15 Mai 2025
A passagem pela China dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro, que participaram do 4° Fórum Ministerial China-Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), foi marcada por várias promessas de parcerias e a assinatura de acordos concretos. Mas além das relações entre Pequim e os dois países sul-americanos, o evento está sendo visto como uma guinada estratégica do governo chinês diante da guerra comercial com os Estados Unidos.
A reportagem é de Clea Broadhurst, publicada por rfi, 14-05-2025.
China e Colômbia assinaram, nesta quarta-feira (14), um acordo para integrar o país latino-americano aos projetos de infraestrutura ligados às “novas rotas da seda”. Em postagem na rede social X, o ministério colombiano das Relações Exteriores qualificou a assinatura de “etapa histórica” na cooperação entre os dois países.
O presidente chinês Xi Jinping disse que Pequim e Bogotá devem aproveitar essa “oportunidade” para “levar a cooperação bilateral a um nível ainda mais elevado”. O líder asiático prometeu desbloquear 66 bilhões de yuans (mais de R$ 50 bilhões no câmbio atual) para o “desenvolvimento” dos países da região.
Cambia la historia de nuestras relaciones exteriores. A partir de ahora Colombia se relaciona con el mundo entero en pie de igualdad y libertad pic.twitter.com/4RQoJpmT59
— Gustavo Petro (@petrogustavo) May 14, 2025
No Fórum China-Celac, Xi Jinping insistiu na importância de uma relação mais estreita e de cooperação com a América Latina e o Caribe em um período de "confronto geopolítico" e "protecionismo", em uma crítica visando os Estados Unidos. Sem mencionar diretamente o governo norte-americano, Xi criticou qualquer interferência estrangeira e lembrou o apoio histórico da China à soberania latino-americana, referindo-se à sua solidariedade passada com o Panamá.
Em um momento de guerra comercial com os Estados Unidos, o Fórum China-Celac representa uma virada estratégica para Pequim. Os encontros realizados e os acordos assinados reforçam a presença do gigante asiático no chamado “Sul global”, onde os chineses buscam ampliar suas parcerias econômicas.
Durante as várias discussões, Xi Jinping propôs ir além do comércio tradicional de matérias-primas, concentrando-se em setores emergentes, como energia limpa, inteligência artificial (IA) e telecomunicações. O líder chinês se apresentou aos representantes latino-americanos como um parceiro estável e confiável em um mundo abalado pela instabilidade e pelo protecionismo.
A China prometeu aumentar suas importações de produtos da América Latina e investir mais neles, um compromisso bem recebido pelo presidente brasileiro e seu colega chileno. Lula anunciou um investimento chinês de US$ 4,7 bilhões no Brasil em carros elétricos, energias renováveis e internet via satélite. O objetivo é conectar áreas remotas e competir com a Starlink.
A China já é o principal parceiro comercial do Brasil, Peru e Chile. O país faz investimentos significativos no âmbito do programa Iniciativa Cinturão e Rota, que recebeu a adesão de dois terços dos países latino-americanos, e o comércio entre a Pequim e a região superou no ano passado a marca de US$ 500 bilhões (R$ 2,83 trilhões) pela primeira vez, "40 vezes mais que no início do século", celebrou Xi.