A homilia perfeita de Niccolò Cusano. A encarnação completa a criação. Artigo de Piero Stefani

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20 Dezembro 2021

 

"Então, como o universo existe? Só há uma resposta possível: isso acontece por causa da Encarnação, 'de fato, se Deus não tivesse assumido a natureza humana - que resumia em si todos os outros seres como seu centro unificador - o universo em sua totalidade não seria completo e perfeito, aliás não seria de forma alguma um universo'. A convicção humanística que julga o homem um 'microcosmo' é camada em causa para justificar a existência de todas as coisas. Deus se encarna não por causa do pecado humano, mas para que a criação exista e subsista", escreve o filósofo e biblista italiano Piero Stefani, especialista em judaísmo e em diálogo judaico-cristão, e ex-professor das universidades de Urbino e de Ferrara, em artigo publicado por La Lettura, 19-12-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

O rito católico romano prescreve três missas diferentes para o dia de Natal: a da noite, a do amanhecer e a do dia. Cada uma prevê um evangelho diferente. À meia-noite é lido Lucas (2,1-14): é a cena do nascimento de Jesus em Belém, dos anjos e do anúncio aos pastores, quadro quase inevitável de associar ao presépio. No amanhecer, os poucos presentes ouvem os versos seguintes (Lc 2, 15-20), nos quais se descreve a visita espantada dos pastores a Maria, José e o menino deitado na manjedoura. Quando o sol já está alto, a passagem do Evangelho deixa de lado o componente narrativo e mergulha nas profundezas do chamado Prólogo de João (1,1-18): uma sequência de versículos que culmina onde se afirma que a Palavra (um termo frequentemente traduzido como Verbo, o grego usa logos) se fez carne.

O significado do Natal está suspenso entre dois extremos: de um lado, o chamamento ao nascimento que une todos os seres vivos, de outro, o anúncio de que o Filho, a segunda pessoa da Trindade, se fez homem. Ao contrário da primeira, esta segunda convicção é endossada apenas por uma parte minoritária da humanidade. Como festa ligada ao nascimento, o Natal tem potencial para reunir todos.

Cada um, se a isso dedicar alguma reflexão, entende que a ternura despertada por um recém-nascido é um reflexo da lei, desprovida de exceção, segundo a qual todos nascemos não autossuficientes e necessitados de ajuda. O simples fato de estarmos vivos atesta que alguém cuidou de nós. O sentimento de solidariedade percebido no Natal nutre-se dessas raízes remotas. Por trás da banalidade do ditado "no Natal todas as pessoas ficam boas", escondem-se profundidades existenciais.

As visões de são frequentemente paradoxais. Os crentes sabem que são uma minoria, mas ao mesmo tempo devem ter certeza de que suas crenças dizem respeito a todos, aliás, dizem respeito a tudo.

Trata-se de uma desproporção percebida mesmo quando a maioria da sociedade era cristã. No Natal de 1440, o mesmo ano em que escreveu De docta ignorantia, seu livro mais famoso, Niccolò Cusano proferiu um longo sermão em Augusta, na Alemanha, no qual a doutrina superou a ignorância.

Algumas passagens são reveladoras de sua filosofia. Deus é infinito, o mundo é finito. Entre infinito e finito não há proporção. No entanto, o mundo não pode existir sem uma relação com o seu Princípio que o transcende infinitamente.

Então, como o universo existe? Só há uma resposta possível: isso acontece por causa da Encarnação, “de fato, se Deus não tivesse assumido a natureza humana - que resumia em si todos os outros seres como seu centro unificador - o universo em sua totalidade não seria completo e perfeito, aliás não seria de forma alguma um universo”. A convicção humanística que julga o homem um "microcosmo" é colocada em causa para justificar a existência de todas as coisas. Deus se encarna não por causa do pecado humano, mas para que a criação exista e subsista.

Ninguém exige que os presbíteros que irão pregar na noite e no dia de Natal se meçam com as perspectivas abismais do Cusano. O pedido é mais contido, bastaria que os inevitáveis apelos ao menino e à solidariedade fossem verdadeiramente capazes de se medir com a seriedade da existência.

 

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