19 Dezembro 2023
Um jardim de infância em Hamburgo gera polêmica ao decidir não instalar uma árvore de Natal, para incluir todas as religiões.
A reportagem é de Delphine Nerbollier, publicada em La Croix International, 18-12-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O jardim de infância Mobi, em Hamburgo, não esperava provocar tamanha polêmica. Durante este período do Advento, o jardim de infância em uma área residencial da cidade hanseática decidiu não montar uma árvore de Natal para “não excluir nenhuma criança e nenhuma crença”.
A gerência enfatiza que cerca de 10 nacionalidades estão representadas entre seus funcionários e jovens estudantes.
Essa decisão incendiou a cidade e todo o país. Pais, mães e responsáveis insatisfeitos reclamam de uma decisão que, segundo eles, se alinha com uma tendência de “cancelamento da cultura”, ou seja, de “apagamento cultural”.
“Somos tolerantes, mas esse abandono de um símbolo tradicional de paz, que vai além do cristianismo, é difícil de entender para muitos pais e filhos”, comentou um pai entrevistado por um jornal de Hamburgo.
Poucos dias depois, a gerência descobriu à sua porta uma árvore decorada com enfeites e guirlandas, além de presentes, fornecidos por uma creche local. O jardineiro, comentando essa “loucura”, disse ao tabloide Bild: “Acreditamos que todas as crianças têm direito a ter uma árvore de Natal”.
A questão mobiliza particularmente a direita alemã. “Isso é um absurdo. Não temos outros problemas? Uma árvore de Natal faz parte do Natal”, protestou Markus Söder, primeiro-ministro da Baviera e membro da União Social Cristã, no X, antigo Twitter. Essa afirmação foi posteriormente retrucada a ele por internautas, furiosos com essa “instrumentalização política”.
A extrema direita também não ficou em silêncio. “Não deveríamos levar em consideração as crianças muçulmanas”, diz um comunicado no site do partido Alternativa para a Alemanha (AfD).
De forma mais ampla, a revista Der Spiegel, de Hamburgo, vê essa questão como um exemplo de uma “guerra cultural”, enquanto a agência de notícias T-Online acredita que essa decisão em nome da “liberdade religiosa [...] talvez seja louvável”, mas escolhe o símbolo errado. “A árvore de Natal é mais antiga do que o cristianismo”, diz o editorial.
“É um símbolo muito antigo de proteção e de fertilidade durante a estação escura do inverno. Inicialmente, os católicos não gostaram nada do fato de os protestantes trazerem e decorarem essas árvores, com enfeites pagãos, em suas casas”, lembra o texto.
Desde então, o jardim de infância em questão reconhece ter utilizado uma “formulação infeliz”, mas confirma que garante que “as crianças conheçam outros costumes culturais além dos marcados pelo cristianismo”. Diz que o Natal não passa despercebido, pois as crianças decoraram as salas de aula, receberam calendários do Advento, confeccionaram biscoitos tradicionais e terão um almoço de Natal, prática comum nos jardins de infância do país.
A gerência explica ainda que, em 10 anos, só montaram uma árvore três vezes, sem causar tamanha campanha de ódio. No entanto, confrontada com “ameaças racistas, insultos pessoais e outras tentativas de chantagem”, a polícia teve de patrulhar a área este ano. Essa atmosfera de ódio definitivamente não se alinha com o espírito natalino.