviamente, se o uso de armas for declarado inútil, essa suposição cai por terra. A guerra torna-se então pura e simplesmente um mal sem justificativa ética.
O Papa Francisco — como demonstra o excelente livro de Giovanni Cavagnini, Inutile strage. Storia di una locuzione (Biblion, 2024) — fez uso extensivo da frase. Ele a vinculou a uma tese que resumiu em sua famosa frase: "Não existem guerras justas, elas não existem".
Bergoglio então mudou de tom diante das contingências históricas. Em particular, diante da invasão russa da Ucrânia, viu-se forçado a confrontar o problema de se posicionar sobre a legitimidade moral da autodefesa. O pontífice então afirmou que a guerra é "sempre um erro".
A comunidade eclesial foi, portanto, chamada a revisitar e aprofundar sua compreensão da doutrina da guerra justa. Entretanto, a Santa Sé a manteve como ponto de referência para orientar os fiéis. Eles se encontravam em uma situação em que não estavam equipados para implementar novos meios, como a não violência ativa, capazes de deter o desencadeamento da violência armada destrutiva.
Não é por acaso que o Secretário de Estado, Cardeal Parolin, se referiu a esse mesmo conceito ao definir a posição de Roma em relação às operações militares conduzidas pelo governo de Jerusalém na Faixa de Gaza.
Em setembro de 2024, em um discurso proferido no contexto oficial das Nações Unidas, ele se referiu à doutrina tradicional da guerra justa. Enfatizou especificamente o princípio da proporcionalidade na resposta militar a um ataque injusto, como o perpetrado pelo Hamas. O massacre de civis inocentes por tropas israelenses questionou precisamente sua legitimidade moral.
O uso do termo "massacre sem sentido" pela Sala de Imprensa do Vaticano parece indicar uma mudança na postura da Santa Sé ao avaliar a conduta de Israel em Gaza. A questão deixa de ser o cumprimento de um dos critérios para uma guerra justa — a proporcionalidade da resposta militar ao ataque do Hamas — e passa a ser o cerne dessa doutrina: a legitimidade de uma resposta militar a um ataque injusto.
De fato, se for uma guerra sem sentido, qualquer justificativa ética possível baseada em autodefesa entra em colapso. Aos olhos de Roma, a operação militar israelense em Gaza não parece mais um ato conduzido de maneiras que questionam sua moralidade, mas sim um ato imoral em si. Não visa restaurar um sistema de justiça violado, mas constitui um mero ato de violência imotivada.
Ainda temos que esperar para ver se o discurso público de Leão XIV refletirá essa mudança. Enquanto isso, na edição de 19 de julho do jornal do Vaticano, o termo "massacre" desapareceu. No entanto, o termo "proporcionalidade" reapareceu.
Talvez ainda estejamos presos no meio de um jogo diplomático entre potências. O governo de Jerusalém justificou o bombardeio da Igreja da Sagrada Família alegando que foi um erro. Sem responder que o comportamento atual na Faixa de Gaza não dá credibilidade a tal afirmação — em um esforço para manter as relações calmas entre as potências — a Santa Sé vazou, por meio da mídia, que estamos nos aproximando de um limite intransponível.
Em suma, além de advertências, exortações, invocações e orações, Leão XIV poderia expressar censura moral. O uso do termo "massacre inútil" seria uma clara manifestação disso. Reconhecer essa mudança de postura do Vaticano, no entanto, não impede a reflexão.
Se o passado ainda fala aos olhos da era atual do presentismo, não podemos esquecer que não beneficiou a Igreja confiar nas regras sutis da diplomacia entre atores políticos cuja respeitabilidade é reconhecida, independentemente do que façam, mesmo genocídio. Os arquivos do Vaticano demonstram hoje, de forma inequívoca, a cegueira do diplomata Pio XII em relação às atrocidades da guerra nazi-fascista.