O ataque do New York Times: “João Paulo II foi feito santo rápido demais. Sua reputação caiu”

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18 Novembro 2020

Em um editorial que está tendo repercussão mundial, o jornal estadunidense volta a expressar dúvidas sobre a canonização de Wojtyla: no centro a promoção em 2000 do Cardeal Mc Carrick, que um relatório encomendado por Bergoglio revelou ter cometido abusos sexuais contra menores.

A reportagem é publicada por Il Fatto Quotidiano, 17-11-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

"Hoje, depois de mais de uma década de dúvidas, a reputação de João Paulo II caiu sob a nuvem mais escura. Depois que o próprio Vaticano se apressou em canonizá-lo, esta semana publicou um relatório extraordinário que colocou a culpa pelo avanço da carreira do cardeal aos pés do santo”. O cardeal a que se refere o New York Times é o estadunidense Theodore Mc Carrick, que perdeu a função de padre em 2018 por decisão do Papa Francisco com um processo ao vivo no fórum interno da Congregação para a Doutrina da Fé e que o Relatório McCarrick encomendado por Bergoglio reconheceu como molestador e predador sexual, especialmente de jovens seminaristas. Em um editorial que está tendo repercussão mundial, o jornal estadunidense volta a expressar dúvidas sobre a canonização de João Paulo II, ocorrida em 2014 após um processo relâmpago e levanta sombras sobre o pontífice polonês pela forma como organizou em 2000 a promoção à prestigiosa sé de Washington de McCarrick, que tinha um excepcional histórico de fund rising. Enquanto isso, a Igreja polonesa também está em crise.

Apesar do Cardeal Stanislaw Dziwisz, ex-braço direito de Wojtyla, secretário pessoal de extrema confiança nos anos de seu pontificado, já tenha rejeitado qualquer acusação "infame" de ter recebido dinheiro para "esconder fatos ou favorecer pessoas indignas", apresentada em um documentário na TV polonesa TVN24, a tempestade não cessa, reacendida hoje pela notícia da morte do Cardeal Henryk Gulbinowicz, 97, ex-arcebispo de Breslávia, que há três semanas foi privado pelo Vaticano do direito de usar a insígnia do bispo devido a evidências de assédio sexual e encobrimento de casos de pedofilia pelo clero de sua diocese.

Mas é o caso McCarrick que ainda abala os Estados Unidos: o NYT lembra que a "investigação" de McCarrick definida como "institucional" pela Santa Sé e tornada pública na terça-feira passada, resultado de dois anos de investigações internas com 90 audiências, paralela e em certo sentido consequente àquela do antigo Santo Ofício, foi "encomendada pelo Papa Francisco, que canonizou Wojtyla em 2014" e "revela como João Paulo II tenha escolhido não acreditar nas repetidas acusações de abusos sexuais feitas contra o cardeal McCarrick, incluindo a pedofilia, permitindo-lhe galgar o topo da hierarquia”.

O NYT também salienta que, segundo os críticos, o Relatório "acima de tudo fornece uma prova contundente de que a Igreja agiu com velocidade temerária para canonizar João Paulo", com uma causa que se beneficiou da dispensa especial dos cinco anos desde a morte do candidato, “e agora está enredada em seus próprios escombros”. O NYT também menciona o papel do próprio Dziwisz (no passado também questionado pela triste história do fundador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel Degollado), que, como pode ser visto no relatório do Vaticano, foi o intermediário de uma carta com a qual McCarrick enganou Wojtyla, alegando que nunca teve relações sexuais com homens ou mulheres, obtendo assim a cobiçada promoção.

As águas, portanto, continuam agitadas na igreja polonesa, onde a conferência episcopal pretende continuar por iniciativa de uma comissão de inquérito independente sobre a pedofilia. Também estão se agitando aquelas da conferência episcopal estadunidense, reunida hoje e amanhã (virtualmente em atendimento às normas anti-Covid) em sua sessão de outono. Na mesa dos bispos dos EUA o pedido do National Catholic Reporter, histórica revista progressista, para que seja pedido ao Vaticano para suprimir o culto a São João Paulo II (a festa litúrgica é 22 de outubro). “As vítimas de abusos - afirma o NCR - não merecem nada menos do que isso”.

Na ordem do dia da assembleia dos bispos dos Estados Unidos, de fato estão justamente também estes temas prementes: "Os bispos - consta no site da Usccb - ouvirão um relatório do National Review Board que alerta a comissão sobre a proteção de menores sobre temas da proteção de menores, especificamente sobre as políticas e práticas de prevenção”. A agenda da reunião também inclui um diálogo entre os bispos sobre as respostas pastorais à pandemia de Covid 19 e sobre o racismo.

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