Não é guerra. É genocídio. Artigo de Ivânia Vieira

Foto: Ashraf Amra | UNRWA

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01 Março 2024

"Gaza nos questiona. Não estamos longe de lá. As imagens, misturando corpos humanos, escombros e de gente desesperada, faminta, doente, despencam diante dos nossos olhos a partir das telas pequenas, médias e grandes. Qual bandeira queremos enrolar em nossos corpos e, com elas, desfilar nossas reivindicações? Qual Deus acionamos?".

O artigo é de Ivânia Vieira, jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Processos Socioculturais da Amazônia, articulista no jornal A Crítica de Manaus, cofundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).

Eis o artigo.

Quantas crianças foram mortas em Gaza? Quantas mulheres e quantos jovens sucumbiram no solo palestino? Os números mudam, para cima, a cada dia. Relatórios do Unicef, da OMS e de diferentes instituições citam mais de 20 mil mortes das quais a maioria de crianças (a estimativa é 10 mil crianças mortas). Nesse momento, outra estatística do genocídio circula demonstrando o ritmo acelerado da matança produzida pelo Governo de Israel.

As crianças que escapam dos bombardeios sobrevivem em ambiente de truculência onde a desnutrição e disseminação de epidemias configuram a outra face da guerra. São 625 mil crianças sem escola e sem lugar com algum nível de segurança para se abrigarem. São sujeitos de direito impedidos de viver, com dignidade, sem trégua, perambulando em meio aos escombros e corpos de parentes.

Por que o governo de Israel não é obrigado a parar? Os donos do poder no mundo até agora mantêm o sim para o genocídio prosseguir. As pressões internas dos governos pró-Benjamin Netanyahu não conseguiram produzir mudanças no plano de destruição do povo palestino, o que mostra o tamanho do limite do jogo de poder e o vasto recurso manejado para justificar a matança de civis.

Estamos, enquanto cidadãos do mundo, diante de um desafio ético e moral. O que ocorreu no Brasil/São Paulo, no dia 25, com a defesa das ações do governo de Israel, por centenas de manifestantes, entre eles mulheres, mães, avós, expõe a relativização extrema dos valores que nos completariam como humanos humanizados. Quantas crianças, jovens e mulheres palestinas terão de morrer para o mundo agir e parar as mortes? Até agora a autorização é para prosseguir na matança, geradora de audiência na palma da mão, de negócios bilionários à indústria bélica e pelo reposicionamento – via a produção de guerras – geopolítico.

Gaza nos questiona. Não estamos longe de lá. As imagens, misturando corpos humanos, escombros e de gente desesperada, faminta, doente, despencam diante dos nossos olhos a partir das telas pequenas, médias e grandes. Qual bandeira queremos enrolar em nossos corpos e, com elas, desfilar nossas reivindicações? Qual Deus acionamos?

“Agora não é o rei Herodes que passa centenas de crianças ao fio da espada. É o governo sionista de Netanyahu, na ânsia de vingança e de exterminar aqueles que são considerados “animais humanos”, segundo declaração do ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant”, afirma Frei Betto, em 5 de dezembro de 2023, no artigo “Natal na Faixa de Gaza”.

Diante da dor, as palavras de Frei Betto são a poeira da esperança: “Jesus nasce em Gaza e, agora, já não podem matá-lo, pois haverá de ressuscitar em cada criança, em cada jovem, em cada cidadão palestino consciente de que a terra das vinhas e das oliveiras guarda em seu solo as cinzas de seus mais longínquos ancestrais”.

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