Pesquisadores propõem medidas para enfrentar desigualdades na educação na Região Metropolitana de Porto Alegre

Foto: Alex Rocha/PMPA

Por: Ivan Júnior | 11 Junho 2022

 

O Pacto Educativo Global e o impacto das desigualdades foram temas do IHU Ideias A educação na região metropolitana de Porto Alegre - Realidades e perspectivas. O encontro, no formato on-line, ocorreu no fim da tarde da quinta-feira, 19/5/2022, e reuniu a professora Hildegard Susana Jung, da Unilasalle, e o professor Rodrigo Manoel Dias da Silva, da Unisinos. A mediação da atividade foi feita por Marilene Maia, coordenadora do Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

 

Ao propor novas perspectivas na atividade educativa, que coloca a pessoa no centro, a partir do Pacto Educativo Global, Jung, coordenadora e pesquisadora permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unilasalle, afirma a necessidade de “pensar a educação inserida em uma economia solidária. Ou seja, (uma educação) para todos, comprometida com o meio ambiente, o ser o e estar em harmonia com a natureza e com o nosso semelhante”.

 

Para Silva, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos, o pacto é uma alternativa ao foco da educação atual, orientada pelo individualismo e competitividade. “O pacto possui fundo humanitário, profundamente atento ao planeta e a formação integral da pessoa. Uma educação voltada para a solidariedade e cooperação universal, formando-nos plenamente”, afirma Silva.

 

Lançado pelo Papa Francisco, em setembro de 2019, o Pacto Educativo Global tem como objetivo “reavivar o compromisso para e com as novas gerações, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de ouvir com paciência, de diálogo construtivo e de compreensão mútua”. De acordo com o documento, disponível nesta matéria do IHU, a proposição pretende “unir esforços em uma ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar a fragmentação e a oposição e reconstruir o tecido das relações para uma humanidade mais fraterna”.

 

 

 

Impacto das Desigualdades na Educação na Região Metropolitana de Porto Alegre

 

No início do IHU Ideias, Marilene Maia trouxe informações relacionadas às desigualdades presentes na Região Metropolitana de Porto Alegre. O território é formado por 34 municípios, tem 4,4 milhões de habitantes, representando 38,2% da população, conforme o Atlas Socioeconômico do Governo do Rio Grande do Sul.

 

Um dos dados apresentados mostra que no início de 2020 os 10% do topo da distribuição de renda ganhavam, em média, 27 vezes mais do que os 40% da base da distribuição. Conforme o boletim Desigualdades nas Metrópoles, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, a diferença aumentou para 42 vezes mais após a pandemia. Desta forma, a região de Porto Alegre é "muito mais desigual do que era no primeiro trimestre de 2020".

 

De acordo com Maia, os índices de desigualdade de renda manifestam-se em outros aspectos, como no nível de aprendizagem esperado em cada nível educacional, entre outros tópicos da educação, na alimentação da população, nos índices de desemprego e na mortalidade infantil. “Esses dados (relacionados à desigualdade) impactam na garantia do acesso à educação pelas crianças, dever compartilhado entre o Estado e as famílias”, afirma a Coordenadora do ObservaSinos.

 

 

De acordo com Jung, os dados trazidos por Maia mostram uma fotografia da RMPA. Por exemplo, a fome atinge quase um milhão de pessoas na Região Metropolitana de Porto Alegre. Para se ter ideia, na capital gaúcha, são cerca de 140 mil pessoas que passam fome, totalizando 10% da população. “Quem trabalhou em escola pública de periferia sabe como a fome impacta na aprendizagem”, destaca a professora da Unilasalle.

