18 Novembro 2021
Do Egeu ao Canal da Sicília. De Gibraltar às costas atlânticas da Europa, parece que o Velho Continente não consegue enfrentar a questão da migração sem ter de erguer alguns muros. Que também pode ser uma barreira invisível, povoada de satélites, drones, aviões militares e milhões de euros para serem colocados nas mãos dos traficantes desde que eles segurem as mercadorias: dezenas de milhares de refugiados mantidos acorrentados.
A reportagem é de Nello Scavo, publicada por Avvenire, 16-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Líbia é o pior caso. Não é o único. Se para a Turquia de Erdogan foram prometidos 7 bilhões, para que só se deixe escapar poucos milhares de refugiados da Síria, Afeganistão, Iraque, com Trípoli foram mais longe. Tratando diretamente com os chefes da máfia. Desde que se tornassem apresentáveis, com uniforme da guarda costeira ou fazendo-se indicar como prefeitos, e que no pacote mantivessem o freio aos fluxos migratórios e à reabertura das torneiras do ouro negro.
Com o resultado de ter ampliado e criado instabilidade em regiões que pareciam ter alcançado uma certa tranquilidade, em um estudo recente de Francesco Fasani e Tommaso Frattini publicado por "lavoce.info", é mostrado como "a intensificação dos controles sobre uma rota reduz significativamente as entradas por aquele caminho, mas o efeito geral da redução dos fluxos em direção à Europa é essencialmente nulo. Patrulhar melhor uma rota - explicam os dois pesquisadores - leva, portanto, a uma redistribuição dos migrantes por outras rotas: o desvio prevalece sobre a dissuasão”.
É assim que aumentaram as saídas da Tunísia, enquanto cresce a rota atlântica, da África Ocidental às Ilhas Canárias, e nunca pararam as travessias da Argélia à Península Ibérica e Sardenha. Como acontece em todas as guerras modernas, são as aeronaves não tripuladas que operam quase que exclusivamente. Também aqui, tal como para os muros das fronteiras terrestres, está em jogo muito dinheiro.
"Poder voar no espaço aéreo civil europeu é um passo importante para nosso grupo industrial e uma prova concreta da capacidade de nosso sistema de pilotagem remota de se mover dentro de rotas civis", disse Moshe Levy, gerente geral do setor aeroespacial da Israel Aerospace Industries, recém contratado para a "proteção" das fronteiras terrestres e marítimas da UE. Os termos de referência e os objetivos dos dois contratos assinados em 1º de outubro foram analisados pelo “Statewatch”, o think tank de acadêmicos que há tempo acompanha as políticas da UE em matéria de direitos humanos.
O primeiro contrato tem como contratada principal a “Airbus DS Airborne Solutions GmbH de Bremen” (Alemanha), subsidiária da Airbus Defense and Space, divisão aeroespacial militar do grupo Airbus. “A contratada terá que fornecer uma plataforma para o controle remoto, equipamentos conectados para comunicação, a coleta e transferência de dados para um portal remoto, o armazenamento de missão, o controle e a assistência pelos operadores de drones via rádio e conexões por satélite”. Uma verdadeira guerra, mas não declarada.
“O serviço – especifica-se - será prestado na Grécia e/ou em Itália e/ou Malta com as modalidades que serão fornecidas no acordo que será detalhado entre a Frontex e a contratada”. Inicia-se com uma atribuição “no valor de 50 milhões de euros, sem IVA, que poderá ser entregue a um subcontratado até uma quota de 60%, com o fornecimento de um sistema de telecontrole aéreo, serviços de telecomunicações por satélite e equipamento sobressalente para as substituições, a manutenção das aeronaves e a formação e treinamento de pessoal da Airbus Ds”.
E tudo isso para caçar não uma facção terrorista ou um exército inimigo, mas caravanas de miseráveis empurradas em botes caindo aos pedaços. Nem um centavo, entretanto, para encurtar aqueles malditos trezentos e sessenta segundos. Esta é a probabilidade de que um homem que caiu ao mar possa ser avistado a uma distância não superior a 6 milhas náuticas, 9 quilômetros de um navio em trânsito: uma possibilidade a cada 6 minutos.
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Aviões, drones, satélites e fundos bilionários aos regimes. Não para salvar os náufragos, mas para conter os fluxos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU