20 Fevereiro 2025
“Acredito que somos todos, fortemente, vítimas sofredoras de um sistema patriarcal que não se sabe a quem fez bem, acho que a ninguém. Estamos fazendo grandes revoluções nesse campo, devemos seguir em frente, este é simplesmente um começo, mas estou confiante de que as coisas mudarão”. Luca Marinelli é o protagonista de Paternal leave, o filme, que foi exibido ontem na 75ª Berlinale, no qual, pela primeira vez, ele atua sob a direção de sua esposa Alissa Jung, estreante atrás da câmera, com uma história sobre um homem que foge da paternidade: “A vida”, diz o ator, “pode ser muito difícil, mas também maravilhosa, estou apaixonado por essa história”.
A entrevista é de Fulvia Caprara, publicada por La Stampa, 17-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Dos escombros do antigo sistema familiar, baseado justamente no patriarcado, parece que muitas vezes surgem figuras parentais inadequadas. Como você acha que alguém pode ser um bom pai?
Graças ao feminismo, estamos tentando derrubar um patriarcado que sempre foi, para homens e mulheres, um problema gravíssimo. Vivendo em nossa família, com Alissa, que tem dois filhos de seu primeiro casamento, aprendi que a coisa mais importante que os pais podem fazer é escutar seus filhos e aprender com eles. Os filhos, comparados com a gente, estão muito mais conectadas com o tempo presente. Nós temos mais experiência, mas eles vivem no agora. Sempre deve haver uma troca.
Como você definiria o papel dos pais e das mães hoje?
A primeira coisa a fazer, na minha opinião, é tirar as definições do caminho. Um pai e uma mãe devem ser simplesmente pessoas que estão ali, presentes e ouvindo. Não são necessários rótulos. O que é um "bom pai"? Não podemos saber, não faço ideia, talvez baste ser pai.
Na história de Paternal leave, há um pai que foge de uma filha, Leo (Juli Grabenhenrich), que por sua vez foi rejeitada. Depois, finalmente, ele para e tenta estar presente. Por que é tão difícil ser pai hoje em dia?
No filme, vemos que a filha está muito à frente do pai. No momento em que ele começa a escutá-la, percebe que está tendo a maior sorte da vida.
Homens que se esquivam. Até mesmo das responsabilidades básicas. O que pensa?
Acontece a cada um de nós ser frágil e vulnerável, o que muda é o tipo de resposta. Fugir é a pior, uma atitude que não ajuda ninguém, nem aquele que foge de si mesmo nem quem está ao seu redor. Todos nós podemos nos encontrar nessas situações, é a reação que faz a diferença.
Seu personagem vive sozinho, em contato com a natureza, fora das convenções. Um sonho meio hippie, que está voltando a se popularizar. Você já teve essa experiência?
Sim, é um impulso que em parte compartilho. Acho que é bom passar um tempo consigo mesmo, é uma coisa importante. Além disso, é claro, você precisa entender o que isso implica. Se isso o levar a viver em um atol, longe de todos, talvez não seja muito útil. É bom estar juntos e, de vez em quando, ter momentos de solidão.
Você e a autora são um casal. Como foi trabalhar lado a lado?
Muito empolgante, mas também fomos muito profissionais. Encontrei uma grande diretora que me deu a oportunidade de explorar algo mais de mim e desse trabalho. Eu disse a ela que leria o roteiro e que faria o filme se achasse que seria útil para o projeto. Foi muito emocionante testemunhar o nascimento de tudo isso.
Sua esposa fez um teste com você?
Talvez sem saber... De qualquer forma, Alissa e eu vemos o mundo da mesma maneira, temos mais ou menos os mesmos gostos, quando ela vê um filme e gosta, é quase certo que eu também vou gostar e vice-versa, não há ninguém em minha vida que eu conheça tanto e em quem tenha tanta confiança.
No set, foi tudo muito natural, eu sabia que a Alissa, por me conhecer tão bem, me incentivaria a fazer algo novo. Com ela, teria sido impossível me esconder ou recorrer a algum atalho técnico, um pouco mais cômodo.
Vocês nunca brigaram?
Talvez uma vez.
Você vem da experiência da série “M Il figlio del secolo”. Em que fase de sua carreira está agora?
Estou concentrado neste momento tão importante. Agradeço a todas as pessoas que viram a série e, se houver uma continuação, eu, juntamente com o diretor Joe Wright, estaremos lá. Sou grato àqueles que entenderam o sentido de 'M' e às pessoas que se sentiram envolvidas porque sabem como é importante hoje estar presente, participar de nossa vida comunitária, de nossa história, do processo de melhoria de nossa sociedade. Especialmente do desejo de abandonar certos legados horrendos que ainda carregamos conosco do passado.
Você mora aqui em Berlim e trabalha com frequência na Itália e em outros lugares. Onde você imagina seu futuro?
Gostaria de ser poder ir um pouco para todo lugar. Tenho uma grande curiosidade, na Itália tive a sorte de participar de projetos maravilhosos, tanto nacionais quanto internacionais, como Le otto montagne, no qual atuei com pessoas do meu país e também de outros lugares. Eu gostaria de trabalhar em outros lugares, quero compartilhar essa profissão que amo com todas as pessoas que a fazem.
Nos créditos do filme, você canta uma música.
Certa vez, Alissa me perguntou que música eu gostaria de interpretar para o personagem principal de sua história. Pensei em Solo per gioco, de Giorgio Poi, um amigo muito querido, porque me emociona muito. Em um determinado momento, diz 'e você que me entende bem, fique um pouco'. Transmite um senso de humanidade, que todos nós deveríamos ter, ou pelo menos buscar, talvez até pedir. Estar com quem nos entende e conversar um pouco.