 

Jung menciona três dimensões de ações para a educação. A primeira delas é o Pacto Educativo Global, cujo tema dialoga diretamente com a agenda de objetivos da Organização das Nações Unidades - ONU de 2030 sobre a Educação de Qualidade. O segundo aspecto trazido por ela é o trabalho desenvolvido nas universidades comunitárias, exemplo da Unisinos e da Unilasalle. Conforme a pesquisadora exemplifica, nos currículos das graduações dessas faculdades, são desenvolvidos projetos com estudantes que permitem auxiliar, monitorar e interferir na realidade educacional nas cidades em que atuam. Por fim, na terceira dimensão, a professora da Unilasalle fez uma provocação, perguntando a todos “Como posso contribuir para o debate de educação”.

 

Estudantes tiveram perda na aprendizagem nos últimos dois anos

 

Primeiramente, Silva, professor da Unisinos, menciona o resultado pedagógico da pandemia que, por conta da crise social e isolamento, impactou fortemente a educação. Dentro disso, o professor menciona estudo da Fundação Getúlio Vargas -FGV, presente em matéria do IHU, que mostra que 72% dos estudantes tiveram perda na aprendizagem na educação básica nos últimos dois anos. “Obviamente não se trabalha em um cenário com 100%, mas isso nos revela uma fragilidade no modelo de aprendizagem da pandemia”, frisa o pesquisador. Após essa primeira introdução, ele pontua três destaques relacionados à educação para reflexão.

 

 

 

 

Distorção idade-série em Porto Alegre

 

 

 

A segunda parte trazida por Silva está ligada à oportunidade civilizatória de converter a educação em um modelo de formação integral. Conforme, defende ele, a escola deve ser um espaço capaz de formar cidadãos e cidadãs habitantes do século XXI. “Esse cenário que descaracteriza a formação integral do ser, nos convida a converter esses territórios vulneráveis em territórios de aprendizagem de outra perspectiva para a educação”, afirma o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos.

 

De acordo com Silva, a educação é um fenômeno distribuído de maneira desigual na sociedade brasileira. Desta forma, ele defende a necessidade de romper o modelo de sociedade neoliberal que exclui, escraviza e nos diminui como ser. Por fim, o professor destaca que: “A escola nunca esteve tão no centro como está agora, por mais que o contexto político não seja favorável. A escola é um projeto social em aberto”.

 

O terceiro ponto trazido por ele é a necessidade de discutir novos pactos e compromissos para a educação. Desta forma, Silva afirma que a escola precisa responder às demandas sociais do seu tempo. Para completar as três ideias apresentadas, o painelista destaca a importância do pacto educativo global.

 

 

 

Novo programa: ObservaEducação

 

Como o tema em evidência era a educação, Maia aproveitou para anunciar o ObservaEducação - novo projeto em articulação com o ObservaSinos e desenvolverá trabalho de análise das desigualdades no âmbito da educação na região do Vale do Sinos. Silva explica que o começo do trabalho passa pela formação de bolsistas de iniciação científica e reúne um grupo de pesquisadores e de professores envolvidos com uma produção orientada para a educação. Em sua exposição sobre o ObservaEducação, Maia contextualiza que o grupo, apoiado pelo CNPq, tem como uma das origens um levantamento feito pelo ObservaSinos nas ocupações urbanas durante a Pandemia, que identificou que crianças e adolescentes, entre 10 e 14 anos, estudavam, porém, não sabiam ler e escrever.

 

Eleições 2022 em Perspectiva - As Desigualdades Sociais na Região Metropolitana de Porto Alegre

 

Durante o evento, Maia explicou que essa edição do IHU Ideias também inicia o ciclo de estudos desenvolvidos pelo ObservaSinos, com o tema o Eleições em 2022 em Perspectiva - Desigualdades Sociais na Região Metropolitana de Porto Alegre. O evento tem como objetivo promover a análise e o debate transdisciplinar e multidimensional sobre esses temas para o desenvolvimento da RMPA em meio ao cenário de eleição neste ano. Agendado para os meses de julho e agosto, a programação da atividade estará disponível no site do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, nas próximas semanas.

 

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