21 Novembro 2024
Bloco tenta emplacar meta insuficiente para contribuição dos países ricos à conta da crise do clima
A reportagem é de Priscila Pacheco, publicada por Observatório do Clima, 20-11-2024.
DO OC – Nesta quarta-feira (20), a União Europeia foi homenageada com o “Fóssil do Dia”, prêmio simbólico concedido pela Climate Action Network (CAN) para países e grupos que mais prejudicam as negociações durante as conferências do clima. A escolha foi motivada por informações de que o bloco está defendendo um financiamento climático anual entre US$ 200 bilhões e US$ 300 bilhões nas negociações da 29ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas (COP29), realizada em Baku, Azerbaijão.
A principal pauta desta COP é a Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG, na sigla em inglês), que estabelece o financiamento climático que os países desenvolvidos – responsáveis históricos pelas mudanças climáticas – devem disponibilizar a partir de 2025. Esses recursos devem financiar ações de mitigação, adaptação e cobertura de perdas e danos nos países em desenvolvimento. As organizações da sociedade civil defendem que o valor mínimo é de US$ 1 trilhão por ano, um montante bem acima do que os países ricos estão querendo a negociar.
De acordo com a CAN, a proposta de US$ 200 bilhões a US$ 300 bilhões, considerando a inflação, não representa um aumento significativo em relação à meta de US$ 100 bilhões definida há 15 anos. Além disso, a UE quer que parte dos recursos seja mobilizada pelo setor privado, reduzindo a responsabilidade direta dos governos.
“A União Europeia afirmou repetidamente que quer ser um ‘construtor de pontes’ na COP29. Se você realmente deseja construir essa ponte, precisa apresentar algo concreto”, afirmou Emília Runeberg, especialista em finanças climáticas da CAN Europa. “O que está em jogo aqui não é apenas o multilateralismo ou a substituição dos compromissos internacionais da UE. Trata-se da vida humana, da saúde e dos ecossistemas do nosso planeta. Se a UE quer liderar, precisa agir”, completou.
Três países da UE já foram premiados nesta COP, já que o G7 subiu ao pódio no último sábado (16). O grupo – composto pelos Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido – foi premiado por passar anos se negando a assumir responsabilidade fiscal em relação à crescente dívida climática.
“Os países do G7 chegaram à COP29 sem apresentar qualquer valor para o NCQG. Esse clube exclusivo, cujos membros estão entre os 10 maiores emissores históricos, insiste que todos os outros devem assumir igual responsabilidade pela crise climática que eles mesmos agravaram. Onde está a responsabilidade por suas próprias ações?”, questionou a CAN.
Além disso, a Itália foi premiada individualmente para continuar apoiando a exploração de combustíveis fósseis. Conforme explicado pela CAN, o país é o segundo maior importador de gás da Europa e mantém estreitas relações comerciais com o Azerbaijão na compra de petróleo. Os italianos responderam por 57% das exportações de petróleo do país-sede da COP29.
A Suíça, embora não tenha levado o “Fóssil do Dia”, recebeu uma menção desonrosa nesta quinta-feira. Apesar de suas emissões domésticas representarem menos de 0,1% do total global, o país é responsável por emissões indiretas significativas, devido a isso, atividades de empresas estrangeiras sediadas em seu território e investimentos do setor financeiro suíço. “Como um dos países mais ricos do mundo, é hora de fazê-la pagar pelos danos que está causando”, destacou a CAN, que também criticou a falta de avanços do país em suas metas de descarbonização.
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