12 Novembro 2020
"Muitos seguidores do movimento 'pró-Life' parecem cometer uma verdadeira 'heresia social': a exaltação idolátrica de governos perversos que, para conquistar e manter-se no poder, simulam bondade para com o ser humano dentro do útero, mas não o suportam após o parto", escreve Bruno Franguelli, padre jesuíta.
Eis o artigo.
Nos primórdios do Cristianismo não foi diferente. As comunidades dos discípulos de Jesus eram continuamente agitadas pelos produtores das chamadas heresias. Os responsáveis pelo conteúdo herético eram muito inteligentes e astutos na arte da manipulação da fé recebida dos apóstolos. Tomavam um fragmento da verdade e a transformavam em verdade absoluta. Assim, tal realidade, separada do todo, transformava-se em única verdade. Complicado? Explico: por exemplo, é verdade que Jesus é humano, mas é também divino. Ario e seus discípulos descartaram a divindade de Jesus, afirmando que Jesus era somente humano: heresia!
De modo análogo, em tempos recentes sugiram os defensores do “pró-Life” que, aparentemente, defendem uma realidade nobre e digna: a vida. Quem não defende a vida? Mas aí está a armadilha! Não se trata da defesa de toda a vida humana na sua complexidade e necessidades, mas somente da defesa da vida intrauterina. Os “pró-Life” não parecem ter a mesma preocupação com a vida “pós-uterina”. Não lhes importa se esta vida ainda nos primeiros anos passará fome, se será separada de seus pais simplesmente por ser uma estrangeira "ilegal", se será sem terra/casa, se terá de trabalhar já nos primeiros anos para sobreviver, se sofrerá violência, se será discriminada por sua etnia, identidade de gênero ou sexual, religião...; se não terá direito à uma educação de qualidade, se será vítima de violência, se dormirá pelas ruas e será vítima das drogas, se perderá seus direitos trabalhistas e não terá um salário digno, se será abandonada nos corredores dos hospitais, se morrerá prematuramente por não ter condições de receber um tratamento adequado, etc, etc…: ideologia!
Deste modo, muitos seguidores do movimento “pró-Life” parecem cometer uma verdadeira “heresia social”: a exaltação idolátrica de governos perversos que, para conquistar e manter-se no poder, simulam bondade para com o ser humano dentro do útero, mas não o suportam após o parto. Nos últimos dias, por exemplo, vimos uma enxurrada de acusações a Joe Biden, o presidente eleito dos Estados Unidos, de abortista, anti “pró-Life”… Mas, temos uma má noticia: o candidato ícone do “pró-Life” não é tão radicalmente contra o aborto como parecia ser:
Permanece uma pergunta: Se Trump defende o aborto em certas situações, e os “pró-Life” defendem Trump. O que, então, os “pró-Life” realmente defendem?
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“Pró-Life”: uma ideologia perigosa? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU