14 Abril 2023
"Há ainda que se notar a persistência dos fabricantes chineses e europeus no fornecimento de agrotóxicos que foram banidos em outras partes do mundo para atender as demandas da agricultura de exportação. Com isso, o Brasil fica mantida na condição de uma espécie de uma latrina tóxica para onde são enviados produtos que já se mostraram altamente nocivos, seja porque causam a contaminação de recursos hídricos, por exemplo, ou porque já foram identificados como prejudiciais à saúde humana", escreve Marcos Pedlowski, professor Associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense em Campos dos Goytacazes, RJ, em artigo publicado por Blog do Podlowski, 13-04-2023.
Eis o artigo.
Como já venho indicando há algum tempo, a questão dos agrotóxicos é uma daquelas que ameaça colocar por água abaixo todos os compromissos assumidos pelo presidente Lula com a transformação da agricultura brasileira para um modelo menos devastador e mais ajustado às necessidades de alimentos saudáveis e ecossistemas naturais protegidos.
Pois bem, nesta 5ª feira (13/04), o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) publicou o Ato No. 16 de 06 Abril de 2023 que libera a utilização de mais 44 agrotóxicos em território nacional, o que eleva o total de venenos agrícolas liberados durante a gestão do ministro Carlos Fávaro (PSD/MT) chegar a 103.
Como Fávaro é historicamente ligado ao setor da monocultura da soja, a continuidade da liberação de agrotóxicos não é nenhuma novidade. O problema é que não se detecta nenhuma mudança na forma de classificação do risco ambiental e para a saúde humana desses produtos, o que faz com que agrotóxicos banidos em outras partes do mundo continuem sendo liberados no Brasil.
Um exame inicial da lista de agrotóxicos liberados pelo Ato Nº 16 mostra a liberação de agrotóxicos conhecidos por causarem câncer (os herbicidas S-Metolacloro e Glifosato, e o inseticida Acefato), bem como um conhecido exterminador de abelhas, o inseticidade neonicotinoide Imidacloprido.

Foto: Blog do Podlowski
O pior dessa situação é que não se vê uma reorientação das práticas adotadas pelo governo Bolsonaro que escantearam os ministérios da Saúde e do Meio Ambiente em prol de uma primazia dos interesses do MAPA que continua sob a liderança de um político com fortes laços com latifúndio agroexportador.
Há ainda que se notar a persistência dos fabricantes chineses e europeus no fornecimento de agrotóxicos que foram banidos em outras partes do mundo para atender as demandas da agricultura de exportação. Com isso, o Brasil fica mantida na condição de uma espécie de uma latrina tóxica para onde são enviados produtos que já se mostraram altamente nocivos, seja porque causam a contaminação de recursos hídricos, por exemplo, ou porque já foram identificados como prejudiciais à saúde humana.
Por essas e outras é que qualquer expectativa de que a questão da liberação de agrotóxicos será alterada pelo governo Lula sem uma intensa mobilização social é enganosa. Como a atual viagem o presidente Lula à China deverá ser centrada em acordos comerciais centrados na pauta agrícola, o problema poderá se tornar ainda mais grave.
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O veneno está em nossa mesa: Governo Lula libera mais 44 agrotóxicos e liberações chegam a 103 em 2023. Artigo de Marcos Pedlowski - Instituto Humanitas Unisinos - IHU