10 Junho 2022
Estar conectado digitalmente é de grande importância para pessoas que vivem em áreas remotas, constata o camaronês Emmanuel Sengafor, coordenador pedagógico da rede Proceffa, que reúne cerca de 30 escolas agrícolas em Camarões. O acesso à internet significou uma mudanças significativa para agricultores da região.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
“O acesso à informação é empoderamento. Quando os agricultores em áreas remotas conseguem se informar sobre valores e a previsão meteorológica, faz realmente muita diferença para a formação de preços e o planejamento do trabalho”, aponta.
Camarões, oficialmente República dos Camarões, é um país da região ocidental da África Central. (Foto: Reprodução | Wikimedia commons)
A atuação de Sengafor não se restringe a assessorar agricultores. Ela se alarga pela área da educação, pois ensina jovens entre 12 e 20 anos de idade sobre alfabetização midiática. Ele buscou formação na Comundos, uma ONG belga que trabalha narrativas digitais. “Não ensinamos apenas habilidades técnicas aos jovens. Ensinamos também a ter um olhar crítico sobre a mídia”, diz o idealizador da iniciativa, Bart Vetsuypens, que morou anos no Brasil, onde trabalhou com telecentros em Recife e Fortaleza.
Em 2014, Bart começou a ministrar cursos de alfabetização midiática para jovens do hemisfério Sul. A partir dessa experiência ele desenvolveu um modelo, incentivando jovens a criarem suas próprias histórias, suas próprias narrativas digitais.
“Os jovens acham isso muito mais interessante do que as aulas chatas em sala de aula”, relata Sengafor. Eles procuram fotos que se encaixam na história que querem contar, “brincam com frases e aprendem a se expressar”. As histórias abarcam temas das áreas da educação, saúde, pobreza, moradia, migração, mudanças climáticas, conflitos sociais.
Camarões é um grande laboratório de problemas. O país tem mais de 250 comunidades com o mesmo número de idiomas locais. Essa diversidade torna ainda mais importante a comunicação, pois ela ajuda a entender o outro e traçar um caminho para a paz. O noroeste do país vive sob ameaças do grupo revolucionário radical Boko Haram.
“Contar histórias ajuda a buscar informações ativamente e formar uma opinião. Ao contar histórias uns aos outros, debater problemas e buscar soluções, queremos que nossos jovens desenvolvam uma mente aberta e se tornem mais tolerantes uns com os outros”, diz o professor camaronês em entrevista para a jornalista Alma de Walshe.
O projeto começou do zero, numa parceria entre Comundos e Proceffa, com a ajuda do Close the Gap, que fornece computadores e laptops usados para escolas. No caso de Camarões, cada uma das 30 escolas integradas na plataforma recebeu dez laptops.
Ainda assim, nem todos os obstáculos estão superados. Em muitos momentos, a internet está fora do ar, o que não impede todo o trabalho que antecede a publicação de um vídeo. Ao traçar um rascunho da história que querem contar, jovens conversam entre si e aprendem como podem julgar de forma crítica seu contexto de vida. “Depois eles começam a montar essa história. Aprendem como fazer o upload de imagens num computador, a narrar a história e a inserir uma trilha musical”, explica Sengafor.
Quase a metade da população da Terra não tem acesso à rede mundial de computadores, seja por falta das máquinas, seja por falta de conexão. Uma das áreas mais atrasadas nesse contexto é a África Subsaariana. Dados da Unesco, que apurou a situação de crianças em idade escolar no contexto da pandemia, mostrou que 89% dos alunos não tinham computador em casa, e 82% dos 11% que contavam com computador não tinham acesso à internet. Além disso, 56 milhões de estudantes vivem em regiões que não estão conectadas a uma rede móvel.
Região subsaariana do continente africano. (Foto: Reprodução)