17 Junho 2025
As primeiras negociações do ano para a conferência do clima em Belém começam com desafios e ruídos na Alemanha.
A informação é publicada por ClimaInfo, 16-06-2025.
A reunião interseccional de Bonn (SB62) começou ontem (16/6) na Alemanha como um teste crítico para a presidência da COP30. Até 26 de junho, negociadores dos países de todo o mundo se juntarão nas primeiras negociações formais do ano para a conferência da ONU em Belém, em novembro. A prova de fogo, contudo, já começa com ruídos desafiadores para o Brasil, relata Daniela Chiaretti no Valor.
Até a noite de domingo (15/6) não se sabia se o grupo de países “Like-Minded Developing Countries” (LMDC), coordenado pela Bolívia e que tem entre seus membros China, Índia, Indonésia, Vietnã e Arábia Saudita, aceitaria um encaminhamento para ceder em dois itens da agenda da reunião em Bonn que querem discutir. Um deles é o CBAM, sigla para “Carbon Border Adjustment”, o mecanismo de ajuste de carbono de fronteira da União Europeia.
O outro, que trata do financiamento climático, é igualmente político e ainda mais espinhoso. A proposta do LMDC se baseia no artigo 9.1 do Acordo de Paris, que estabelece que os países desenvolvidos devem fornecer recursos financeiros para auxiliar as nações em desenvolvimento na mitigação e em adaptação da crise climática.
Embora formalmente a SB62 esteja ainda sob a presidência do Azerbaijão, onde ocorreu a COP29 no ano passado, os holofotes já estão com o time de negociadores brasileiros e a presidência da COP30, liderada pelo embaixador André Corrêa do Lago. Em sua terceira e mais recente carta, ele cobrou os países para que não procrastinem decisões e sejam ativos nas negociações que antecedem a conferência em Belém – o contrário do que está fazendo o LMDC.
A delegação brasileira está determinada a amarrar as pontas soltas deixadas nas negociações passadas, explicaram Folha e RFI. O objetivo é resolver as pendências, abrindo caminho para a extensa agenda prioritária que a presidência quer impor à COP30 para fazer dela a “COP da implementação”.
“Temos alguns temas que não foram acordados na última COP que se tornaram ainda mais importantes para a reunião em Bonn”, disse Ana Toni, CEO da COP30. Entre as prioridades da presidência brasileira destacam-se a transição energética justa, os indicadores de adaptação e o diálogo para a implementação do Balanço Global (GST).
Segundo Alexandre Prado, líder em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil e que integra a delegação brasileira em Bonn, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) aponta 48 temas que serão tratados ao longo da COP, com aprofundamentos que se desdobram em dezenas de outros assuntos relacionados às ações climáticas. “Uma das ponderações do Brasil para este ano é a gente sair destas duas semanas já com processos mais avançados, de forma que você tenha, no começo da COP30, algumas decisões e evite travar processos que sejam mais difíceis”, explicou à Agência Brasil.
Responsável por liderar a comitiva brasileira nas negociações do Acordo de Paris, em 2015, a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, aposta na capacidade de diálogo da diplomacia brasileira para a construção de consensos e soluções para a agenda climática. “O que mais ouço hoje é que, se vivemos em um mundo complexo, ainda bem que a COP vai ser no Brasil”, diz ela, em entrevista ao UOL.
Climate Home News, Exame e UOL também noticiaram o início da Conferência de Bonn.
Subsecretário-geral da ONU e coordenador-geral do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Achim Steiner está deixando a organização após 18 anos. Em entrevista ao Valor, ele falou sobre as críticas à ONU, reconhecendo avanços e necessidade de mudança. “Se precisamos ou não da ONU é uma falsa dicotomia. Mas estamos paralisados no paroquialismo de pequenos interesses”, disse. “A tragédia da nossa geração será que tudo isso foi muito lento e que havia muitas forças que nos desaceleraram sem necessidade”, completou, ao falar do combate à crise climática e citar os grupos que defendem os combustíveis fósseis.
O presidente Lula embarcou ontem (16/6) para o Canadá, onde participa hoje da 51ª Cúpula do G7, na cidade de Kananaskis, informou a Agência Brasil. O tema da segurança energética deve ser uma das tônicas dos debates entre os países membros com as nações convidadas, como o Brasil. De acordo com o embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, a ênfase será em tecnologia e inovação; diversificação e viabilização de cadeias produtivas de minerais críticos; e infraestrutura e investimento.