09 Setembro 2023
- Para aqueles que vivem na Igreja em busca da comunidade de Jesus, a Igreja é quase sempre fonte de alegria e motivo de sofrimento.
- Esta é a maior tragédia da Igreja. Nós criamos uma Igreja onde não poucos cristãos imaginam que, pelo fato de aceitarem algumas doutrinas e cumprirem algumas práticas religiosas, estão seguindo a Cristo como os primeiros discípulos.
- No entanto, esse é o núcleo essencial da Igreja. É viver a adesão a Cristo em comunidade. A primeira tarefa da Igreja é aprender a se reunir em nome de Jesus.
- Quando isso falta, tudo corre o risco de ser desvirtuado por nossa mediocridade.
O comentário é de José Antônio Pagola, teólogo espanhol, publicado por Religión Digital, 04-09-2023.
Quando alguém vive afastado da religião ou fica desapontado com o comportamento dos cristãos, é fácil que a Igreja lhe pareça apenas uma grande organização. Uma espécie de "multinacional" ocupada em defender e promover seus próprios interesses. Geralmente, essas pessoas conhecem a Igreja apenas de fora. Falam do Vaticano, criticam as intervenções da hierarquia, ficam irritadas com certas ações do papa. A Igreja é para elas uma instituição anacrônica da qual estão distantes.
Essa não é a experiência daqueles que se sentem membros de uma comunidade de fé. Para essas pessoas, o rosto concreto da Igreja é quase sempre a sua própria paróquia. É aquele grupo de pessoas amigas que se reúnem todos os domingos para celebrar a Eucaristia. É o lugar de encontro onde celebram a fé e oram juntos a Deus. É a comunidade onde batizam seus filhos ou se despedem de entes queridos até o encontro final na outra vida.
Para aqueles que vivem na Igreja em busca da comunidade de Jesus, a Igreja é quase sempre uma fonte de alegria e motivo de sofrimento. Por um lado, a Igreja é um estímulo e uma alegria; podemos experimentar dentro dela a memória de Jesus, ouvir a sua mensagem, seguir o seu espírito, alimentar nossa fé no Deus vivo. Por outro lado, a Igreja causa sofrimento, porque observamos nela incoerências e rotinas; muitas vezes há uma grande distância entre o que é pregado e o que é vivido; falta vitalidade evangélica; em muitas coisas, o estilo de vida de Jesus foi perdido.
Essa é a maior tragédia da Igreja. Jesus já não é amado nem venerado como nas primeiras comunidades. Sua originalidade não é conhecida nem compreendida. Muitos nem mesmo suspeitarão da experiência salvadora que os primeiros tiveram ao encontrá-lo. Criamos uma Igreja onde muitos cristãos imaginam que, pelo simples fato de aceitar doutrinas e cumprir práticas religiosas, estão seguindo a Cristo como os primeiros discípulos.
No entanto, o núcleo essencial da Igreja consiste nisto: viver a adesão a Cristo em comunidade, atualizando a experiência daqueles que o encontraram e experimentaram a proximidade, o amor e o perdão de Deus por meio dele. Portanto, talvez o texto eclesiológico mais fundamental sejam as palavras de Jesus que lemos no evangelho: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles".
O primeiro dever da Igreja é aprender a "reunir-se em nome de Jesus". Nutrir a sua memória, viver a sua presença, atualizar a sua fé em Deus, abrir hoje novos caminhos para o seu Espírito. Quando isso falta, tudo corre o risco de ser desvirtuado pela nossa mediocridade.
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Pagola: “Esta é a maior tragédia da Igreja: Jesus já não é amado nem venerado como nas primeiras comunidades” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU