18 Junho 2025
"É crucial reconhecer a importância das mortes por causas externas como um problema de saúde evitável na população idosa e implementar estratégias abrangentes para reduzir sua ocorrência e impacto."
O artigo é de José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia, publicado por EcoDebate, 18-06-2025.
As mortes violentas, por causas externas, representam um problema de saúde pública crescente entre os idosos no Brasil. Embora não seja a principal causa de óbito nessa faixa etária, a sua representatividade e tendência de aumento são preocupantes.
Quedas: São a principal causa de morte por causas externas em idosos, especialmente entre aqueles com mais de 75 anos. As quedas podem ocorrer em domicílio ou em espaços públicos e frequentemente resultam em fraturas (como a de quadril), traumatismo cranioencefálico e outras complicações que podem levar à morte.
Acidentes de transporte: Atropelamentos são uma causa significativa de morte por causas externas em idosos, principalmente na faixa etária de 60 a 74 anos.
Outras causas: Afogamentos, queimaduras, agressões e suicídios também contribuem para as mortes por causas externas em idosos, embora em menor proporção.
Aumento da mortalidade: Estudos apontam para uma tendência de crescimento da mortalidade por causas externas em idosos no Brasil ao longo dos anos.
Envelhecimento populacional: O aumento da expectativa de vida e o consequente envelhecimento da população elevam o número de idosos mais vulneráveis a acidentes.
Fatores individuais: Condições de saúde preexistentes (como problemas de visão, dificuldades de locomoção, doenças neurológicas), uso de medicamentos, e declínio cognitivo aumentam o risco de quedas e outros acidentes.
Fatores ambientais: Domicílios e espaços públicos inseguros, com iluminação inadequada, pisos escorregadios, falta de barras de apoio e outros obstáculos, contribuem para o aumento do risco de acidentes.
Violência: A violência contra idosos, incluindo agressões físicas, também é uma causa de morte externa, embora muitas vezes subnotificada.
O Atlas da Violência, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em maio de 2025, mostrou que o Brasil teve uma redução de 20,3% no número de homicídios totais em uma década. Os homicídios eram de 57,4 mil em 2013, subiram para 65,6 mil em 2017 e caíram nos anos seguintes até atingir 45,7 mil em 2023. A taxa de homicídios registrados por 100 mil habitantes estava em 28,8% em 2013, subiu para 31,8% em 2017 e caiu para 21,2% em 2023, o menor valor da série.
Segundo o Atlas da Violência, a queda da taxa de homicídios ocorreu também entre os idosos. A tabela abaixo mostra que em 2013, a taxa de homicídios, em 2013, era de 19,9 por 100 mil habitantes para homens negros idosos, de 13,9 por 100 mil habitantes entre homens não negros idosos, de 2,8 e 2,4, respectivamente, para as mulheres negras e mulheres não negras idosas. As taxas caíram em 2023 para 14,2 entre homens negros (queda de 28,6%), 8,8 entre homens não negros (queda de 28,6%), 1,6 entre mulheres negras (queda de 42,9%) e 1,5 entre mulheres não negras (queda de 37,5%).
A tabela abaixo também mostra que as outras duas causas externas de morte entre os idosos são ainda mais fatais. A taxa de morte por quedas, em 2013, era de 27,5 por 100 mil habitantes entre homens negros, de 48,4 por 100 mil habitantes entre homens não negros, de 19,8 por 100 mil habitantes entre mulheres negras e de 44,4 por 100 mil habitantes entre mulheres não negras. Estas taxas subiram, respectivamente, para 39,7, para 56,2, para 29,2 e para 50,6 por mil habitantes. Portanto, as quedas são a principal causa de morte entre os idosos, especialmente entre a população não negra.
Imagem: Ecodebate | Reprodução
A taxa de morte por acidente de transporte, em 2013, era de 46,5 por 100 mil habitantes entre homens negros, de 45 por 100 mil habitantes entre homens não negros, de 11 por 100 mil habitantes entre mulheres negras e de 14,7 por 100 mil habitantes entre mulheres não negras. Estas taxas continuaram altas, mas diminuíram em 2023 para 38,4 entre homens negros, para 33,5 entre homens não negros, para 7,5 entre mulheres negras e para 7,8 por 100 mil habitantes entre mulheres não negras.
As mortes por causas externas em idosos têm um impacto significativo na saúde pública, resultando em perda de anos de vida, aumento da morbidade e custos para o sistema de saúde. A prevenção é fundamental e envolve:
Adaptação do domicílio: Tornar a casa mais segura, eliminando tapetes soltos, instalando barras de apoio, melhorando a iluminação e organizando os espaços para facilitar a circulação.
Avaliação e manejo de riscos: Identificar idosos com maior risco de quedas e outros acidentes, implementando intervenções personalizadas que podem incluir exercícios de fortalecimento muscular e equilíbrio, revisão da medicação e correção de problemas de visão.
Conscientização: Informar idosos, familiares e cuidadores sobre os riscos de acidentes e as medidas preventivas.
Políticas públicas: Implementar políticas que visem a segurança do idoso em espaços públicos, como melhorias na sinalização e acessibilidade.
Combate à violência: Fortalecer os mecanismos de denúncia e proteção contra a violência direcionada aos idosos.
É crucial reconhecer a importância das mortes por causas externas como um problema de saúde evitável na população idosa e implementar estratégias abrangentes para reduzir sua ocorrência e impacto.
A redução das mortes violentas é fundamental para o desenvolvimento da economia prateada e para o aumento do bem-estar geral da população brasileira.