11 Março 2025
Lidia Maggi é teóloga e pastora batista. Além de cuidar das igrejas sob sua responsabilidade, está fortemente empenhada no diálogo ecumênico e inter-religioso.
A entrevista é de Simonetta Grementieri, publicada por Edizioni Romena e reproduzida por Porto di terra, 26-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Você é pastora da igreja protestante, mas vive em um país católico. A partir desse seu ponto de vista, como avalia as novidades que Francisco está trazendo?
Percebi imediatamente uma mudança de estilo, o estilo com que ele exerce seu ministério: desde a maneira como ele assina seu nome, simplesmente Francisco, até a escolha inédita de falar na primeira pessoa. Até agora, acreditávamos que a forma com que testemunhamos a fé não fosse relevante. Na realidade, a maneira de se apresentar, de olhar parar os fiéis, de falar para o mundo, é extremamente importante. O novo estilo de Francisco é dado acima de tudo pelo fato de dar voz ao Evangelho. De repente, o Evangelho se torna próximo, encarna-se em uma igreja, em um pastor que consegue nos faz ouvir sua melodia, seu cheiro, e que faz ressoar a voz e os gestos de Jesus. Para mim, essa é a grande contribuição que o atual bispo de Roma está trazendo. Onde a descontinuidade não é dada por mudanças institucionais, mas pela escolha de um estilo mais sóbrio. Parece-me que o Papa Francisco está nos acompanhando para descobrir aquele tesouro empoeirado por todas as nossas superestruturas, que é o evangelho puro e simples.
Além disso, o estilo essencial é conjugado com a atenção ao mundo: redescobrir o evangelho significa redescobrir o amor com o qual habitar a terra. Isso implica colocar de volta ao centro a questão de Deus como o criador do mundo, a figura de um mundo justo. É isso que encontro expresso na belíssima encíclica Laudato si', onde a terra é definida como uma “casa comum”.
Anunciar o evangelho é algo que não diz respeito apenas à alma, e nem mesmo à pessoa individualmente. É um grito dirigido a toda a humanidade que vive nesta terra. Não quero reduzir Francisco a um simples cantor da terra: ele também é uma voz crítica e profética, de denúncia contra todas as distorções que marcam a ação humana neste nosso mundo tão sofrido.
Você acha que o Papa Francisco deu um impulso ao diálogo com outras igrejas e religiões?
Francisco começou seu ministério em um momento em que era muito difícil reabrir novos caminhos de diálogo entre as igrejas. Parecia que havíamos chegado a um impasse. Ele, com seu caminhar em direção ao outro - e estou pensando na visita à igreja pentecostal de Caserta, bem como na visita à igreja valdense em Turim - demonstra uma disposição para reconhecer e acolher os irmãos e as irmãs da Reforma, indo ao encontro deles. Isso muda as relações, muda a perspectiva e favorece um estilo diferente de confronto, em que a apologia dá lugar ao diálogo, a doutrina dá lugar ao abraço.
Certamente ainda não chegamos ao ponto em que a Igreja Católica reconheça as outras Igrejas, que ainda são definidas como “comunidades eclesiais”; e estou bem ciente de que o caminho ainda é longo: mas o estilo de Francisco abre novas possibilidades de encontro e abre novos desenvolvimentos.
Vou lhe contar um episódio que aconteceu durante a visita dele à igreja valdense de Turim: minha filha fazia parte do coral e, durante a recepção, o Papa se aproximou dela e perguntou se ela era valdense. Minha filha respondeu que era batista. Então ele lhe disse: 'Ah, batista! Conheci uma cantora gospel muito boa na Argentina' e, depois de cantarolar, acrescentou: 'E aquela cantora, naquele dia, me anunciou o Evangelho'. Acredito que minha filha se lembrará desse encontro pelo resto da vida: esse homem institucional que, durante uma recepção em sua homenagem, deu-lhe atenção, a escutou. Acho que essa escuta atenta é a marca de Francisco.
Finalmente, nós, protestantes, temos algo a invejar a vocês! O caminho ecumênico nos ensina a apreciar as riquezas das outras igrejas; e um pontífice assim é motivo de alegria para nós, porque ele reacendeu a paixão pelo Evangelho em nossa irmã, a Igreja Católica. Como podemos não nos alegrar: não somos, justamente, partes do mesmo corpo?
Se tivesse que agradecer pessoalmente ao Papa Francisco, pelo que o agradeceria?
Eu o agradeceria, em primeiro lugar, porque ele nos fez saborear a beleza de um Evangelho que muitas vezes é sobrecarregado por linguagens desvinculadas da vivência cotidiana. Eu o agradeceria por ter ajudado as outras igrejas a sair da apologia e da polêmica confessional, por ter iniciado uma nova temporada de diálogo, baseado no acolhimento recíproco, por ter levado a sério o pedido de Jesus “para que sejam um”. Gostaria de agradecê-lo por dar voz novamente aos que não têm voz, por colocar os últimos de volta ao centro. Acima de tudo, gostaria de agradecê-lo por ter ajudado a Igreja Católica a sair de sua depressão, presa como estava em um lamento contínuo; ele conseguiu restaurar a vitalidade, a motivação e o espanto, trouxe de volta a alegria de quem é testemunha da alegria evangélica: aquela alegria que, se não for vivida, não pode ser transmitida.