07 Agosto 2023
Sujar as mãos pelos outros deixa um rastro. Uma vida destilada não. Os pobres são os favoritos de Deus.
A reportagem é de Mimmo Muolo, publicada por Avvenire, 05-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
No centro paroquial de Serafina, onde se encontra com aqueles que se ocupam dos mais necessitados, o Papa Francisco retorna a um conceito que lhe é caro. Falar de improviso, entregando o discurso escrito (“não funciona a iluminação e não consigo ler bem”, justifica-se), mas suas palavras não são menos incisivas. Antes de entrar, cumprimenta um pequeno portador de deficiência em cadeira de rodas, trocando com ele algumas palavras e batendo no alto as palmas da mão. Depois, uma vez lá dentro, explica o que deve ser o empenho de um cristão em relação à pobreza: “A pobreza dos outros me enoja? Estou buscando uma vida destilada que não existe? Quantas vidas destiladas inúteis, tantas vidas que não deixam vestígios”. E pelo contrário, “esta é uma realidade que deixa marcas – reitera aos voluntários dos centros de assistência de caridade – para que sujem as suas mãos”.
No discurso escrito, porém, o Pontífice sublinhava: “Somos todos frágeis e necessitados, mas o olhar de compaixão do Evangelho nos leva a ver as necessidades de quem mais precisa. E para servir os pobres, os favoritos de Deus que se fez pobre por nós: os excluídos, os marginalizados, os descartados, os pequenos, os indefesos. Eles são o tesouro da Igreja, são os favoritos de Deus”. E ainda: “Lembremo-nos de não fazer diferenças. Para um cristão não há preferências diante de quem bate à porta em necessidade: compatriotas ou estrangeiros, pertencentes a um ou outro grupo, jovens ou idosos, simpáticos ou antipáticos”. Em seguida, o Papa recorda a história do português São João de Deus que fundou os Irmãos Hospitalários. De seu lema "Façam o bem irmãos" nasceu o hospital romano "Fatebenefratelli".
“A igreja e o Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo, onde aconteceu a visita, situam-se no coração do bairro periférico de Serafina, em Lisboa. O Centro, construído onde antes existiam barracos e pessoas que viviam em extrema pobreza, emprega cerca de 170 pessoas que cuidam, entre outras coisas, de uma creche, uma escola infantil, atividades de lazer para crianças e jovens, um lar de repouso para idosos, um centro diurno para idosos e portadores de deficiência e de apoio domiciliário. Ao retornar à nunciatura, Francisco recebe uma delegação do centro internacional de diálogo Kaiciid, acompanhado pelo cardeal Ayuso. Ao saudá-la, agradece a visita e dirigiu algumas palavras aos presentes sobre o valor da fraternidade e do diálogo e o perigo do monólogo e do proselitismo. Em seguida o Papa fala com Rahim Aga Khan, filho do líder da comunidade ismaelita, que tem o seu centro em Lisboa. Por fim, recebe um grupo de religiosos e pessoas de diferentes crenças e confissões cristãs envolvidas no empenho ecumênico e inter-religioso da Igreja portuguesa. O Pontífice agradece aos presentes pela fraternidade vivida, pelos esforços de diálogo, recomendando-lhes que tomem cura dos jovens, que “são alegres, mas não superficiais”, e correm o risco de serem “anestesiados” pelo mundo que os rodeia.
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Papa Francisco: vamos sujar as mãos pelos pobres. São os favoritos de Deus, tesouro da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU