18 Setembro 2024
Na medida em que igrejas na Europa recorrem à Inteligência Artificial em suas atividades eclesiais, elas também se perguntam “O que é a verdade? Questões éticas e práticas no uso da inteligência artificial”, tema da Conferência Europeia Cristã da Internet (ECIC) reunido dia 9 a 12 de setembro no Instituto Ecumênico em Bossey, na Suíça.
A reportagem é de Edelberto Behs.
“Somos chamados a perturbar e criticar a maneira como a IA e a tecnologia digital são usadas”, declarou na abertura do encontro a presidente da ECIC, Agenieszka Godfrejó Tarnagórska, da Igreja Evangélica da Confissão de Augsburgo, na Polônia. Ela defendeu o recurso da transparência e da responsabilidade no uso da IA, e uma visão tecnológica alinhadas aos valores cristãos, que respeite a Criação, sirva às pessoas e defenda a justiça.
Autor de livros de ficção, o diretor de inovação da Syndesis Health Inc., uma empresa de dados de saúde e IA, o Dr. George Zarkadakis, Ph.D. em IA em Medicina, lembrou que “a ideia de que objetos inanimados podem ter de fato uma mente é muito mais antiga do que o nascimento da IA no século XX”. A palestra de Zarkadakis versou sobre “Deuses, Robôs e Teoria da Mente: Como a IA é diferente de tudo o que fazemos”.
A busca por máquinas que pensam é muito mais profunda do que um mero utilitarismo. “A IA é uma tecnologia que pode remodelar nossa espécie em uma metaespécie que transcende as fronteiras físicas”, disse. Em essência, acrescentou, “isso significa que os humanos adquirem características e habilidades divinas”.
Na concepção do palestrante, “os humanos se tornaram tão inteligentes que se tornaram parte da máquina”. Mesmo com uma visão progressista da aplicabilidade da IA, Zarkadakis, no entanto, manifestou preocupação “como ela pode impactar a sociedade”.
Outro palestrante no encontro foi o professor de Gestão de Mídia da Universidade de Colônia, Dr. Holger Sievert, que abordou o tema “Inteligência artificial como um (não)tópico de duas grandes igrejas europeias”, com base em pesquisa realizada com quase 1,5 mil funcionários de denominações.
Ele concluiu que o Instagram é a plataforma usada por cerca de 60% das pessoas e que membros das igrejas estão de um a três anos a frente, comparado com a população em geral, em termos de digitalização na Alemanha.
Na Suíça o tema também está na pauta do dia de igrejas protestantes e católica, que começaram a utilizar o ChatGPT nas suas atividades eclesiais. Falando à repórter Anne-Sylvio Sprenger, do jornal ProtestInfo, o bispo da Diocese de Lausanne, Genebra e Friburgo, Charles Morerod, frisou que “os meios de comunicação são centrais na Igreja do Verbo feito carne”. A seu ver, “seria lamentável se os membros das igrejas negligenciassem tais instrumentos”.
Foi o que fez o engenheiro católico Nicolas Torcheboeuf, que desenvolveu um chatbot que utiliza os ensinamentos do catecismo católico e conteúdos do Magistério com o propósito de “redescobrir os textos fundamentais da Igreja Católica, que constituem um patrimônio formidável para a compreensão do mundo em que vivemos”.
Também a pastora Carolina Costa, da Igreja Protestante de Genebra, lançou um “assistente virtual” em seu site pessoal, para ajudar as pessoas a encontrarem conteúdos e respostas às suas perguntas.
O especialista em ética, Ezekiel Kwetchi Takam defende a regulação da IA, já que se trata de “uma tecnologia disruptiva que está destinada a mudar a nossa vida quotidiana, a fim de preservar espaços para as relações humanas. A mensagem cristã é acima de tudo uma mensagem de encontro”. O pastor Pierre-Philippe Blaser acredita que “o erro seria dar demasiada autonomia de ação à IA”, sugerindo que ela é autossuficiente devido à sua autocorreção. “Mas já sabemos que nem tudo o que a IA produz será inteligente”.