16 Mai 2025
"Acreditando estar cumprindo um mandato divino, os governantes de Israel nada mais fazem que revelar a natureza teocrática do Estado de Israel e não se preocupam minimamente em violar as leis que a humanidade impôs a si mesma em sua laboriosa jornada histórica. Nós, por outro lado, nos preocupamos e não podemos nos resignar a esse horror", escreve Domenico Gallo, juiz italiano e ex-presidente da Suprema Corte da Itália, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 15-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Após 19 meses de bombardeios do céu, da terra e do mar contra uma população indefesa, após 53.000 mortes confirmadas, incluindo 16.000 crianças, após a destruição de todas as infraestruturas civis indispensáveis à vida da população, após ter deixado a população cercada no gueto de Gaza exposta à fome, tendo bloqueado a entrada de alimentos, água, medicamentos, combustível há mais de dois meses, a besta humana ainda não está saciada de sangue. O governo israelense está se preparando para lançar uma nova ofensiva terrestre que prevê a reocupação de uma grande parte da Faixa de Gaza, a fim de limpá-la de seus habitantes para serem amontoados em uma área restrita no sul. Em suma, prevê-se uma espécie de solução final para o problema palestino em Gaza.
Na realidade, não se trata de uma solução final, mas da abertura de outro círculo do inferno, destinado a durar por tempo indeterminado, pois os dois milhões de sobreviventes de Gaza permanecerão presos em campos de concentração e Israel não conseguirá se livrar deles.
Não é por acaso que essa nova ofensiva foi chamada de "carros de Gideão". A Bíblia fala de Gideão no livro de Juízes. Ele é descrito como um juiz, ou seja, um líder carismático escolhido por Deus para libertar Israel da opressão. Guiado pela mão de Deus, Gideão, com apenas 300 homens, atacou o acampamento dos midianitas, causando confusão e fazendo-os fugir. Netanyahu, em sua loucura, se compara a Gideão e se prepara para causar confusão no acampamento dos inimigos para fazê-los fugir e libertar de sua presença aquele território que o Deus dos Exércitos designou ao seu amado povo.
Acreditando estar cumprindo um mandato divino, os governantes de Israel nada mais fazem que revelar a natureza teocrática do Estado de Israel e não se preocupam minimamente em violar as leis que a humanidade impôs a si mesma em sua laboriosa jornada histórica. Nós, por outro lado, nos preocupamos e não podemos nos resignar a esse horror. Várias vozes da sociedade civil se levantam neste momento em favor de Gaza. Devemos chamar as coisas pelo seu nome, o que está acontecendo em Gaza é um genocídio em andamento. Privar uma população, sobrecarregada por milhares de feridos, sem alimentos, água, medicamentos e outros suprimentos essenciais à vida é um ato de genocídio. O problema que o genocídio representa para a consciência da humanidade não é reconhecê-lo ou puni-lo, mas preveni-lo e impedir que seja realizado, no todo ou em parte.
Nos últimos dias, o chefe do Gabinete de Socorro de Emergência das Nações Unidas, Tom Fletcher, lançou um apelo desesperado ao Conselho de Segurança pedindo uma intervenção "para impedir o genocídio" em Gaza, depois que Israel anunciou que seu exército retomaria as operações "com força total" no território palestino. O Tribunal Internacional de Justiça, como se sabe, considerou o genocídio plausível e emitiu medidas provisórias contra Israel (em 26 de janeiro, 28 de março, 5 de abril e 24 de junho de 2024) com o objetivo de prevenir ou impedir o genocídio. Os governos dos países ocidentais amigos ou aliados de Israel, mesmo que minimizem a tragédia em curso e rejeitem o conceito de genocídio, não podem escapar à sua obrigação jurídica de impedir que um genocídio se concretize, permitindo que Israel viole impunemente as determinações que o Tribunal Internacional de Justiça emitiu precisamente com o propósito de o prevenir. Diante das decisões do Tribunal da ONU, o silêncio das Chancelarias não é apenas covardia, é cumplicidade. Neste momento, há manifestações espontâneas em todas as ruas da Itália para expressar a indignação da opinião pública. O pedido é um só, unânime, partilhado por todos: parar o genocídio em Gaza.
A aquiescência do governo italiano às práticas genocidas em curso deve ser denunciada. Por respeito às suas tradições políticas e aos seus princípios constitucionais, a Itália deve pôr fim a todas as formas de colaboração militar com Israel; não só não deve fornecer armas, como também não deve comprá-las, nem se exercitar com Israel na arte da guerra. Em particular, a Itália deve denunciar o Memorando de Entendimento entre o governo italiano e o governo de Israel em matéria de cooperação no setor militar e de defesa, assinado em Paris e ratificado pela Lei nº 94, de 17 de maio de 2005. O acordo tem duração de cinco anos e é renovado automaticamente. A próxima renovação deveria ocorrer em 8 de junho. O governo italiano ainda tem tempo para se retirar do acordo e impedir sua renovação. Se o que está acontecendo em Gaza é uma vergonha para a humanidade, o silêncio cúmplice do governo Meloni é uma vergonha para todos os italianos. Chega de silêncio, chega de cumplicidade, não há mais tempo, precisamos agir: #stopgenocidiogaza.