25 Junho 2025
"A participação no Jubileu dos governantes é tudo menos uma mera liturgia institucional: é um sinal, nem mesmo muito velado, de que esse governo vê no novo Pontífice uma referência de valores, senão mesmo um suporte político".
O artigo é de Giacomo Galeazzi, vaticanista, publicado por La Stampa, 22-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como bússola para legislar, o Pontífice indica a lei natural “não escrita por mãos humanas, mas reconhecida como válida universalmente e em todos os tempos”. Cita Cícero: "É a reta razão. Não é lícito fazer modificações ou retirar qualquer parte dela, nem a abolir completamente. Uma única lei imutável governa os povos para sempre". Leão XIV define a agenda para os governantes que celebram seu Jubileu: combater a pobreza e as desigualdades, promover a liberdade religiosa e o diálogo entre as religiões, enfrentar o desafio inevitável da inteligência artificial. Representando a Itália esteve Giorgia Meloni, juntamente com Lorenzo Fontana e Alfredo Mantovano. 68 delegações nacionais e administradores de todo o mundo.
"A política é a forma mais elevada da caridade e tem por missão superar a desproporção inaceitável entre uma riqueza possuída por poucos e uma pobreza desmedidamente generalizada. Aqueles que vivem em condições extremas clamam para fazer ouvir a sua voz e muitas vezes não encontram ouvidos dispostos a escutá-la". Esse desequilíbrio gera situações de "injustiça permanente" que resultam em violência e guerra.
Na ação política, a referência essencial é precisamente “a lei natural universalmente válida acima de outras convicções de natureza mais opinável”. Eis “a bússola com a qual se orientar na legislação e na ação, em particular sobre delicadas questões éticas que hoje se colocam de forma muito mais contundente do que no passado, tocando a esfera da intimidade pessoal”. A pessoa em sua integridade inviolável é “o fundamento da busca da verdade”. Em segundo plano, o casamento apenas entre homem e mulher e o fim da vida. “Um claro não a uma lei que preveja um procedimento para acessar ao suicídio assistido – observa o constitucionalista católico Filippo Vari. Uma normativa restritiva sobre a eutanásia é o ponto de partida para novos desvios legislativos, como na Áustria”. Dom Vincenzo Paglia, ex-presidente da PAV, disse à Famiglia Cristiana: “A verdadeira resposta ao sofrimento é garantir cuidados paliativos a todos”. Para Leão, é necessário “restituir a dignidade daqueles que não se sentem respeitados em sua intimidade e nas necessidades de sua consciência”. Além disso, a IA “não deve levar a minar a identidade e as liberdades fundamentais: a vida pessoal vale muito mais do que um algoritmo”. Não é por acaso que, em tempos de equilíbrio instável entre diplomacia internacional e tensões éticas internas, Giorgia Meloni opta mais uma vez por estreitar o eixo com o Vaticano.
A participação no Jubileu dos governantes é tudo menos uma mera liturgia institucional: é um sinal, nem mesmo muito velado, de que esse governo vê no novo Pontífice uma referência de valores, senão mesmo um suporte político. Especialmente numa fase em que, sobre a mesa do Palácio de Governo, se acumulam procedimentos altamente sensíveis (do fim da vida à Inteligência Artificial), sobre os quais o executivo prefere agir com extrema cautela. À obra está o embaixador junto à Santa Sé, Francesco Di Nitto. A referência de Leão XIV à "lei natural" não destoa da linha seguida por Meloni e pelo subsecretário Mantovano, encarregado das relações mais profundas com o Vaticano. Pelo contrário, acaba reforçando sua orientação mais conservadora. A primeira-ministra pretende blindar a sintonia com Prevost. Até os detalhes contam: um aperto de mão no início, outro no final, alguns sorrisos e poucas palavras sussurradas que quebram o protocolo. "Santidade, que prazer vê-lo", disse Meloni. Depois, em tom conspiratório: "Já se instalou?" O Papa respondeu com um sorriso: "Tudo bem". Nenhum encontro formal, mas o suficiente para deixar claro que o diálogo permanece aberto. E algo, talvez, esteja se movendo nos bastidores. Um novo encontro presencial, mais substancial, poderia de fato ocorrer antes da partida do Papa para Castel Gandolfo. A confirmar isso, com a elegância diplomática do caso, foi o Cardeal Pietro Parolin: "Ouvi dizer que deveria haver esse encontro, mas não tenho conhecimento se uma data já foi definida." Traduzindo: estão trabalhando para que isso aconteça. Seria o momento certo para fortalecer um entendimento que funciona. Não em tudo, obviamente. "É bom que haja uma mobilização geral para evitar a corrida ao rearmamento", observa Parolin, que na Prefeitura de Roma discutiu a "dívida ecológica" com Mario Monti e Pier Ferdinando Casini. "Cancelar a dívida? A princípio, não deveríamos fazer isso", comenta Monti. Parolin indica 5 ações concretas: "reduzir o consumo do Norte global; apoiar a adaptação climática porque as nações vulneráveis precisam de ajudas para se adaptar às mudanças climáticas; perdoar a dívida econômica, um verdadeiro ato de misericórdia; promover a solidariedade global, educar para a conversão ecológica". Sobre os apelos do Papa à paz, "não há desenvolvimentos encorajadores por enquanto