17 Julho 2023
"A recente viagem do bispo de Hong Kong a Pequim é positiva, assim como os convites para retribuir a visita a outros bispos da China continental. Uma delegação de cinco bispos chineses foi solicitada por Roma para o próximo sínodo, sem obter resposta até o momento. A evangelização deve ser reconhecida também para as comunidades clandestinas. Esses crentes merecem confiança porque são cidadãos leais".
O artigo é de Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, publicado por Settimana News, 16-07-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
“O Santo Padre nomeou bispo de Xangai, na China continental, S.E. D. Joseph Shen Bin, transferindo-o da diocese de Haimen, província de Jiangsu".
A nota da Santa Sé (15 de julho) põe fim ao problema da administração chinesa dos cultos, que no último dia 4 de abril havia instalado Shen Bin sem aguardar o consenso de Roma, violando o Acordo assinado em 2018, renovado em 2020 e 2022.
A diplomacia vaticana havia sido avisada dois dias antes sem lhe dar tempo de se pronunciar - o que teria sido favorável ao parecer favorável do bispo - e de tê-lo empossado pelo papa.
A descortesia e os porquês
Uma descortesia por parte do governo que pode ter várias explicações. Talvez tenha sido uma prova de força de personalidade da Frente Unida (instrumento do partido que representa a "sociedade civil") para a qual o ministério do exterior não escondeu certo embaraço diante dos esclarecimentos solicitados.
Outros atribuem o fato aos católicos locais (ligados à Associação Patriótica) pela urgência de decisões paradas há vários anos. Outro ponto de fragilidade é o corpo episcopal que não é mais aquele provado pela perseguição de Mao. Shen Bin e os diretos interessados teriam podido pretender o pleno respeito do Acordo?
São figuras dignas e apreciáveis, mas todas cresceram na época do comunismo e do crescimento econômico. Esta não é uma temporada de martírio. Por parte do governo, que tem renovado o interesse pelo Acordo, dever-se-ia perceber que o limitado diálogo com a Santa Sé é uma das poucas passagens viáveis diante do crescimento inquietante das decisões antichinesas não só dos Estados Unidos e do Ocidente, mas também de muitos dos países mais importantes da Ásia.
Se a Rússia se desestabilizar, a fronteira chinesa ao norte também se tornaria frágil. Além disso, a Santa Sé é um dos poucos interlocutores capazes de apresentar algumas perguntas sobre a "sinicização das fés" e a ingênua pretensão de gerir a "necessidade religiosa" no todo como partido. Como o passado demonstrou.
O cabo e a faca
Em novembro de 2022, a Santa Sé havia estigmatizado publicamente a posse do bispo auxiliar de Jiangxi, que ocorreu sem o consenso de Roma. Desta vez, ciente do "pastiche chinês", não o fez.
Afinal - disse-nos um observador informado - se fecharmos a porta e partirmos para o confronto como alguns pedem, corremos o risco de confiar as comunidades católicas a uma repressão devastadora e, com certeza, estaríamos diante de um cisma. Além disso, chegam a Roma sinais concretos de unidade na ação pastoral de padres pertencentes a dioceses de grande conflito. “O que nem todos entendem dentro da Igreja é que o cabo da faca está nas mãos do governo”.
Espera-se de Mons. Shen Bin uma revitalização da maior diocese católica do país. A começar pela solução das "prisões domiciliares" para o bispo auxiliar Tadeus Ma Daquin, confinado no seminário há anos.
Esclarecimentos de Parolin
Para explicar a decisão da Santa Sé, se manifestou diretamente o card. Pietro Parolin, secretário de Estado.
Em primeiro lugar, denuncia o desconhecimento do Acordo: “Esse modus procedendi não leva em conta o espírito de diálogo e da colaboração estabelecida entre o Vaticano e a parte chinesa ao longo dos anos e que encontrou um ponto de referência no Acordo. No entanto, o Santo Padre Francisco decidiu sanar a irregularidade canônica criada em Xangai em vista do bem maior da diocese e do frutuoso exercício do ministério pastoral do bispo”.
Ele destaca a necessidade de respeitar "o princípio fundamental da consensualidade das decisões relativas aos bispos", um diálogo que permitirá evitar dificuldades no futuro. “Portanto, é importante, diria mesmo indispensável, que todas as nomeações episcopais na China, incluindo as transferências, sejam feitas por consenso, conforme acordado, e mantendo vivo o espírito de diálogo entre as partes”.
A seguir, anuncia os três grandes temas a serem abordados: “a conferência episcopal, a comunicação dos bispos chineses com o papa, a evangelização”. O atual conselho de bispos não é reconhecido por Roma porque faltam os bispos subterrâneos. A comunicação com Roma deve ser facilitada.
A recente viagem do bispo de Hong Kong a Pequim é positiva, assim como os convites para retribuir a visita a outros bispos da China continental. Uma delegação de cinco bispos chineses foi solicitada por Roma para o próximo sínodo, sem obter resposta até o momento. A evangelização deve ser reconhecida também para as comunidades clandestinas. Esses crentes merecem confiança porque são cidadãos leais.
E conclui com um quarto pedido que está na pauta há tempo: “Parece-me que seria extremamente útil a abertura de um escritório estável de ligação da Santa Sé na China. Tomo a liberdade de acrescentar que, a meu ver, tal presença não apenas favoreceria o diálogo com as autoridades civis, mas também contribuiria para a plena reconciliação dentro da Igreja chinesa e seu caminho rumo a uma desejável normalidade”.
“Hoje, no momento crucial da aplicação (do Acordo), precisamos da boa vontade, do consenso e da colaboração, que nos permitiu estipular esse pacto de longa visão! A Santa Sé está decidida a fazer a sua parte para que o caminho continue”.
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Acordo Vaticano - China: confirmação e pedidos. Artigo de Lorenzo Prezzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU