Uma ação climática urgente pode garantir um futuro habitável para todos, afirma IPCC

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21 Março 2023

A solução para as mudanças climáticas está no desenvolvimento resiliente ao clima. Isso envolve a integração de medidas de adaptação às mudanças climáticas com ações para reduzir ou evitar as emissões de gases do efeito estufa de forma a proporcionar benefícios mais amplos.

Publicamos aqui o comunicado de imprensa oficial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), 20-03-2023, a respeito de seu novo Relatório Síntese, cujo resumo está disponível em inglês aqui. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a nota.

Existem opções múltiplas, viáveis e eficazes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e para se adaptar às mudanças climáticas causadas pelo ser humano, e elas já estão disponíveis, disseram cientistas no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgado hoje.

“A integração de ações climáticas efetivas e equitativas não apenas reduzirá as perdas e os danos à natureza e às pessoas, mas também proporcionará benefícios mais amplos”, disse o presidente do IPCC, Hoesung Lee. “Este Relatório Síntese ressalta a urgência de tomar medidas mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos”.

Em 2018, o IPCC destacou a escala sem precedentes do desafio necessário para manter o aquecimento em 1,5°C. Cinco anos depois, esse desafio tornou-se ainda maior devido ao aumento contínuo das emissões de gases do efeito estufa. O ritmo e a escala do que foi feito até agora e os planos atuais são insuficientes para enfrentar as mudanças climáticas.

Mais de um século de queima de combustíveis fósseis, assim como um consumo de energia e um uso da terra desiguais e insustentáveis levaram ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-industriais. Isso resultou em eventos climáticos extremos mais frequentes e mais intensos, que tem causado impactos cada vez mais perigosos para natureza e para as pessoas em todas as regiões do mundo.

Cada aumento do aquecimento resulta em perigos que aumentam rapidamente. Ondas de calor mais intensas, chuvas mais fortes e outros eventos climáticos extremos aumentam ainda mais os riscos para a saúde humana e para os ecossistemas. Em todas as regiões, as pessoas estão morrendo de calor extremo. Espera-se que a insegurança alimentar e hídrica causada pelo clima aumente com o aumento do aquecimento. Quando os riscos se combinam com outros eventos adversos, como pandemias ou conflitos, eles se tornam ainda mais difíceis de administrar.

Perdas e danos em foco

O relatório, aprovado durante uma sessão de uma semana realizada em Interlaken, na Suíça, destaca as perdas e os danos que já estamos enfrentando e continuaremos experimentando no futuro, atingindo especialmente as pessoas e os ecossistemas mais vulneráveis. Agir corretamente agora pode resultar na mudança transformacional essencial para um mundo sustentável e equitativo.

“A justiça climática é crucial, porque aqueles que menos contribuíram para as mudanças climáticas estão sendo afetados de forma desproporcional”, disse Aditi Mukherji, um dos 93 autores desse Relatório Síntese, o capítulo final da sexta avaliação realizada pelo painel.

“Quase metade da população mundial vive em regiões altamente vulneráveis às mudanças climáticas. Na última década, as mortes por enchentes, secas e tempestades foram 15 vezes maiores em regiões altamente vulneráveis”, acrescentou.

Nessa década, uma ação acelerada para se adaptar às mudanças climáticas é essencial para preencher a lacuna entre a adaptação existente e aquilo que é necessário. Enquanto isso, manter o aquecimento dentro de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais requer reduções profundas, rápidas e sustentadas das emissões de gases do efeito estufa em todos os setores. As emissões devem diminuir agora e precisarão ser cortadas quase pela metade até 2030, se quisermos limitar o aquecimento a 1,5°C.

O caminho pela frente

A solução está no desenvolvimento resiliente ao clima. Isso envolve a integração de medidas de adaptação às mudanças climáticas com ações para reduzir ou evitar as emissões de gases do efeito estufa de forma a proporcionar benefícios mais amplos.

Por exemplo: o acesso à energia e a tecnologias limpas melhora a saúde, especialmente para mulheres e crianças; a eletrificação de baixo carbono, as caminhadas, o ciclismo e o transporte público melhoram a qualidade do ar, a saúde, as oportunidades de emprego e proporcionam equidade. Os benefícios econômicos para a saúde das pessoas provenientes apenas das melhorias na qualidade do ar seriam aproximadamente os mesmos ou possivelmente até maiores do que os custos de reduzir ou evitar as emissões.

O desenvolvimento resiliente ao clima torna-se progressivamente mais desafiador a cada aumento do aquecimento. É por isso que as escolhas feitas nos próximos anos terão um papel crucial na decisão do nosso futuro e das gerações vindouras.

Para serem eficazes, tais escolhas precisam estar enraizadas nos nossos valores, visões de mundo e conhecimentos diversos, incluindo o conhecimento científico, o conhecimento indígena e o conhecimento local. Essa abordagem facilitará o desenvolvimento resiliente ao clima e permitirá soluções localmente apropriadas e socialmente aceitáveis.

“Os maiores ganhos em bem-estar podem vir do fato de priorizar a redução do risco climático para comunidades de baixa renda e marginalizadas, incluindo pessoas que vivem em assentamentos informais”, disse Christopher Trisos, um dos autores do relatório. “A ação climática acelerada só acontecerá se houver um aumento igual no financiamento. Um financiamento insuficiente e desalinhado atrasa o progresso.”

Permitir o desenvolvimento sustentável

Há capital global suficiente para reduzir rapidamente as emissões de gases do efeito estufa se as barreiras existentes forem reduzidas. Aumentar o financiamento para investimentos climáticos é importante para alcançar as metas climáticas globais. Os governos, por meio de financiamento público e de sinais claros aos investidores, são fundamentais para reduzir essas barreiras. Investidores, bancos centrais e reguladores financeiros também podem desempenhar seu papel.

Existem medidas políticas experimentadas e testadas que podem funcionar para alcançar reduções profundas de emissões e a resiliência climática se forem ampliadas e aplicadas de forma mais ampla. Compromisso político, políticas coordenadas, cooperação internacional, cuidado dos ecossistemas e governança inclusiva são importantes para uma ação climática eficaz e equitativa.

Se a tecnologia, o know-how e as medidas políticas adequadas forem compartilhadas, e o financiamento adequado for disponibilizado agora, todas as comunidades poderão reduzir ou evitar o consumo intensivo de carbono. Ao mesmo tempo, com investimentos significativos em adaptação, podemos evitar riscos crescentes, especialmente para grupos e regiões vulneráveis.

O clima, os ecossistemas e a sociedade estão interligados. A conservação efetiva e equitativa de aproximadamente 30-50% da terra, da água doce e dos oceanos da Terra ajudará a garantir um planeta saudável. As áreas urbanas oferecem uma oportunidade em escala global para uma ação climática ambiciosa que contribua para o desenvolvimento sustentável.

As mudanças no setor de alimentos, eletricidade, transporte, indústria, construção e uso da terra podem reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Ao mesmo tempo, podem facilitar estilos de vida com baixo consumo de carbono, o que também melhorará a saúde e o bem-estar. Uma melhor compreensão das consequências do consumo excessivo pode ajudar as pessoas a fazerem escolhas mais informadas.

“Mudanças transformacionais têm maior probabilidade de sucesso onde há confiança, onde todos trabalham juntos para priorizar a redução de riscos e onde os benefícios e os ônus são compartilhados equitativamente”, disse Lee.

“Vivemos em um mundo diverso no qual todos têm diferentes responsabilidades e diferentes oportunidades para provocar mudanças. Alguns podem fazer muito, enquanto outros precisarão de apoio para ajudá-los a gerir a mudança”.

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