03 Mai 2025
"A alegria será plena quando a Igreja estiver na escuta do Evangelho, porque a alegria vem de Cristo, não do que a Igreja faz", escreve Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado em Vita Pastorale, 28-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Este é realmente um tempo de apocalipses, de epifanias, ou seja, de manifestações, porque o véu está sendo retirado de muitas realidades, de muitas misérias, especialmente da Igreja. A Igreja italiana está no Caminho Sinodal desde 2021, portanto há quatro anos, e agora que chegou o momento de tirar conclusões e verificar o caminho laboriosamente percorrido, encontra-se em uma grave aporia que ilustra bem o seu mal-estar, há tempo denunciado por alguns com amor e sem contestações. É uma Igreja que não escuta, apesar dos apelos até mesmo inflamados que Francisco fez não só em Florença. O Papa havia pedido um Sínodo para a Igreja italiana, mas foram necessários cinco anos antes que os bispos concordassem em embarcar nesse caminho. E, apesar de tê-los advertiu contra a repetição de esquemas do passado ao planejá-lo, de chamar o mesmo pessoal de sempre, atores de uma estrutura burocrática que não se renova, o Sínodo iniciou exatamente copiando os Sínodos anteriores na cooptação dos membros e na elaboração dos projetos.
Entre outras coisas, este é um Sínodo no qual poucos católicos participam (apenas os especialistas da área, as várias associações, os movimentos... em suma, o pessoal de sempre!), não foram chamados a participar nem cristãos com mensagens e rostos proféticos, nem dissidentes, contudo ansiosos por comunhão. Eu me pergunto por que tivemos que passar por outro Sínodo não institucional em Assis, nos dias 22 e 23 de fevereiro, com 160 pessoas, com a participação de comunidades de base e realidades vivas, diferente no estilo, mas em plena comunhão católica.
E, além disso, por que imitar o Sínodo Geral com suas mesas de trabalho que reduzem a possibilidade de todos ouvirem a voz dos participantes? Esse método não corre o risco de embotar a voz, de não permitir que todos tenham a força e a capacidade de escuta geral e de eco que só numa assembleia pode acontecer? Os grupos ajudam nos aprofundamentos, mas - e isso vem de alguém que tem vinte anos de experiência na prática sinodal em uma comunidade monástica - os grupos podem empurrar em uma direção ou abafar e não permitir que todas as vozes mais singulares, intrigantes e, às vezes, frementes sejam ouvidas. É preciso lembrar também, e isso resulta de uma prática monástica, que há uma maneira de deixar todos intervirem que quer parecer democrática, mas na realidade deixa a decisão final para a autoridade, sem levar em conta as muitas vozes ouvidas, sem medir seu peso carismático, o dom que elas contêm. A escuta também pode se tornar um mito e paralisar, em vez de ajudar na formação de uma decisão que deve ser participada, mas depois deve ser tomada com autoridade por quem é investido do carisma de presidir.
Assim, um texto de 50 proposições foi apresentado para ser discutido, votado e depois submetido aos bispos. Deviam ser o fruto do longo Caminho Sinodal e transmitir a mensagem, as demandas e o desejo da Igreja expressos no decorrer de tantos trabalhos e discussões. Mas quando os membros sinodais tiveram as propostas em suas mãos, ficaram desconcertados. Não apenas não estava presente a riqueza do caminho percorrido, mas o estilo era burocrático, apagado, cinzento: proposições que evitavam cuidadosamente o debate, qualquer possibilidade de renovação, reforma, sugestão de profecia. Era um texto cansado, redigido pelo pessoal especializado que não tinha escutado o caminho percorrido.
A posição, desde o início, foi: “Esse texto não tem nada a ver com o que estivemos refletindo e trabalhando, é um texto indigno, escrito por funcionários atrás de suas mesas, com intenções preconcebidas, que pesam na reserva teológica de quem ainda tem que entender a dinâmica profética indicada pelo Concílio Vaticano II”. Nem mesmo os textos da Conferência Episcopal Italiana, dos vários programas dos anos do século passado, eram tão apagados e administrativos. Mas quem os redigiu? Por que a tarefa foi dada a essas pessoas? E, em nome da transparência, por que não revelar sua identidade? E os bispos, especialmente o Conselho Permanente da CEI (em particular o cardeal Zuppi e o arcebispo Castellucci) onde estavam? Eles não leram as proposições antes de apresentá-las à assembleia? O teólogo Giuseppe Lorizio escreveu: “Dado o resultado da assembleia, uma liderança séria a serviço da Igreja e do país deveria simplesmente renunciar, já que não foi e não é capaz de interpretar o sentimento eclesial expresso por membros que certamente não são perigosamente revolucionários” (Settimana News, 03-04-2025).
