09 Abril 2025
No pano de fundo, a capacidade/incapacidade do magistério eclesiástico de compreender os novos tempos em que vivemos, e de entender que muitas práticas e doutrinas do passado hoje deveriam ser rejeitadas, porque a ciência e a reflexão teológica deixaram claro para a maioria das pessoas que são filhas de 'preconcepções’ estranhas ao Evangelho de Jesus. É por isso que o confronto eclesial que está se abrindo será previsivelmente dramático.
O artigo é de Luigi Sandri, jornalista italiano, publicado por L'Adige de 07-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma semana de alta tensão foi aquela vivida pela Conferência Episcopal (CEI) e pela Igreja Católica Italiana, que de 31 de março a 3 de abril passaram por um Sínodo no qual a esmagadora maioria — bispos e fiéis — rejeitou um texto final, embora aprovado pelos líderes do episcopado, e obrigou o adiamento de uma nova e inesperada sessão em 25 de outubro para aprovar um novo texto.
Um documento que use palavras claras a favor das pessoas LGBTQ e da admissão de mulheres ao diaconato.
A segunda sessão do Sínodo (a primeira havia sido realizada em novembro de 2024) havia sido convocada para aprovar 50 “proposições” que reuniam o empenho de “como” ser Igreja no terceiro milênio e, portanto, “quais” reformas implementar para anunciar o Evangelho de Jesus. Nesse contexto, era apresentada uma pergunta: “o que” dizer, hoje, às pessoas e casais LGBTQ que vivem sua sexualidade como tais, e o que fazer para dar às mulheres seu lugar na Igreja, introduzindo também a ordenação das diáconas.
No entanto, no debate no plenário, seguiram-se dezenas e dezenas de intervenções, denunciando as hesitações e as ambiguidades do texto final das “proposições” a serem aprovadas, que não ousavam se expressar com clareza sobre vários problemas, como os dois indicados, e outros mais. Com grande preocupação, o presidente da CEI, Cardeal Matteo Zuppi, e monsenhor Erio Castellucci, Arcebispo de Modena, o grande diretor do Sínodo, perceberam que a Assembleia rejeitaria o texto final, expondo toda a Igreja Católica Italiana a uma crise de resultados imprevisíveis.
Portanto, diante do iminente e retumbante fracasso, eles tiveram a sabedoria de aceitar a votação de uma moção imprevista para adiar para 25 de outubro a etapa final do Sínodo, que então irá votar “proposições” novas e bem mais corajosas. Resultado da votação: 835 “sim”, 12 “não” e 7 se abstiveram. Pela primeira vez na história da Igreja Italiana, o “povo” rejeitava um texto que a liderança da CEI havia imprudentemente aceitado. Agora, portanto, tudo é adiado para outubro; mas como isso terminará? De fato, a respeito dos dois pontos mencionados, o Papa, mesmo afirmando que as pessoas LGBTQ também fazem parte da Igreja e que as mulheres são, para ela, essenciais, manteve o Catecismo da Igreja Católica que condena os “atos” homossexuais e rejeitou a hipótese das diáconas.
No pano de fundo, a capacidade/incapacidade do magistério eclesiástico de compreender os novos tempos em que vivemos, e de entender que muitas práticas e doutrinas do passado hoje deveriam ser rejeitadas, porque a ciência e a reflexão teológica deixaram claro para a maioria das pessoas que são filhas de 'preconcepções’ estranhas ao Evangelho de Jesus. É por isso que o confronto eclesial que está se abrindo será previsivelmente dramático.
A reforma da Igreja Romana, afinal, não é um passeio no parque, como nos ensinaram há cinco séculos, com suas sombras e luzes, a Reforma, a Contrarreforma e o Concílio de Trento.