O assassinato dos jesuítas espanhóis em El Salvador era, ao mesmo tempo, um ataque à Igreja

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16 Julho 2020

A Teologia da Libertação não gostava do poder constituído.

A promotoria interrompeu a estratégia de defesa, com a testemunha perita em favor do coronel Montano, feita pelo general Ernesto Mauricio Vargas, membro de Tandona. Ele reconheceu que, em 2016, manifestou-se contra a extradição dos militares processados pelo assassinato de Ignácio Ellacuría e seus companheiros para a Espanha.

A reportagem é de Baltasar Bueno, publicada por Religión Digital, 14-07-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

O assassinato dos jesuítas espanhóis em El Salvador era, ao mesmo tempo, um ataque à Igreja. Tudo começou atacando primeiro a Igreja. No início da guerra civil em El Salvador mataram o arcebispo Romero. Esses ataques contra a Igreja começaram na década de 1970. Os jesuítas estiveram na mira de latifundiários e militares e uma forte campanha midiática, sobretudo na rádio militar Causcatlán e o jornal Hoy, insistiram em colocar os jesuítas como alvo, classificando-os como traidores. Incitava-se o ódio.

Militares e latifundiários queixavam-se de que na UCA, a Universidade à qual iam os filhos dos mais poderosos e altos oficiais por seu prestígio acadêmico, os jesuítas ensinavam a igualdade e o respeito aos mais pobres. Curiosamente na UCA e por este motivo começou o conflito com a Igreja. A Teologia da Libertação estava em plena efervescência na América Latina e também em El Salvador naqueles anos, e isso não agradava ao poder econômico, social e político do país, que não gostava da empatia com os pobres que se pregava em e desde a UCA.

Assim explicou na nova sessão do julgamento do assassinato dos jesuítas a analista estadunidense Terry Lynn Karl, professora da Universidade de Stanford, especialista em assuntos latino-americanos, que foi comissionada pelas Nações Unidas para investigar a violação de Direitos Humanos em El Salvador, e que aqui comparece como perito ao ter apresentado os relatórios realizados sobre esta causa.

A professora Karl fez ao longo de seis horas um relato minucioso e detalhado. Uma das coisas que disse é que o julgamento que estava sendo realizado na Espanha deveria ter sido realizado em El Salvador – e o qualificou como fraudulento, uma jogada, na qual apenas dois soldados foram condenados, e logo foram anistiados – e contra todos os autores intelectuais e materiais.

O brilhante trabalho realizado pela comissária da ONU tentou ser degradado pelo advogado de defesa com uma série de perguntas confusas, profusas e difusas, o que levou a sessão a um tempo tedioso, recebendo avisos constantes do Presidente do Tribunal com aviso prévio, inclusive com chamadas de ordem. O advogado do coronel Montano pediu que seu protesto fosse registrado em várias ocasiões.

Por volta das nove da noite, por videoconferência, o general reformado e deputado da Arena Ernesto Mauricio Vargas compareceu, a pedido do acusado coronel Montano. Ele fugiu muito do objeto do julgamento, o assassinato dos jesuítas, lembrou o presidente da Corte, e precisou ratificar o relatório apresentado ao Tribunal Nacional como testemunha perita, uma contra-perícia à apresentada por Karl. Às vezes, sua declaração parecia uma manifestação das Forças Armadas de El Salvador.

No filme que contou surgiam no país cinco grupos revolucionários que se dedicaram a matar e sequestrar, que, quando unidos, criaram a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, FMLN. Mais do que declarar, Mauricio Vargas deu uma palestra – estranhamente se consentiu – em sua intervenção por videoconferência direto de El Salvador. O general aposentado queria convencer a Corte, na linha da defesa que o advogado do coronel Montano assumiu, que tudo o que o Exército salvadorenho fez foi defender a ordem constitucional. Em suma, muito discurso político, nada a ver com o objetivo estrito do julgamento, que pode ou não se relacionar com o coronel Montano, o único que pode se sentar no banco dos réus pelo assassinato dos cinco jesuítas espanhóis assassinados em 1989 por militares de El Salvador na UCA.

Para o general, o assassinato do padre Ellacuría foi sim um assassinato, mas não o resultado de uma decisão político-estratégica. Os soldados de La Tandona também não eram, para ele, nada mafiosos. E que Montano também não teria participado de ofensivas contra a FMLN, e que foi nomeado vice-ministro da Segurança pelo presidente Cristiani. Ele insistiu que as Forças Armadas sempre agiram de acordo com a lei e que a FMLN queria provocar a insurreição popular.

A promotoria particular, não o advogado de defesa, perguntou-lhe sobre a opinião a respeito da perícia – o objeto da aparição – que foi apresentado em dois julgamentos contra Montano nos Estados Unidos, e reconheceu que tinha amizade com o réu. Sua contra-perícia contra a professora Karl foi questionada pelo advogado da acusação particular, que era conciso e incisivo, questionando a metodologia científica com a qual ele havia realizado sua perícia. Ele só recebeu uma carta de adesão em favor do conhecimento de Montano. A opinião de especialistas trata da constitucionalidade da lei de anistia de El Salvador, quando foi declarada inconstitucional há cinco anos.

A última informação que muito inteligentemente se extraiu do general Vargas foi a acusação específica de que ele próprio fazia parte de La Tandona, após se formar com todos os oficiais interrogados, e respondeu que sim, reconhecendo ser companheiro e amigo de Montano. Ele reconheceu que, em 2016, manifestou-se contra as extradições dos militares processados no caso em julgamento no Tribunal Nacional. A sessão terminou às dez horas da noite, com duração total de sete horas.

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