É legítimo se perguntar: aqueles que redigiram as 50 proposições seguiam um projeto preciso de restauração, esquecendo toda a novidade que apareceu com o Papa Francisco e o novo método de realizar o Sínodo por ele iniciado, e, portanto, se rebelaram, como supõe Andrea Grillo, ou simplesmente, cansados, sem acreditar, escolheram as proposições sem praticar a escuta do que havia sido dito? É difícil, para mim, responder. Muitas vezes, nos órgãos burocráticos, digo isso por conhecimento direto, há mais ignorância, ignávia, sonambulismo espiritual do que perspicácia nas escolhas. E sem maldade, porque entre eles se pensa que, afinal, nada mudará e que não vale a pena esperar pelo novo. Infelizmente, diante desse incidente clamoroso, em vez de arrependimento e assunção das responsabilidades, a pílula foi adoçada: dificuldades, atrasos e pecados dizem que “a Igreja está viva”, mas está vegetando. Acidentes de percurso, em suma... Mas, o que aconteceu é o sinal mais claro do que presunçosa e arrogantemente foi chamado de: “fase profética”! Mas a profecia traz sangue, exige o dom da vida, despender a própria vida pelos outros de acordo com a vontade de Deus, e certamente não se alimenta de slogans, proposições, votos para o futuro.
Quantos bons votos nas propostas! “Que seja feito”... “Que se busque”... Mas uma assembleia sinodal tem autoridade para legislar, não fazer votos, dando continuidade a essa sucessão de desejos que vem sendo renovada há mais de trinta anos: como o de “promover a nomeação de mulheres (leigas e religiosas) para cargos que tenham responsabilidade pastoral”: “Promova-se...”.
Também deve ser denunciada a superficialidade de muitas passagens do texto. Sempre atentos à liturgia, ficamos surpresos pela forma como se chegou a pensar que “a Ars celebrandi só diz respeito a presbíteros e diáconos”, como se a assembleia litúrgica não fosse celebrante. Aqui reaparece o clericalismo! E então, mais uma vez, a pregação, a homilia na celebração da Eucaristia é proibida aos leigos, quando já está bem estabelecido que em muitas Igrejas ela é confiada, com mandato do presbítero que preside, a um leigo ou a uma leiga de reconhecido carisma de competência! Isso está na “proposição 10”; mas logo em seguida, com uma superficialidade que me assombra, está escrito na “proposição 11”: “Que seja predisposta em nível regional uma revisão dos formulários e dos textos litúrgicos, questionando-se sobre sua eficácia comunicativa, em diálogo com os jovens”.
Na verdade, é muito embaraçante, e quem escolheu esse artigo não sabia o que estava fazendo. Porque uma revisão dos textos litúrgicos, chamados de “formulários”, é um processo longo e complexo. Quando a CEI quis criar “coletas” para a nova edição do Missal em 1983, pediu para redigir textos apropriados para os domingos a Anna Maria Canopi, David Maria Turoldo, Enzo Lodi e outros. Também pediram a Dossetti e a mim; ambos recusamos porque aquela era uma tarefa impossível de ser concluída em poucos meses, e para isso era necessária a cooperação de biblistas, liturgistas, patrólogos, teólogos... Portanto, falar dessa forma de revisão dos “formulários” litúrgicos é realmente coisa de desconhecedores! O cardeal Zuppi anunciou que o atual texto das proposições foi rejeitado; ele será reescrito e votado em 25 de outubro por uma assembleia extraordinária em Roma, e depois apresentado à assembleia da CEI em novembro de 2025.
Caros leitores, sintam-se desolados com esses eventos que narram as misérias de uma Igreja, a Igreja italiana, que atualmente demonstra fraqueza. Não uma fraqueza evangélica, mas uma fraqueza devido a seu ser fraca de fé, por ter perdido a centralidade da esperança em Jesus Cristo. A alegria será plena quando a Igreja estiver na escuta do Evangelho, porque a alegria vem de Cristo, não do que a Igreja faz.