24 Junho 2025
"Haverá realmente necessidade de uma terceira guerra mundial para voltar a esses objetivos de paz, ou é mais provável que essa guerra futura, esperando que nunca aconteça, leve a um mundo organizado como o regime de Netanyahu ou o de Khamenei, um mundo onde civis são mortos e os opositores balançam nas forcas?"
O artigo é de Anna Foa, historiadora, escritora, intelectual da religião judaica, publicado por La Stampa, 23-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Essa nova fase do conflito entre Israel e o Irã também abre caminho para novos medos e novas incertezas. Em Israel, parece prevalecer, por enquanto, a satisfação pelos duros golpes infligidos ao eterno inimigo, o Irã.
Se, num primeiro momento, não foram poucas as vozes que se perguntaram qual era a sua ligação com a condenação cada vez mais ampla no mundo da política de Israel em Gaza e na Cisjordânia, e se esse ataque parecia inicialmente uma manobra de diversão, uma tentativa de fazer esquecer os infinitos mortos de Gaza, a sua população deliberadamente reduzida à fome, o crescente isolamento do país, ainda assim Israel rapidamente se recompactou em torno de uma avaliação substancialmente positiva do ataque ao Irã e às suas instalações nucleares.
Não por parte de todos, claramente, mas certamente por parte de uma grande parte da esquerda, que agora distingue entre a política de Netanyahu em relação ao Irã e a política em relação aos palestinos, esquecendo o caráter cada vez mais genocida que, no silêncio do país, esta última assume, com os disparos cotidianos do exército contra as filas de civis que esperam para receber pão.
O processo foi rápido, talvez possamos atribuí-lo ao fato de que quem vence atrai seguidores – e apesar das represálias dos mísseis iranianos, Israel parece vencedor – ou também, numa interpretação mais benevolente, ao fato de que Netanyahu lançou um apelo à mudança de regime, um regime, o iraniano, sanguinário e despótico e, como bem sabemos, certamente difícil de apoiar. Por enquanto, Israel se mantém firme, seus habitantes passam nos abrigos muitas horas do dia e, principalmente, da noite, o país está fechado, tudo está parado. Mas quanto tempo poderá resistir nessa situação? Encontramos uma dificuldade semelhante nas reações dos iranianos e, em particular, da oposição ao regime dos aiatolás, tanto no Irã quanto na diáspora. Por um lado, os ataques que atingem zonas residenciais e civis não podem deixar de suscitar o receio de que se possa chegar a uma situação pelo menos potencialmente semelhante à de Gaza, com muitos mortos entre os civis. Além disso, as notícias que chegam das cidades iranianas nos falam de um endurecimento do controle, de ruas desertas patrulhadas apenas pela polícia, de opositores considerados cúmplices de Israel e de Trump. Em meio a tudo isso, as definições triunfantes de Trump e Netanyahu, no mínimo prematuras, parecem feitas de propósito para jogar lenha na fogueira.
E o resto do mundo? E a União Europeia, que imediatamente antes do ataque de Israel ao Irã parecia pelo menos parcialmente pronta para finalmente reagir à destruição de Gaza, reconhecer um Estado da Palestina e isolar Netanyahu e suas escolhas nefastas? É difícil sancionar quem recebe mísseis na cabeça, quem se esconde atrás de apelos para derrubar um governo cuja queda todos desejamos, ou lembrar que apenas alguns dias antes de 7 de outubro, em uma das grandes manifestações contra Netanyahu, os manifestantes gritavam “O Irã é aqui” para enfatizar que Israel estava se tornando semelhante à República Iraniana.
Em tudo isso, as organizações internacionais parecem cada vez mais fracas, tornadas impotentes não apenas por Israel e pelos Estados Unidos, mas também pela destruição sistemática e generalizada do que, após os desastres da Segunda Guerra Mundial, havia sido concebido para acabar com as desigualdades, os genocídios e as guerras.
Haverá realmente necessidade de uma terceira guerra mundial para voltar a esses objetivos de paz, ou é mais provável que essa guerra futura, esperando que nunca aconteça, leve a um mundo organizado como o regime de Netanyahu ou o de Khamenei, um mundo onde civis são mortos e os opositores balançam nas forcas? A guerra contra o Irã, aquela do Irã contra Israel, aquela de Israel contra os palestinos levam a essa trágica equivalência. Por isso, para todos nós, elas devem ser detidas.