25 Março 2025
"A Igreja hoje se encontra diante de uma sociedade dinâmica e imprevisível. Seria desejável que conseguisse encontrar uma linguagem comum com a sociedade, como aconteceu, em circunstâncias diferentes, no final dos anos 80", escreve Jaroslav Šebek, publicado por Settimana News, 23-03-2025.
Jaroslav Šebek trabalha no Instituto de História da Academia de Ciências em Praga. Ele se ocupa da História política, ideológica e eclesiástica do século XX, das relações tcheco-alemãs, bem como da análise dos desenvolvimentos eclesiásticos e religiosos contemporâneos.
Para compreender melhor o texto informativo sobre a Igreja da República Tcheca que propomos aos leitores, é bom focar em alguns elementos. Primeiramente, o fato: no dia 29 de janeiro, a televisão católica TV Noe transmite uma singular celebração litúrgica. O celebrante é um padre bastante conhecido em Praga e no mundo juvenil, especialmente no escotismo: o p. Marek Vacha. O local é uma trattoria dentro de um complexo histórico-hoteleiro. São muitas as licenças que o p. Marek se dá em relação à celebração. Para os espectadores, mas não para os presentes, essas liberdades são vistas como violações formais do rito litúrgico. Surge o escândalo. Uma severa censura é publicada pela comissão litúrgica da Conferência Episcopal (3 de fevereiro). Com base nessa nota, o arcebispo de Praga, Jan Graubner, retira o p. Marek do cargo de assistente da paróquia acadêmica de Praga. O barulho aumenta e se diversifica. Seu bispo (de Brno), Pavel Konzbul, encontra-se com o padre e sugere que ele peça desculpas pelo escândalo causado aos ouvintes, mas o confirma em todos os serviços diocesanos. Apesar de censurá-lo, ele aprecia suas intenções e o excelente trabalho com os jovens.
No artigo, faz-se referência à experiência da "igreja clandestina" ativa na Tchecoslováquia durante o comunismo. A partir dos anos 60, desenvolveu-se uma série de comunidades de base clandestinas com seus próprios padres e bispos (legitimamente ordenados) com a intenção de confirmar a fé sob a perseguição. Suas liturgias eram necessariamente simples e pouco preocupadas em seguir as disposições litúrgicas. A referência do artigo remete a essa liberdade, então totalmente aceita.
Finalmente, observa-se um clima de difíceis relações entre o clero e, por vezes, com os bispos. Devem ser reconhecidos, nesse sentido, os enormes desafios que o comunismo e, agora, o laicismo impõem à Igreja. Mas, no caso específico, deve-se registrar tanto o encontro pessoal quanto o entendimento do p. Marek com seu bispo de Brno, e mais recentemente (21 de fevereiro), uma declaração conjunta entre o arcebispo Graubner e o p. Marek Vacha. Nela, reconhece-se que "nos ferimos mutuamente", mas "gostaríamos de entrar na Quaresma com perdão e reconciliação", também para ajudar a superar os muitos conflitos da sociedade tcheca. Por fim, lembram o dito da tradição: "in necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus caritas" (unidade nas coisas necessárias, liberdade nas questões discutíveis e em tudo a caridade; atribuído a Santo Agostinho).
A Igreja Católica se encontra novamente em um período bastante turbulento, marcado em grande parte pela remoção do sacerdote Marek Vácha, conhecido pelo apelido escoteiro de Orko, da posição de vigário na paróquia acadêmica de Praga. A disputa também envolveu parte do público e algumas personalidades de destaque se manifestaram a respeito... Vamos então examinar o que realmente aconteceu.
Marek Orko Vácha é, por um lado, uma figura pública muito popular, que se expressa de maneira compreensível sobre uma série de questões, incluindo as bioéticas (que representam sua área de especialização), e, graças à sua experiência no movimento escoteiro, é muito querido entre os jovens. Ele é apreciado por seus esforços em superar as barreiras entre a sociedade religiosa e a secular. Seu amplo apoio agora é testemunhado por várias declarações públicas de apoio.
Por outro lado, sua atitude informal irrita alguns membros da Igreja Católica, assim como algumas de suas reflexões sobre questões relacionadas ao celibato sacerdotal.
No entanto, a faísca que desencadeou o conflito atual foi uma celebração litúrgica realizada em uma pousada dentro do mosteiro de Břevnov, em Praga, e transmitida pela emissora cristã TV Noe. O problema parece ter surgido na apresentação do evento, que deveria ter sido um serviço ecumênico, mas foi celebrado como uma Missa no rito romano católico. Esse mal-entendido também foi apontado pelo diretor da TV Noe, o padre salesiano Leoš Ryška.
