19 Agosto 2022
"Ratzinger demite o padre que casa os gays" foi a manchete dos jornais em março de 2003. Uma medida pontifícia que não impediu Franco Berbero de continuar a celebrar em sua comunidade e continuar a ser chamado de "dom", um título que ninguém em Pinerolo, Itália, parece questionar.
O comentário é de Davide Cavalleri, publicado por Repubblica, 18-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Em quase 60 anos de ministério, casei 690 casais homossexuais”, conta com orgulho Padre Franco no gabinete da casa onde mora com sua esposa. Aos 83 anos, ele narra com grande precisão as lembranças de sua memória: conta quando, ainda jovem padre, achava que a Igreja tinha a verdade em suas mãos e dos anos seguintes repletos de dúvidas, encontros e preconceitos quebrados.
"Em 1963 um rapaz homossexual me apresentou seu parceiro. Aquele encontro mudou minha vida. Em 1971 fundei um grupo de encontro para gays e 7 anos depois comecei a casá-los", lembra Padre Franco. Uma prática imediatamente condenada por seus superiores, mas que explodiu definitivamente apenas em 2000, quando, por ocasião do jubileu, o padre de Pinerolo chegou a dizer que a homossexualidade é um dom.
"Nunca quis me retratar por aquela frase, teria sido incorreto em relação com aquilo que eu tinha feito e com a minha comunidade". Em 2003 foi exonerado do estado clerical, mas Dom Franco nunca renunciou a exercer seu ministério em desobediência aos ditames do Vaticano. Nas suas comunidades de Pinerolo, Turim e Piossasco continua a celebrar casamentos entre gays, lésbicas e trans, tem uma esposa e permite que as mulheres ministrem a Eucaristia. "Com o seu fechamento, a Igreja está perdendo muitos chamados de Deus - conta ele com lágrimas nos olhos -. Muitas pessoas estão se afastando convencidas de que para fazer parte da Igreja é preciso ter uma carteirinha: ou você é um homem heterossexual ou fica de fora. Digo que essa mensagem compromete o Evangelho”.