Tensões sobre a celebração da liturgia As tensões entre uma visão mais liberal da celebração da Missa, que poderia atrair também pessoas chamadas de "não praticantes", e a interpretação rigorosa das prescrições litúrgicas são agora um dos temas mais discutidos. Olhando para a história recente, descobrimos que a maneira de celebrar o culto católico já era uma grande questão durante o regime comunista, e a tensão entre a forma prescrita e uma realização mais espontânea já estava evidente naquela época.
Os membros da Igreja clandestina eram frequentemente sacerdotes que não tinham autorização oficial do Estado para exercer seu ministério e, portanto, eram obrigados a celebrar fora dos espaços sagrados. Devido às condições políticas altamente limitadoras, os membros da Igreja clandestina aprenderam a distinguir entre o que era essencial, menos essencial e completamente irrelevante, e muitas vezes superaram uma interpretação rígida das regras.
O abandono das normas consolidadas, compreensivelmente, não era bem visto pelas autoridades oficiais. O cardeal František Tomášek, que antes de novembro de 1989 se opôs ao regime comunista, indignava-se, por exemplo, com o fato de que alguns sacerdotes celebrassem a Missa em apartamentos, sem as vestes litúrgicas prescritas, mas apenas com roupas civis ou suéter.
No entanto, especialmente no final do regime comunista, essa forma não ortodoxa de expressar a vida espiritual conseguiu atrair jovens, que viam nela uma alternativa ao sistema dominante, mas também uma comunidade na qual se sentiam acolhidos.
Solução autoritária O arcebispo Jan Graubner, primaz dos católicos tchecos, optou por adotar uma solução autoritária em resposta à "onda de indignação" de parte dos fiéis pela transmissão de Břevnov e à posição da comissão litúrgica da Conferência Episcopal Tcheca, presidida pelo bispo de Ostrava-Opava, Martin David. No entanto, de acordo com a arquidiocese, a decisão foi tomada de forma moderada.
Vale lembrar que, após sua nomeação repentina como arcebispo em maio de 2022, quando o Vaticano não encontrou outra solução para substituir o cardeal Duka, Graubner se viu em uma situação nada confortável. Para ele, deve ter sido muito difícil se mudar para um novo ambiente em idade avançada, depois de se recuperar de um grave caso de Covid. Ele havia passado toda sua vida sacerdotal na arquidiocese de Olomouc, um lugar com um alto nível de religiosidade, onde era amado e respeitado não só entre os fiéis, mas também fora dos círculos eclesiásticos.
Talvez, na época, ele não conseguisse imaginar as complexidades de sua nova missão, mas em Praga o aguardavam muitos problemas relacionados à gestão da situação econômica da Igreja e da faculdade de teologia, da qual, durante seu mandato, foi expulso o conhecido teólogo e historiador eclesiástico Tomáš Petráček.
Nesse contexto, ele se viu diante de críticas que muitas vezes nem ele nem seu entorno viam como sugestões para uma discussão mais aprofundada, mas como ataques à Igreja (um exemplo emblemático foi a eliminação de uma gravação de um debate mais aberto na paróquia de Kobylisy, em Praga). E foi com a mesma atitude autoritária que ele se opôs a Vácha.
Uma das causas da escalada da situação parece ser uma má comunicação. A declaração da arquidiocese de Praga sobre o assunto menciona que Vácha não compareceu ao encontro de sacerdotes durante o dia sacerdotal, o que impossibilitou a discussão direta com ele. No entanto, hoje existem muitas outras formas de comunicação para agendar um encontro e esclarecer as posições.
Parece que o bispo de Brno, Pavel Konzbul, sob cuja jurisdição sacerdotal recai Vácha, não tem a intenção de adotar uma abordagem punitiva e, ao contrário da arquidiocese de Praga, optou pelo diálogo.
A gestão dos casos de abuso O caso de Vácha também se entrelaçou com outra questão espinhosa para a Igreja tcheca: o tratamento dos casos de abuso sexual por parte do clero. Na semana passada, a Televisão Tcheca transmitiu uma reportagem em que o arcebispo Graubner, com uma argumentação pouco convincente, gerou perplexidade em muitas pessoas.
A controvérsia em torno de Vácha reflete, na verdade, uma insatisfação mais profunda com o estado da Igreja tcheca. Um problema sério é a perda de confiança na instituição eclesiástica e a preocupação com os danos à sua imagem pública devido a decisões controversas.
A Igreja hoje se encontra diante de uma sociedade dinâmica e imprevisível. Seria desejável que conseguisse encontrar uma linguagem comum com a sociedade, como aconteceu, em circunstâncias diferentes, no final dos anos 80.